segunda-feira, 6 de setembro de 2010

LONGANIMIDADE: DEUS TEM UMA MEDIDA DE TOLERÂNCIA PARA CADA PECADOR

Jefferson Magno Costa
     Na mente divina existe certa medida de tolerância para com os pecados de cada um. E enquanto essa medida não está cheia, há esperança de perdão dos pecados e de salvação para o pecador. Mas quando essa medida se enche, não há mais nenhuma esperança.
    Deus prometeu a Abraão que daria a ele e a seus descendentes a terra dos amorreus, e por isso a chamou de terra da Promissão. Porém, o Senhor disse a Abraão que aquela promessa só iria se cumprir muitos anos depois. E por quê? É o próprio Senhor quem revela o motivo: “...porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia” (Gn 15.16).
     A longanimidade do Senhor para com aquele povo, sua paciência em esperar que os amorreus se arrependessem e mudassem de atitude, ainda não tinha chegado ao seu limite. Esse foi, portanto, o motivo porque os patriarcas e seus descendentes peregrinaram durante tantos anos pelo deserto, até poderem se estabelecer às margens do rio Jordão: porque a medida dos pecados dos amorreus ainda não havia transbordado.
    Essa foi também a mesma observação que o Senhor Jesus fez aos escribas e fariseus, quando disse que eles, conduzindo-se como sepulcros caiados, cheios de hipocrisia e iniquidade, estavam enchendo a medida de pecados que vinha sendo preenchida pelos pais deles (Mt 23.27-33).
     No profeta Zacarias temos uma ilustração dessa medida da longanimidade de Deus. Um anjo apareceu ao profeta, e disse-lhe que levantasse os olhos e visse o que saía pelas portas de Jerusalém. Zacarias olhou e viu que saía um cesto quadrado (um efa), usado para medir cereais, e após o cesto uma tampa de chumbo, pesando um talento (45 quilos). Havia uma mulher sentada dentro do cesto. O anjo identificou-a como a própria impiedade, derrubou-a dentro do cesto e fechou-o imediatamente com a tampa de chumbo. Em seguida Zacarias viu saírem de dentro da cidade duas mulheres, que tinham asas como de cegonha. Elas ergueram o cesto do chão e o levaram para Sinar (Babilônia), pois ali estava sendo edificada uma casa para o cesto (Zc 5.5-11).
     Até aqui, palavra por palavra, letra por letra, a visão de Zacarias, na qual o Senhor lhe representou a destruição de Jerusalém e do reino de Judá. A cidade seria sitiada pelos exércitos de Nabucodonosor, e os judeus, derrotados e cativos, seriam levados para a Babilônia. E por que o Senhor usou todos esses aparatos e símbolos para representar aquele cativeiro? Para ensinar ao profeta e a todos nós como ele, em sua longanimidade, procede com relação aos pecados que as nações, os povos e as pessoas cometem.
     Na visão de Zacarias, a primeira coisa que aparece do juízo de Deus é o cesto, ou a medida da longanimidade que o Senhor tem para com os pecados das nações e das pessoas. Enquanto essa medida não está cheia, o castigo é mantido suspenso pela misericórdia de Deus. O Senhor espera sempre que o pecador se arrependa, pois ele não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33.11). Porém, a partir do momento em que essa medida se completa, o castigo divino desaba sobre o pecador.
     E esse é o significado do que fez o anjo com a mulher chamada Impiedade: trancou-a dentro do cesto, pois ela representava todas as idolatrias, sacrilégios, roubos, homicídios, adultérios, todas as injustiças e crueldades que Israel estava praticando diante de Deus. A medida transbordou, e por isso o anjo lacrou-a imediatamente com tampa de chumbo, tão pesada que nem para diminuir, nem para aumentar o conteúdo do cesto, era possível abri-la. Estando a medida cheia, agora só restava a execução do castigo.
     E quem eram aquelas duas mulheres com asas de cegonha, que sem tocar a terra, mas deslocando-se velozmente pelo ar, levaram o cesto de Jerusalém para Babilônia? Representavam a misericórdia e a justiça divinas. A misericórdia que suspendera o castigo do Senhor até o limite máximo de sua longanimidade; e a justiça, que voava agora para a executar o castigo. Se os homens se arrependessem da multidão dos seus pecados, a misericórdia os perdoaria. Porém, por eles não se arrependerem e encherem de pecados a medida da longanimidade de Deus, a justiça não pode deixar de executar o castigo. Deus é misericórdia, mas também é justiça.
     Assim como a longanimidade de Deus tem estabelecido certa medida para os pecados de cada cidade, reino ou país, assim também tem estabelecido uma medida para os pecados de cada ser humano. Porém, essa segunda medida deve ser mais temida que a primeira, porque as cidades, os reinos e os países não vão para o inferno, mas os seres humanos vão.
     Outro detalhe que devemos levar em conta é que a medida dos pecados é maior para uns, e menor para outros. E nisto não há injustiça alguma no arbítrio da Providência Divina. É suma justiça. Senão, vejamos: Deus também põe medida aos dias da vida de cada pessoa. Sobre isto, Davi fez um pedido a Deus: “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta o quanto sou frágil” (Sl 39.4).
     E esta medida é tão certa e determinada, que chegado o último dia, não há como fugir dele, conforme comentou Jó: “O homem, nascido de mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação. Sai como a flor e se seca; foge também como a sombra, e não permanece (...) Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e não passará além deles” (Jó 14.1,2,5).
    Pois assim como ninguém se queixa de Deus nem estranha que a medida dos dias de uns e de outros seja tão desigual, muito menos deve estranhar que a medida dos pecados seja desigual também. Às vezes basta a uma pessoa um só pecado para ter Deus justíssimo direito de encerrar sua vida e castigá-lo. E a razão fundamental é o supremo domínio de Deus, que é igualmente autor da graça e da vida. E assim como na condição de autor da vida pode limitá-la em certo número de dias, da mesma forma como autor da graça, pode limitar o perdão a certo número de pecados.
     Donde se conclui que, assim como aquele dia que preencherá a medida dos teus dias será o último, e chegado a ele não poderás deixar de morrer, assim também aquele pecado que encherá o número dos teus pecados (caso não te arrependas e mudes tua maneira de viver), também será o último. E assim que o cometeres, não poderás deixar de ser condenado, porque a medida da longanimidade de Deus se encheu, e não haverá mais lugar para o perdão.
     Ouçamos o que o próprio Senhor disse pela boca do profeta Amós: “Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Judá e por quatro, não retirarei o castigo, porque rejeitaram a lei do Senhor e não guardaram os seus estatutos; antes, se deixaram enganar por suas próprias mentiras, após as quais andaram seus pais. Por isso, porei fogo a Judá, e ele consumirá os palácios de Jerusalém. Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Israel e por quatro, não retirarei o castigo, porque vendem o justo por dinheiro e o necessitado por um par de sapatos” (Am 2.4-6).
     Quer dizer: cometeram o primeiro pecado e perdoei-lhes; cometeram o segundo, e perdoei-lhes; cometeram o terceiro, e também lhes perdoei. Mas porque cometeram o quarto, não hei de lhes perdoar. Pois Deus, sendo infinitamente misericordioso, não perdoa mais que três pecados? Sim, perdoa. Perdoa trezentos, e perdoa três mil, e se o pecador se arrepender de todo coração, perdoa três milhões. Porém, nessas sentenças põe-se o número certo pelo incerto, para que o pecador não se torne contumaz e confiado.
    Reduzida, pois, a medida ou o número de pecados a quatro, Deus diz que perdoará o primeiro, e perdoará o segundo, e perdoará o terceiro, e que para perdoar esses três pecados, levará nos três casos o pecador ao perdão. Porém, se ele cometer o quarto, não haverá perdão; porque o quarto pecado nesse caso é o que encherá a medida, e o pecado que enche a medida é pecado que não será alcançado pela misericórdia, é pecado sem perdão. Porque nesse último, nem Deus o há de perdoar, nem o pecador há de se arrepender e se converter.
     Aqui podemos entender um ponto dificultosíssimo de 1Jo 5.16, que diz: “Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore.” A dificuldade de interpretação desse versículo é tão grande, que os expositores e teólogos, no esforço de comentá-lo, dividem-se em mais de quinze opiniões, não concordando sobre a que pecado o evangelista João chama de “pecado para morte”, pelo qual não devemos orar, por ser irremissível e sem perdão.
     Alguns dizem que é o pecado do homicídio, outros do adultério, outros o da inveja. Outros acham que é o pecado da blasfêmia, outros o da infidelidade, outros o da apostasia, outros o da obstinação, e outros, sem o nomearem, dizem que é um pecado gravíssimo.
     Porém, contra todas essas opiniões existe o fato de que não há pecado, por grave ou gravíssimo que seja, que Deus não perdoe. Portanto, que pecado seria esse, irremissível e sem perdão, peado que João classifica de “para morte?” Não é nenhum pecado particular, nem por sua natureza mais grave que os outros, senão qualquer pecado, ainda que de muita inferior malícia que os referidos até agora, contanto que seja o último, e o que acabará de encher a medida que Deus estabeleceu para cada ser humano. Porque a partir do momento em que essa medida se encher com qualquer pecado que seja, já não heverá lugar para o perdão. E esse será o pecado que João chama de “para morte”, e morte eterna.
     O que Deus faz no momento em que o pecador acabou de encher a medida dos seus pecados, ou é matá-lo, ou afastar-se dele para sempre. A primeira situação aconteceu com o rei Belsazar, cuja sentença de morte apareceu escrita em três palavras (uma delas repetida) na parede do seu palácio, estando ele à mesa (Dn 5.1-30). A primeira palavra foi Mene: “Contou”. Porque Deus fez a conta dos pecados de Balsazar. E como naquela noite e naquela hora ele cometeu o último pecado, e esse acabou de encher a medida que estava estabelecida para ele, e até o último não houve arrependimento de sua parte, a longanimidade de Deus se esgotou, e sua sentença de morte foi escrita na parede.
     Quando Belsazar sentou-se à mesa naquela noite para se embriagar usando e profanando os vasos sagrados que ele havia mandado trazer do Templo, tinha menos um só pecado dos que eram necessários para encher a medida de tolerância e misericórdia de Deus, que estava estabelecida para ele. Uma vez cometido aquele pecado, a medida de iniquidade transbordou, e soou para aquele rei sua sentença de morte física, espiritual e eterna. Belsazar morreu naquela mesma noite.
     (Trechos do Sermão do Quarto Sábado da Quaresma, pregado na Bahia, em 1640, pelo maior pregador da língua portuguesa, Antônio Vieira, na ocasião, com 32 anos de idade. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa

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