quarta-feira, 29 de junho de 2022

JERÔNIMO SAVONAROLA, O JOÃO BATISTA DA REFORMA PROTESTANTE

 


Jefferson Magno Costa
     Florença (cidade da Itália), novembro de 1491. O grande sino da Catedral de Duomo acaba de bater meia-noite. Após distender pela décima segunda vez a corda para produzir a última badalada, do alto da torre um homem põe-se a observar as sombras que chegam de várias direções e se reúnem no centro da praça ou sobre os degraus da catedral.
     São pessoas que vêm dormir ali para, no dia seguinte, garantirem um lugar no interior da grande Duomo. Celebrar-se-á casamento de nobres? Algum rei será coroado? O Papa visitará a Duomo? Não. Jerônimo Savonarola vai pregar.
     O homem que observa do alto da torre sabe que o quadro social e espiritual da Florença do tempo de Savonarola é quase o mesmo em toda a Itália: o luxo, a ostentação dos ricos em contraste com a miséria dos pobres, a iniquidade dos homens, as violações dos direitos humanos, os adultérios, a idolatria, as blasfêmias e a decadência da dominante Igreja Romana, cheia de vícios e pecados.
     Por este motivo, já há algum tempo Savonarola tornou-se no púlpito uma tocha ardente e cheia de indignação, um João Batista precursor de uma reforma religiosa que se avizinha. Alicerçado no Evangelho, prega com tanto fervor e tão cheio do Espírito, que suas palavras são como espadas nuas, destramente manejadas contra o pecado, setas de fogo lançadas ao centro dos corações corrompidos.
     E toda a Florença acorre para escutar, deslumbrada e temerosa, os sermões de Jerônimo, que em seus juízos corajosos e ferinos não livra nem mesmo os nomes do regente da cidade e do Papa, principais responsáveis pela devassidão do povo e da Igreja Romana.    
UM JOVEM APAIXONADO POR ASSUNTOS CELESTIAIS
     Jerônimo Savonarola nasceu na cidade italiana de Ferrara, no ano de 1452. Seus pais queriam que ele ocupasse o lugar de seu avô paterno, que era médico na corte do Duque de Ferrara. Porém, o estudo das obras de alguns teólogos e sobretudo a contínua leitura das Escrituras desviaram-no da Medicina e inclinaram o seu coração para os caminhos de Deus.
     Quando tinha 22 anos de idade, o desprezo dos Strozzi - uma orgulhosa família italiana que não o achou digno de desposar uma de suas filhas, e a decadência espiritual da cidade de Ferrara levaram-no a fugir para Bolonha, a pé. Nessa época seu entendimento já fora dilatado pelas verdades divinas, e ele aprendera a orar.
     Essa conversação espiritual com Deus abrandou a amargura e a desilusão de sua alma. E o Senhor suavemente se foi apossando do seu coração.
     Em Bolonha erguiam-se os altos muros do Convento de São Domingos. Ali Savonarola se apresentou, impelido pelo desejo de abraçar a vida monástica. Porém não se achava digno de ser monge, e por isso pediu que o aceitassem como um dos encarregados da limpeza do convento. Mas logo suas grandes virtudes pessoais o distinguiram.
     Como uma fonte que mansamente nasce, o desejo de continuamente estar na presença de Deus brotara no seu coração, e agora era como um grandioso e indomável rio, que livremente corre para o mar.A FORMAÇÃO INTELECTUAL E ESPIRITUAL DO FUTURO GRANDE REFORMADOR
     Savonarola era humilde, obediente e sincero. O tempo que lhe sobrava, após as várias ocupações, empregava-o no estudo, na oração e na contemplação da sublimidade do amor de Deus. Ao acordar pela manhã, elevava o seu coração em súplicas, ofertando ao Senhor as primícias do dia, e pedindo-lhe que estivesse sempre com ele.
     Os superiores do convento passaram a ver naquele rapaz um futuro grande homem da Igreja. Porém jamais imaginaram que ele entraria em luta com o próprio papa para reformar essa Igreja. Sua inteligência e sobretudo seu fervor religioso levaram esses homens a não medirem esforços para completar sua formação intelectual e religiosa.
     O moço tinha sempre o coração cheio de fé, a alma livre das paixões humanas, e o pensamento continuamente ocupado com o amor de Deus. "Senhor, não reine em minha alma outro além de ti!" - pedia ele em suas orações. O lugar onde se prostrava horas a fio em oração ficava frequentemente molhado de suas lágrimas.
     Seu admirável progresso nos estudos valeu-lhe a nomeação de professor de Filosofia, função que exerceu até a data de sua transferência para o convento de Ferrara.
     Ao chegar ali, dentro dos silenciosos muros do mosteiro de sua cidade natal, entregou-se com mais assiduidade ao jejum, à oração e ao estudo da Palavra de Deus, pois desejava alcançar o que sempre fora a mais ardente aspiração de sua mocidade: tornar-se um inflamado pregador, um arauto do Céu a anunciar, face à impiedade do povo, que se não hovesse arrependimento, o dia do castigo do Senhor estava próximo.
     Porém, suas primeiras tentativas de pregar em Ferrara resultaram em fracasso. Não acostumado a ouvir pregações que denunciassem e reprovassem abertamente os seus pecados, o povo de Ferrara não deu a menor atenção às palavras daquele moço que se propunha a ser "o chicote do Senhor". Jerônimo foi obrigado a dedicar-se inteiramente à instrução dos noviciados, repetindo para si mesmo as palavras de Jesus:
     "Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa" (Mateus 13.57).
     Todavia, os sete anos que passara no convento de Bolonha e as pregações que fizera ali haviam confirmado que Deus o usaria nos púlpitos das maiores catedrais da Itália, e seus ataques corajosos contra a corrupção do povo e da Igreja Romana preparariam em toda a Europa o caminho para a futura Reforma Protestante.
A MUDANÇA PARA FLORENÇA E SEU ÊXITO COMO PREGADOR
     Insatisfeito com a pequena repercussão que suas pregações haviam obtido entre os ouvintes que frequentavam a igreja do convento de Ferrara, Savonarola desejou ardentemente mudar-se para a mais destacada cidade do Renascimento: Florença. Ali foi muito bem recebido pelos religiosos do Convento de São Marcos.
     Naquela época, Florença cultuava a beleza da pintura, da escultura, da poesia e da oratória. Os oradores discursavam preocupados em tornar a frase pomposa, rica e elegantemente floreada.
     Além do mais, para se triunfar no púlpito ou na tribuna, era necessário possuir boa estatura física, além de bela aparência, e fazer uso de atitudes elegantes. Savonarola era a antítese de tudo isto: alto, magro, nariz grande, lábios grossos, boca imensa, atitudes desgraciosas e enérgicas.
     Porém, estas desvantagens físicas não impediram que ele se tornasse o maior pregador de sua época. O intenso brilho dos seus olhos azuis impressionava a todos os que o contemplavam. Parecia que ele estava sempre a querer olhar dentro das almas, ou a contemplar os longos rumos ocultos, os largos itinerários dos corações.
     Savonarola começou a pregar em Florença seguindo um estilo diametralmente oposto ao dos oradores da época, despertando assim a curiosidade de muitos, inicialmente para a sua maneira de usar da palavra, depois para a significação do que dizia.
     Rejeitando as burilações retóricas, numa linguagem espontânea e enérgica, pregava diante de uma assistência cada vez mais admirada do seu modo direto de ir ao assunto. Impressionava a todos o fervor de suas palavras.
     Através das pregações, Savonarola foi conquistando a cidade de Florença. No tempo em que os rijos ventos do pecado sopravam sobre as vidas conturbadas e escuras dos florentinos, sua voz fez com que a Palavra de Deus brilhasse, cada vez mais clara e resplandescente, nos corações.
     Oskar von Wertheimer observou que "suas pregações produziam um efeito indescritível, acontecendo frequentemente aos que as copiavam declararem, à margem dos manuscritos, haver-lhes o entusiasmo ou as lágrimas impedido de continuarem a escrever".O MONGE FIEL A DEUS QUE NÃO TEMIA NEM O GOVERNADOR NEM O PAPA
     Falando, certa vez, no púlpito da Catedral de Florença, Savonarola disse que em breve morreriam o Papa Inocêncio VIII e Lourenço de Médicis, e que a Itália seria invadida por Carlos VIII, da França. Essas profecias iriam ser confirmadas posteriormente, aumentando consideravelmente o seu prestígio diante do povo.
     Ao saber dessas previsões, o Governador Lourenço de Médicis, furioso, ordenou a alguns nobres de Florença que procurassem mostrar a Savonarola que suas profecias punham sua vida em perigo. O pregador escutou-os friamente, e em seguida mandou dizer a Lourenço que ele devia se arrepender dos seus pecados.
     Lourenço concluiu que não conseguiria impressionar o monge através de ameaças, e tratou de conquistar-lhe a simpatia. Savonarola era então Prior do Convento de São Marcos, e não se impressionou diante dos muitos favores que o governador subitamente passou a fazer àquela comunidade religiosa.
     Apercebendo-se da inutilidade de seus métodos, e vendo que Savonarola continuava a atacar sua vida tortuosa e desregrada, Lourenço resolveu fazer calar o grande pregador utilizando-se de sua própria arma: a oratória.
     Encarregou Frei Mariano de Gennazano, um dos maiores pegadores florentinos, de pregar alguns sermões contra o Prior do Convento de São Marcos. Foi a grande vitória da oratória sem artifícios sobre a oratória artificiosa. Savonarola impressionou o povo e venceu Frei Mariano fazendo uso de uma eloquência espontânea e simples. Tempos depois, Lourenço de Médicis mandou chamá-lo. Estava à morte. Ao vê-lo, disse o governador:
     "Mandei chamá-lo por ser o senhor o único monge honrado que conheço." Na conversa que tiveram sobre salvação, discordaram em alguns pontos, e Savonarola, depois de muito insistir, retirou-se, deixando o moribundo "a sós com Deus e com sua consciência".
     Após a morte de Lourenço, o não menos corrupto Pedro de Médicis ocupou o seu lugar. Savonarola redobrou sua campanha em prol da regeneração dos costumes. Sob os efeitos produzidos por suas pregações, ladrões e usuários procuravam regenerar-se, mulheres abandonavam o luxo exorbiante, e muitos fugiam à devassidão, almejando viver segundo os preceitos bíblicos.

ATAQUES CONTRA O CLERO E O PAPADO
     Sempre com a Santa Palavra nos lábios, o grande homem de Deus ia pregando com simplicidade, e mudando, espantosa e radicalmente, os costumes do povo italiano. Às vezes, quando queria demonstrar que também sabia pregar de maneira rebuscada como os demais pregadores, surgiam em suas pregações metáforas como esta:
     "Deixam o ouro pelo cobre, o cristal pelo vidro, as pérolas pelo barro, os que pelo barro do mundo, pelo vidro da vaidade e pelo cobre destes bens profanos e transitórios, desprezam o ouro maciço, o cristal puro e as pérolas do amor de Deus e dos bens eternos."
      Nem mesmo o clero escapou de sua sinceridade e coragem, que não conheciam limites. Savonarola atacou frontalmente os vícios dos religiosos de sua época: "Se vós soubésseis as coisas repugnantes que eu sei! - dizia ele diante da multidão que o ouvia, surpresa. E então, corajosamente, sentava a igreja dominante no banco dos réus e a julgava:
     "Vem cá, igreja infamada! Ouve o que te diz o Senhor. Dei-te formosas vestimentas, e tu exercestes com elas a idolatria. Com os vasos preciosos tens alimentado o teu orgulho, tens profanado o que antes era sagrado; a sensualidade te precipitou na vergonha. És pior que uma besta; és um monstro repugnante...Ergueste uma casa de imoralidade e te converteste, em toda parte, numa casa de perdição.
     "Tomaste assento no trono de Salomão e passaste a atrair o mundo às tuas portas. Quem tem dinheiro entra, e pode fazer tudo o que quer, porém quem não tem dinheiro mas deseja o bem, é desconsiderado e expulso."
     Esse julgamento chegou ao conhecimento do papa Alexandre VI, sucessor de Inocêncio VIII, e um dos maiores responsáveis pelas desordens e a vida pecaminosa dos padres. Já há algum tempo os sermões de Savonarola vinham incomodando o Papa, que procurou lançar mão de todos os meios possíveis para fazer o monge calar.
     Travou-se então uma luta ferrenha, que culminou na excomunhão, prisão, tortura e morte de Savonarola.
     Antes, sua sinceridade e guerra declarada à devassidão, desonestidade e hipocrisia já o haviam indisposto seriamente com alguns dos grandes senhores da Itália. Um dos casos mais sérios ocorreu durante uma de suas pregações em Bolonha, quando a mulher de Bentivoglio, um dos homens mais importantes dessa cidade, entrou na igreja provocadoramente, com o intuito de perturbar o pregador e fazê-lo perder o controle do sermão.
     Imediatamente, e sem medir consequências, Savonarola bradou do alto do púlpito:
     - Vejam aí, irmãos, eis o demônio que vem perturbar a Palavra de Deuis.
     A frase ecoou por todo o recinto como uma chicotada. Imediatamente os guardas de João Bentivoglio empunharam as espadas e investiram contra o pregador, mas foram interceptados pela maioria dos que ouviam a pregação.
     Savonarola escapou milagrosamente de morrer naquele instante. Porém, apesar dos conselhos que lhe deram para que fugisse imediatamente de Bolonha, ele permaneceu na cidade até pronunciar ali o seu último sermão, quando, no mesmo lugar onde o haviam ameaçado de morte, falou desafiadoramente:
     "Partirei esta tarde para Florença, sem outra companhia além do meu bordão de peregrino. Alojar-me-ei em Pianora. Se alguém quer ajustar contas comigo, que venha antes de minha partida. Entretanto, eu não morrerei em Bolonha, mas em outro lugar".
PASSEATA EM FAVOR DO ARREPENDIMENTO E DA PURIFICAÇÃO DO POVO
     Ele sabia que os poderosos não o deixariam viver por muito tempo. Após sua morte, a Itália seguiria o seu caminho de" corrupção e infâmias internas, mostrando, porém, ao mundo, uma face hipócrita de pureza e religiosidade. Mas ele sabia também que não poderia parar de pregar.
     Combateria o pecado até momentos antes de ser enforcado e queimado. E seu exemplo floresceria e geraria muitos frutos na Europa e do mundo.
      Não acreditando que seus auxiliares pudessem ajudá-lo a mudar radicalmente os costumes do povo, Savonarola apelou para a sinceridade das crianças, que saíam com o sacerdote pelas ruas da cidade fazendo batidas sistemáticas, surpreendendo os adultos em atitudes pecaminosas, e levando para ser queimado tudo o que conseguissem achar em matéria de enfeites, cabelos postiços, livros e quadros indecentes.
      Conta-se que as crianças abordavam as senhoras nas ruas e diziam, cheios de convicção: "Da parte de Jesus Cristo, Rei de nossa cidade, nós te ordenamos a abandonar todas essas vaidades." Savonarola as incentivava a prosseguirem com a "Reforma dos costumes".
     Sobre imensas fogueiras - as fogueiras da vaidade, como costumavam chamá-las -, obras de arte pagã, jóias reproduzindo ídolos, espelhos com figuras indecorosas, livros e toda sorte de objetos considerados pecaminosos eram amontoados e queimados.
     Quando as tropas de Carlos VIII, rei da França, invadiram a Itália, mais uma de suas profecias se cumpriu. Isso contribuiu para que a inveja e o ódio do papa Alexandre VI se acendesse contra Savonarola de maneira mais violenta que o fogo ateado sobre as "fogueiras da vaidade". Além do mais, as palavras chamejantes do gande pregador haviam continuamente atacado Roma e o "Sumo Pontífice", com a mesma energia que sempre combateram a devassidão da época:
     "O escândalo começa por Roma e corre por todo o continente. São piores que os turcos e os mouros... Os sacerdotes vão por dinheiro ao coro, às festividades e ao ofício; vendem as prebendas, vendem os sacramentos, negociam com as missas; em uma palavra: tudo fazem pelo dinheiro... Este veneno acumulou-se de tal maneira em Roma, que a França, a Alemanha e todo o mundo se contagiou; e chegou a tal ponto que é necessário prevenir-se contra Roma. Entre o povo circula uma frase que diz: '
'Se queres perder teu filho, faze dele um sacerdote!'"
 DECLARADO HEREGE PELO PAPA, E EXCOMUNGADO
     O Papa resolveu tomar providências enérgicas contra Savonarola. Primeiramente dirigiu-se ao governador de Florença, e solicitou que lhe fosse enviado a Roma o monge revolucionário.
     O governador florentino declarou que não lhe era possível cumprir semelhante pedido, "não só porque" - disse - "faríamos algo indigno de nossa República, e estariamos sendo injustos contra um homem que tem trazido tantos beneficiou à Pátria. Além do mais, ainda que quiséssemos, não poderíamos fazê-lo sem que houvesse uma revolta popular com grave perigo para muitos, tal e tão grande é o prestígio que esse frade ganhou com sua integridade".
     Mas o Papa estava disposto a lutar e fazer calar, de uma vez por todas, o "chicote do Senhor". Do púlpito, Savonarola comentou o incidente:
     "Chegou de Roma um breve (decisão papal), é verdade. Nele, chamam-me de filho da perdição. Aos que me acusarem diante de vós, queridos irmãos, respondei assim: 'Aquele a quem tu chamas deste modo diz que não possui mancebos nem concubinas, mas apenas prega o Evangelho de Jesus Cristo.
     "Seus irmãos e irmãs espirituais, e todos os que escutavam a sua doutrina, não andam buscando esses tristes deleites, mas temem a Deus e vivem honestamente'".
     O Papa anunciou então que Jerônimo Savonarola estava excomungado da Igreja Romana, e utilizou-se em seguida de um meio que se mostraria extremamente eficaz para arrancá-lo das mãos protetoras do governo florentino: ameaçou confiscar os bens de todos os florentinos residentes em Roma, e boicotar as mercadorias destinadas a Florença. Nas palavras do historiador Alexandre Vicunã:
     "O efeito foi mágico. Tanto o embaixador florentino, junto à corte papal, como os comerciantes de Florença, residentes nos Estados Pontifícios, exigiram do Governo de seu país que concordasse com a exigência do Papa e entregasse, de uma vez por todas, o monge rebelde. Por um frade não valeria a pena sacrificar o comércio da República!"
     Savonarola foi preso e entregue ao papa juntamente com seus dois fiéis companheiros, frei Silvestre e frei Domingos, também excomungados. No dia em que o prenderam, esta foi a sua oração:
     "Senhor, eu não peço tranquilidade, nem que cesse a tribulação; peço-te coragem, peço-te amor. Dá-me forças e graça para resistir à adversidade. Eu queria que teu amor triunfasse sobre a Terra. Vês que os malvados se fazem cada dia piores e mais incorrigíveis. É necessário que estendas agora a tua mão poderosa. Quanto a mim, só me restam lágrimas."
 UM GIGANTE DE DEUS EXECUTADO NA FORCA E NA FOGUEIRA
     Na maior praça da cidade de Florença, uma grande multidão aguarda um espetáculo. É noite. O povo florentino está eufórico e impaciente. Sobre uma imensa fogueira levantada no centro da praça ergue-se uma gigantesca forca. Há três laços preparados.
     Naquele local de execução, dentro de alguns instantes, o grande pregador Jerônimo Savonarola e seus dois companheiros de sonhos e lutas serão enforcados e queimados. Homens, mulheres e crianças comprimem-se para assistir à morte de um dos maiores vultos da história da Igreja.
     Alguns meses antes, aquela mesma multidão vibrava sob o domínio da palavra veemente e cheia de autoridade daquele homem alto e magro, que acabara de chegar ali. Sim. O grande pregador acaba de chegar ao centro da praça.
     Nos seus braços e rosto distinguem-se visíveis marcas de tortura. A multidão silencia por alguns instantes para melhor contemplar sua figura trôpega e sofrida. Após quarenta e cinco dias de tortura e julgamento, ele está quase irreconhecível. Haviam-no maltratado brutalmente. O seu corpo emagrecido fora queimado com ferros em brasa. Esticaram seus braços, desconjuntaram suas pernas, dilataram-lhe os músculos, partiram-lhe as veias, distenderam o seu corpo no alucinante suplício da roda.
     Os que conseguem contemplar de perto sua face pálida e arroxeada, coberta de cicatrizes que ainda sangram, sentem-se perturbados com o intenso brilho dos seus olhos. Sua serenidade impressiona. Só o fogo conseguirá apagar, de uma vez por todas, esse penetrante e sereno brilho.
     Subitamente a multidão começa a uivar e a aplaudir. Ouvem-se gritos estridentes, insultos. O povo delira! Os dois companheiros de Savonarola, frei Silvestre e frei Domingos, são obrigados a subir para o alto da fogueira. Ambos também sofreram dolorosos suplícios.
     Com movimentos enérgicos, o carrasco faz suas cabeças passarem por dentro dos laços da forca. A multidão grita furiosamente. Cercado pelos guardas, emocionado, Jerônimo Savonarola contempla seus companheiros de martírio e de jornada heróica, cujos corpos agora balançam no espaço!
     Brilhando serenamente no céu, a lua ilumina seus rostos pálidos e transfigurados. Em poucos instantes, frei Silvestre e frei Domingos estão mortos.
     Um sacerdote aproxima-se do grande pregador e diz: "Vês agora qual será o resultado de tua rebeldia?" Alongando demoradamente o olhar pela vastidão e altura do céu estrelado, Savonarola responde:
     "Muito mais sofreu Jesus por mim." E não diz mais nada. Instantes depois seu corpo é projetado no espaço. Finalmente haviam conseguido calar aquela voz que, poderosa e indignadamente, combatera o pecado.
     A grande fogueira começa a arder, envolvendo os três corpos. Seus vultos de labareda rompem-se sob o brilho da lua que erra no céu, sonâmbula, coroada de auréolas rubras. Naquela noite, aqueles três homens alcançaram a altíssima paz!
Jefferson Magno Costa

quinta-feira, 23 de junho de 2022

“JESUS NUNCA EXISTIU”, AFIRMARAM ALGUNS FILÓSOFOS

                                                     

Jefferson Magno Costa
     “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro 1.16).

     Desde que o nome cristão foi pronunciado pela primeira vez na cidade de Antioquia (Atos 11.26), o impacto de Jesus Cristo e sua Mensagem vem, ao longo dos séculos, atingindo e transformando a vida de bilhões de pessoas pertencentes a todas as camadas sociais, a ponto de incomodar reis, impérios e governos.
     Sim, Jesus, a maior personalidade da História, tem sido uma perturbadora realidade sobre a face da Terra. Desde que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade” (João 1.14), sua grandiosa influência tem mudado o rumo dos acontecimentos do mundo.
     Porém, paralelamente ao avanço da pregação do Evangelho sobre a face da Terra, um grupo de homens tem-se empenhado – desde a Antiguidade, e sobretudo a partir do final do século XVIII – em tentar apagar o nome de Cristo da História, afirmando que Ele nunca existiu.
     O curioso é que não são os historiadores mais renomados do mundo os autores da negação da existência histórica de Jesus, e sim um grupo de filósofos inimigos do Evangelho, homens diabolicamente envenenados pelo ateísmo e o materialismo, que munidos de estudos tendenciosos e indignos de confiança, tentam negar que o Filho de Deus se fez carne e habitou entre nós.
     Porém, ao contrário desses filósofos, nenhum historiador honesto e consciencioso nega o fato de que Jesus viveu realmente durante 33 anos entre aqueles homens e mulheres que ouviram a sua voz, o contemplaram, foram transformados por Ele e tornaram-se suas fiéis testemunhas.
     Conforme sustentam os seguidores dos dois homens que criaram a doutrina cristomítica – os alemães David Strauss, autor do livro Uma Nova Vida de Jesus, e Arthur Drews, autor do livro O Mito de Cristo – fora do Novo Testamento, não existe nenhuma referência histórica da época de Jesus Cristo ou de épocas imediatamente posteriores a Ele, que lhe faça referência e o confirme como um personagem da história.
     No rastro dessa diabólica teoria, o jornal Correio Brasiliense publicou, em 2 de agosto de 1983, um violento ataque contra a existência histórica de Jesus. Assinada por Ézio Flávio Bazzo, a matéria (traduzida), intitulada “Mito, história ou mentira: Cristo nunca existiu”, era a síntese de um livro publicado na Itália.
     Aliás, foi na Itália que surgiu o livro Cristo Nunca Existiu, cujo autor, Emilio Bossi, entre outros ataques à pessoa de Jesus, afirma: “O silêncio da História em volta de Cristo constitui, por irrespondível, uma prova contra a existência real e histórica do fundador do Cristianismo.”
     Na França, o filósofo Voltaire, apesar de ter confessado em um livro de cunho filosófico ser praticamente impossível o homem racional não acreditar na existência de Deus, afirmou sobre Jesus Cristo, no livro Deus e os Homens, que “Não se conserva nenhum documento romano em que conste que fizeram crucificar Jesus.”      Em outro trecho desse livro, Voltaire escreve: “Nenhum autor grego ou romano fala de Jesus.”
     No Brasil, essa maligna tentativa de jogar Jesus Cristo na galeria das figuras míticas, lendárias, irreais, foi imitada pelos escritores Jorge Brandes, autor do livro Jesus Cristo é um Mito (Biblioteca Contemporânea, Rio de Janeiro. S/d. 184 páginas), e Oscar Algarve, cujo livro Jesus de Nazaré e a Crítica Histórica (Editora Germinal. Rio de Janeiro. 1962. 245 páginas) foi escrito sob a influência do mesmo diabólico espírito que há séculos vem tentando fazer a humanidade acreditar que Jesus Cristo nunca existiu.
     Citamos os nomes e os livros desses detratores da pessoa de Cristo, com o propósito de conscientizar o leitor sobre a importância do material apologético sobre Jesus que estamos apresentando neste blog.
     Todo evangélico, todo aquele a quem o Espírito de Deus constituiu testemunha de Jesus Cristo sobre a face da Terra, deve estar preparado para, quando a situação exigir, saber apresentar as provas da existência histórica do nosso Salvador, atuando assim como verdadeiro defensor da autenticidade da nossa fé, conforme nos aconselhou o apóstolo Pedro, em 1 Pedro 3.15: “Santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, e estai sempre preparado para responder, com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.
     Como a grandiosa e, ao mesmo tempo, perturbadora e real presença de Cristo no mundo tem incomodado os homens que negam a Sua existência! Porém, conforme disse o antigo apologista Eugênio Cantera:
     “Jesus Cristo tudo enche, tudo domina, é um imã que atrai a si todas as inteligências e corações humanos. Eis aí a questão transcendental da História, a que hoje, como ontem, como sempre, agita os espíritos (...) Apesar das perseguições com que tentam lhe impedir os passos, por sobre as barreiras levantadas contra a Sua marcha triunfal, tudo Ele vence e domina, Seu nome enche os séculos, e milhões de línguas O repetem, chegando a penetrar de tal modo nas entranhas da humanidade e no fundo do coração humano, que tentar arrancá-lo hoje do mundo seria abalar os próprios alicerces da civilização.”
       Essas provas da passagem histórica de Jesus sobre a face da Terra encontram-se em fontes judaicas, gregas, romanas e sírias. Aqueles que negam a existência de Jesus passarão a se posicionar de modo diferente diante do assunto se considerarem atentamente a importância e a autenticidade desses documentos. 
Jefferson Magno Costa

terça-feira, 26 de abril de 2022

OS PRIMEIROS GRANDES TEÓLOGOS DO CRISTIANISMO DÃO SEU TESTEMUNHO SOBRE SUA FÉ NA EXISTÊNCIA DE DEUS

 


Jefferson Magno Costa

Se quiséssemos enumerar todos os teólogos que dedicaram seu tempo e sua vida na busca de um conhecimento maior acerca de Deus, seria necessário escrevermos vários livros. Na verdade, cada teólogo tem sido um filósofo a serviço do pensa­mento cristão. Imaginemos uma reunião desses homens, onde cada um deles expusesse suas descobertas acerca de Deus. O que ouviríamos? Para reproduzirmos a voz de alguns desses mais antigos teólogos, cujas palavras acerca do Criador foram proferidas dezenas e centenas de anos após a morte do apóstolo Paulo, tomaremos como base alguns dos livros escritos por eles, especialmente a excelente História da Filosofia Cristã, escrita por Philotheus Boehner e Etienne Gilson, que reúne excelentes estudos sobre esses teólogos.

CLEMENTE DE ALEXANDRIA

O mais antigo desses teólogos é Clemente de Alexandria (150-217 d.C), nascido em Atenas, filho de pais gentios, e conver­tido ao cristianismo ainda jovem. Ele ensinava que "é impossível qualquer conhecimento sem a fé. Esta é o fundamento da verda­de". Clemente insistia muito com os cristãos de sua época para que eles se empenhassem, através da busca constante do conhecimen­to, em fortalecer cada vez mais a fé. "A medida em que vamos crescendo na graça, devemos empenhar-nos em obter um conhe­cimento sempre mais perfeito de Deus". Sua contribuição a esse conhecimento está resumida nestas palavras:
"Não sabemos o que Deus é; podemos saber, contudo, o que ele não é. É impossível conhecê-lo por meio de argu­mentos baseados em princípios inferiores a ele; pois Deus não tem causa, senão que, ao contrário, ele próprio é a razão e a causa de todas as outras coisas. Não foi sem razão que Paulo pregou, em Atenas, o 'Deus desconhecido', pois a sua essência permanece incognoscível (não pode ser conhecida) à razão natural". (Philoteus Boehner e Etienne Gilson: História da Filosofia Cristã. Tradução de Raimundo Viera. 3a. edição. Petrópolis, Vozes, 1985, p. 44)
ORÍGENES
Filho de Leônidas, que morreu como um dos mártires do Cristianismo, Orígenes nasceu no Egito no ano 185. Foi um dos maiores teólogos da Igreja Primitiva, tão apaixonado pelo estudo e divulgação da teologia, que chegou a castrar-se, num excesso de zelo pela utilização de todo o seu tempo nesses estudos.
Para Orígenes era impossível existir vários deuses, pois a harmonia do universo é a grande prova de que só um Arquiteto todo-poderoso poderia criá-la e mantê-la. "E impossível que a unidade e a ordem cósmicas se originem de uma multidão de espíritos, ou dos supostos deuses das esferas". Ele insistia também em mostrar que "Deus é inacessível a todo entendi­mento humano", havendo, porém, um meio de o homem natural obter provas de sua existência: através da observação do uni­verso e das criaturas. Eis como, resumidamente, Orígenes conceitua Deus:
"Deus é Espírito, mas está ainda mais além do espírito; é o Pai da Verdade, mas é mais que a verdade, e maior do que ela; é o Pai da sabedoria, mas é melhor que a sabedo­ria. Deus é Vida, mas é maior que a vida. Deus é ser, mas está além do ser."
GREGÓRIO NAZIANZENO
Nasceu no ano 330, próximo à cidade de Nazianzo. Assim como Orígenes, Gregório também afirmou que a Criação é a maior testemunha da existência de um Criador. Seu pensa­mento pode ser resumido nos seguintes termos:
"Um simples olhar para a Criação nos convencerá de que não é nela mesma, e sim em algo transcendente que devemos buscar-lhe a razão de ser. Quem é o autor desta ordem determinada e concreta que reina nos corpos celes­tes e terrestres, bem como em todos os seres que povoam os ares e as águas? O acaso? Não. E Deus!"
AGOSTINHO E SUA GRANDIOSA BUSCA DE DEUS
Enfoquemos agora o pensamento do maior teólogo da Igreja Primitiva. Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na Numídia, país da África, em 354. Foi um dos maiores gênios da teologia e filosofia cristãs de todos os tempos. Sua herança literária compõe-se de 1.030 obras, entre tratados, sermões e cartas. O conceito fundamental da existência de Deus pareceu a Agosti­nho tão fácil e evidente, que o ateísmo deveria ser considerado loucura de poucas pessoas, devido mais à corrupção do coração do que a uma verdadeira convicção do espírito.
Logo após sua conversão ao cristianismo, Agostinho decla­rou que estava decidido a pesquisar com todo o empenho os mistérios de Deus: "Estou decidido a possuir a Verdade não só pela fé, senão também pela inteligência." Lendo e meditando profundamente as Escrituras Sagradas, Agostinho teceu ri­quíssimos comentários sobre as dificuldades que o espírito humano encontra em sua marcha até Deus.
Comentou o grande teólogo que em nosso estado presente, nossos olhos físicos não estão organizados para contemplar o sol visível, porém só para olhar o mundo sob a luz desse sol. Os olhos não suportarão olhar a fonte da luz e sim os objetos iluminados pelos raios dessa fonte. Este fato está cheio de uma profunda significação. Ocorre o mesmo com a nossa alma.
No estado natural do homem, nesse estado em que nascemos, nossa alma não é capaz de ver a Deus tal qual ele é pessoal­mente, mas é capaz de contemplar a luz que ele lança sobre a alma e sobre o Universo. Para ver a Deus é necessário, portan­to, uma mudança de natureza. Baseando seus argumentos no capítulo três do Evangelho de João, Agostinho mostra que esse nascer de novo — condição indispensável para se ver a Deus — o homem não pode dar-se a si mesmo; só Deus que o criou.
"Como conhecer a Deus?" — pergunta Agostinho. "Qual é o itinerário da razão desde a cegueira e a ignorância em que nascemos, até a visão de Deus? Embora caído, o ser humano não está definitivamente separado da fonte eterna. Deus abriu-lhe uma porta de regresso a ele mesmo: Jesus Cristo. Todos, consciente ou inconscientemente, buscam esse reencontro com Deus."
No seu livro Confissões, Agostinho relata sua própria expe­riência, quando ele ardentemente buscava ter um encontro com o seu Criador: "Será possível, Senhor meu Deus, que se oculte em mim alguma coisa que vos possa conter?", — perguntava ele, tateando nas trevas. Para Agostinho, o mundo visível era um degrau, um ponto de apoio que o ajudava a elevar-se mais:
"Subirei mais alto ainda que essa força existente em mim, e a tomarei como um degrau para subir Àquele que me criou. Vejamos até onde pode ir a razão elevando-se do visível ao invisível, do passageiro ao eterno. Não contemplarei em vão toda essa beleza do céu, o curso regular dos astros... Não os contemplarei para excitar uma inútil curiosidade, senão que me servirei deles como de degraus para elevar-me ao Imortal, ao Imutável."
Para Agostinho, as maravilhas na terra e nos céus realmen­te testemunhavam a glória e a existência de Deus, e eram como uma escada que o fazia subir ao reconhecimento da existência do Criador.
As palavras com que esse grande pesquisador dos mistérios de Deus registrou o esforço de sua busca são dignas de ser integralmente reproduzidas aqui:
"Quando eu busco a meu Deus, não busco forma de corpo, nem formosura transitória, nem brancura de luz, nem melodia de canto, nem perfume de flores, nem unguentos aromáticos, nem mel, nem maná deleitável ao paladar, nem outra coisa que possa ser tocada ou abraçada; nada disso busco, quando busco a meu Deus. Porém, acima de tudo isto, quando busco a meu Deus, busco uma luz sobre toda luz, que os olhos não veem, e uma voz sobre toda voz, que os ouvidos não ouvem, e um perfume sobre todo perfume, que o nariz não sente, e uma doçura sobre toda doçura, que o paladar não conhece, e um abraço sobre todos os abraços, que o tato não alcança, porque esta luz resplandece onde não há lugar, e esta voz soa onde o ar não a leva, e este perfume é sentido onde o vento não derrama, e este sabor deleita onde não há paladar, e este abraço é recebido onde nunca será desfeito."
ANSELMO: É IMPOSSIVEL PENSARMOS EM ALGUÉM MAIOR QUE DEUS
Anselmo de Cantuária (1033-1109) é, depois de Agostinho, o teólogo que mais conseguiu acrescentar algo de considerável ao conhecimento que os demais teólogos, através de suas me­ditações, tinham conseguido sobre Deus. Anselmo era italiano. Como teólogo e filósofo cristão, ele tornou-se famoso ao escrever dois livros: o Monológio e o Proslógio, onde tenta demonstrar a existência de Deus sem recorrer à autoridade das Sagradas Escrituras, com o intuito de provar que existem também evi­dências extra-bíblicas da existência do Criador.
E no Proslógio que Anselmo chega à seguinte conclusão:
"Tenho dentro de mim a idéia de um Ser tal que não se pode imaginar nada maior, isto é, um Ser infinito; logo, esse Ser existe, pois eu o vejo em certo sentido, desde o momento em que penso nele. O que está na realidade, além de estar no pensamento, é mais perfeito que o que só está no pensamento: portanto, Deus é real, porque se não existisse, não seria tal que não se pode pensar em outro maior."
Esta famosa prova da existência de Deus passou a ser conhecida como argumento ontológico.
TOMÁS DE AQUINO: A FÉ E A RAZÃO  — DOIS CAMINHOS PARA DEUS
Neste admirável concerto de vozes ilustres que nos ensinam que é possível obterem-se provas da existência de Deus através da razão, destaca-se Tomás de Aquino. O que disse sobre a existência de Deus esse teólogo italiano, nascido em 1225, é digno de ser conhecido por todos nós, apologistas do cristianis­mo.
Aquino afirmou que os meios de se conhecer a Deus são dados aos seres humanos em todos os lugares e sempre, em nós e fora de nós. Em nós, o próprio Deus nos ilumina através da fé; fora de nós, ele nos ilumina também, dando-nos um livro que é sua obra, o mundo. Por que os homens não lêem esse livro? Seus pecados os impedem; este é o obstáculo real, diz Aquino. O homem é um ser pensante; através de sua capacidade de raciocinar (que nos distingue dos animais irracionais), através da simples observação da natureza, ele se depara com provas da existência de Deus. Portanto, tanto a fé como a razão conduzem o homem ao reconhecimento da existência do Cria­dor. Porém, "os olhos da alma, enfermos pelo pecado, não podem fixar essa Luz sublime se não forem purificados pela justiça da fé".
Usando a luz como ilustração para exemplificar como a razão e a fé conduzem o ser humano ao conhecimento da existência de Deus, Aquino diz que durante nossa viagem terrestre, a luz do sol brilha sobre nós de duas maneiras: Algumas vezes, como uma débil claridade: é a luz da nossa inteligência natural; é uma partícula da luz eterna, porém distanciada, defeituosa, comparável a uma sombra com um pouco de luz. Outras vezes a luz brilha em um grau mais alto, com uma claridade mais abundante, e nos põe como que em presença do próprio sol. Nessa ocasião nosso olhar estará deslumbrado, porque contempla o que está acima de nós, acima dos sentidos humanos — essa é a luz da fé.
Comentando 1 Coríntios 13.12: "Porque agora vemos em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conhe­ço em parte, então conhecerei como sou conhecido" (ARA), Aquino diz que para o homem natural, a criação inteira é um espelho. "A ordem, a beleza, a grandeza que Deus espalhou sobre suas obras nos fazem conhecer sua sabedoria, sua verda­de e sua divina infinitude. Esse é o conhecimento que se tem chamado visão em um espelho." O que é, portanto, a visão face a face? Aquino responde:
"Quando vemos em um espelho, não vemos a própria coisa, senão sua imagem. Mas quando vemos face a face, vemos a própria coisa tal como ela é. Quando o apóstolo diz que na Pátria veremos a Deus face a face, quer dizer que veremos a essência de Deus. Do mesmo modo como Deus conhece a minha essência, conhecerei também a Deus em sua essência."
Poderíamos citar aqui a frase de Platão a respeito da seme­lhança de conclusões a que chegaram os maiores filósofos sobre Deus: "Todos eles têm a mesma linguagem". O mesmo ocorre com os teólogos antigos e modernos: eles depositaram suas vidas e inteligências aos pés daquele a quem deviam tudo — Deus. Veremos, a seguir, que não só filósofos e teólogos fazem parte desse coral de vozes ilustres que proclamam a existência de Deus: os cientistas também deixaram os seus testemunhos.
Jefferson Magno Costa



domingo, 24 de abril de 2022

GRANDIOSIDADE E RIQUEZA DA BÍBLIA

 SEGUNDO TRÊS PAIS DA IGREJA: CRISÓSTOMO, AGOSTINHO E JERÔNIMO


João Crisóstomo (349-407; seu nome significa “boca de ouro”, devido à sua vulcânica eloquência), foi pastor da Igreja do Senhor em Antioquia, a mesma Antioquia citada 17 vezes em Atos dos Apóstolos, e onde “foram os discípulos, pela primeria vez, chamados cristãos” (At 11.26). Esse inspiradíssimo pastor disse que nas Sagradas Escrituras, mesmo em uma pequenina sílaba, há uma grande riqueza de significados, pois na Palavra de Deus estão ocultos tesouros divinos.
Crisóstomo comentou também que a Bíblia é semelhante a uma caudalosa fonte de águas cristalinas, que está sempre jorrando riquezas e mais riquezas. É tanta a sua abundância, que aqueles que nos antecederam tiraram muitíssima água dela, e os que vierem depois de nós, também tirarão muito proveito dessa fonte inesgotável.
     Eis como o grande pregador concluiu o seu comentário: “É conveniente que os que lerem as Sagradas Escrituras não passem por suas páginas apressadamente, porque nelas está escondida muita riqueza de significados. E a razão disso é por que elas foram ditadas pelo Espírito Santo. Consequentemente, não há nelas nem uma sílaba nem um ponto sequer nos quais não esteja oculto um grande tesouro”.
     O inspiradíssimo pregador e magistral teólogo Aurélio Agostinho (354-430), que pastoreou um privilegiado rebanho em Hipona (atual Annaba, na Argélia) também fez inúmeros comentários acerca das riquezas contidas nas Sagradas Escrituras. Disse Agostinho que a Palavra de Deus é o terreno sólido e fértil que Deus nos deu para cultivarmos, e sobre o qual devemos edificar o edifício da nossa pregação. Porém, é necessário cavarmos muito fundo até encontrarmos a rocha, que é Cristo.
Agostinho afirmou também que em tudo quanto há de rico, edificante e eloquente nas Escrituras ressoa o nome de Jesus Cristo. Porém, é necessário que haja olhos e orelhas ungidos para ver e ouvir esse eco maravilhoso do Nome que está sobre todo nome. Ele costumava dizer que lera a Bíblia dezenas de vezes, e em todas as suas páginas só encontrava Jesus.
     Jerônimo (347-420), grande comentarista e tradutor da Bíblia, tinha uma reverência tão grande pelas Sagradas Escrituras, que dizia que todo tradutor ou comentarista deveria respeitar até a ordem, a sequência na qual os escritores da Palavra de Deus haviam colado as palavras do texto sagrado, “porque até na ordem segundo a qual as palavras da Bíblia foram colocadas para formar as frases, há mistérios”.)
Jerônimo ensinava que as Sagradas Escrituras não podiam ser entendidas sem que o intérprete manifestasse a Jesus Cristo, que nelas está oculto. Segundo ele, os judeus não entendiam as Escrituras porque não conseguiam ver nelas a Jesus Cristo, que é a cabeça e a coluna vertebral da Palavra de Deus. Na visão de Jerônimo, as Escrituras sagradas estão grávidas de altos e soberanos mistérios de Deus.
Jefferson Magno Costa

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