quinta-feira, 29 de julho de 2010

TEMPO: TUDO PASSA NESTA VIDA, E NÓS TAMBÉM PASSAREMOS

Jefferson Magno Costa

    “Passará o céu e a terra, mas o que dizem as minhas palavras não passará” (Lc 21.33).
    Tudo passa, e nada passa. Tudo passa para a vida, e nada passa para a conta de Deus.


PASSOU A VIDA PARADISÍACA NO JARDIM DO ÉDEN


    (...) Consideremos o mundo desde seus princípios, e o veremos sempre, como figura de teatro, aparecendo e desaparecendo, porque sempre está passando. A primeira cena deste teatro foi o Paraíso terrenal, no qual apareceu o primeiro casal vestido de imortalidade e cercado de delícias. Mas quanto durou esta aparência? Estendeu Eva o braço na direção do fruto proibido, e no brevíssimo espaço de tempo em que o pedaço fatal do fruto passou pela garganta do ser humano, passou também com ele o mundo do estado da inocência ao da culpa, da imortalidade à morte, da pátria ao exílio, das flores aos espinhos, do descanso ao trabalho, e da felicidade extrema ao extremo da infelicidade e miséria.

PASSARAM OS HOMENS DE QUASE MIL ANOS DE IDADE
      As vidas naquele princípio costumavam ser de setecentos, de oitocentos, de novecentos, e de quase mil anos. E que pena que essa longevidade tenha cessado! Naqueles tempos viver muitos séculos era natural; hoje, chegar não a um século, mas perto dele, é milagre.

PASSARAM OS GIGANTES
    Os homens viveram durante vários séculos até Noé, mas também passaram. Aquelas pessoas não só alcançavam vários séculos de vida, mas também grande estatura. Dos filhos de Deus, que eram os descendentes de Seth, e das filhas dos homens, que eram as descendentes de Caim, nasceram os gigantes. E na história das batalhas de Davi, temos o registro de outros quatro, ainda que de muito menor estatura. Mas, enfim, acabou a era dos gigantes, por que tudo nesta vida, e mais depressa o que é grande, acaba e passa.

PASSARAM OS QUATRO MAIORES IMPÉRIOS DO MUNDO
    Após os homens ser diminuídos nos corpos e nas idades, e quando tinham a morte mais perto da vista (quem diria!), então cresceram mais na ambição e na soberba. E sendo todos por natureza iguais e livres, houve alguns que tiveram a ideia de se tornar senhores dos outros através da violência, e o conseguiram. O primeiro homem que se atreveu a por coroa na cabeça foi Nimrod, que também com o nome de Nino, ou Belo, deu princípio aos quatro impérios, ou monarquias do mundo. O primeiro foi o dos assírios e caldeus; e onde está o império caldaico? O segundo foi o dos persas; e onde está o império persa? O terceiro foi o dos gregos; e onde está o império grego? O quarto e maior de todos foi o dos romanos; e onde está o império romano? Se alguma coisa permanece deste, é só o nome: todos passaram, porque tudo passa.
    Em três famosas visões representou Deus estes mesmos impérios a um rei e a dois profetas. A primeira visão foi a Nabucodonosor na estátua de quatro metais (Dn 2.31,32); a segunda a Zacarias em quatro carroças de cavalos de diferentes cores (Zc 6.1-5); a terceira a Daniel em um conflito dos quatro ventos principais, que no meio do mar travavam batalha (Dn 7.2). Pois se todas essas visões vinham da parte de Deus, e todas representavam os mesmos impérios, por que a sabedoria divina variou tanto as figuras, e sobre a primeira da estátua tão clara e inteligível, acrescentou outras duas tão diferentes em tudo? Porque a estátua, na dureza dos metais de que era composta, e no próprio nome de estátua, parece que representava estabilidade e firmeza. E porque nenhum daqueles impérios havia de perseverar firme e estável, mas todos haviam de mudar sucessivamente, e ir passando de umas nações a outras, por isso Deus os tornou a representar na variedade das carroças, na inconstância das rodas, e na carreira e velocidade dos cavalos.
    Mas não parou aqui a energia da representação. A estátua estava em pé, e as carroças podiam estar paradas. E porque aqueles impérios, correndo no tempo precipitadamente mais do que cavalos à rédea solta, não haviam de parar nem por um só momento, e sempre haviam de ir mudando e passando; por isso, finalmente, Deus os representou na coisa mais inquieta, mutável e instável, que são os ventos, e muito mais quando embravecidos e furiosos (Dn 7.2).

PASSARAM OS GRANDES REIS
    Enquanto passaram esses quatro impérios, que foi a terceira, quarta, quinta e sexta idade do mundo, entrando também pela sétima, quem seria capaz de dizer por quantas mudanças passou o próprio mundo? Quando o primeiro império começou, então começou também a idolatria, justo castigo do Céu, pois os homens que se fizeram adorar, chegaram eles também a adorar paus e pedras. Porém os reis que tinham sido os idólatras, foram eles mesmos canonizados depois pela adulação e a lisonja, e ou ainda vivos ou depois de mortos, tornaram-se ídolos. Assim surgiu Saturno, assim Júpiter, assim Mercúrio, assim Apolo, assim Marte, assim Vênus, assim Diana; e ainda que todos estes tenham deixado os seus nomes gravados nas estrelas, elas permanecem, mas eles passaram. Passaram os ídolos, e também passaram os oráculos com que nele respondia o pai da mentira, porque ao som da verdade do Evangelho, todos emudeceram.
PASSARAM OS GRANDES EXÉRCITOS E OS GRANDES COMBATENTES


    Então começaram as guerras. O que direi dos exércitos inumeráveis, das batalhas campais e marítimas, das vitórias e triunfos de umas nações, e da derrota, ruína e servidão de outras, de maneira variada e alternada sempre? Só posso dizer que a glória e a alegria dos vencedores, assim como a dor e a afronta dos vencidos, tudo passou, porque tudo passa.
    O exército de Xerxes, que foi o maior que o mundo já viu na antiguidade, constava de cinco mil navios e cinco milhões de combatentes. E por esses soldados terem unido, ao atravessarem o mar na altura do Helesponto, uma ponta do continente à outra ponta, e cavado e tornado navegável o monte Ato, o orador romano Marco Túlio Cícero disse que esse exército caminhava pelos mares a pé, e navegava os montes.
    Mas todo aquele imenso e formidável aparato de guerra, que ao ser visto fez tremer a terra e o mar, tão rapidamente passou e desapareceu ao ser desbaratado e vencido, que dele só restou essa curiosa frase de Cícero. O próprio Temístocles, que com muito desigual poder o desfez e o pôs em fuga, também passou, como na Grécia e fora dela passaram todos os famosos capitães e suas vitórias. Passou Pirro, passou Mitridates, passou Filipe da Macedônia; passaram Heitor e Aquiles, passaram Aníbal e Cipião, passaram Pompeu e Júlio César, passou o grande Alexandre, nome singular e sem igual, e até Hércules, ou sendo um, ou muitos, todos passaram, porque tudo passa.

PASSARAM OS GRANDES HOMENS DAS CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES
    As Letras costumam ser citadas após as Armas. Em diversas partes no tempo desses impérios, floresceram variadamente todas as ciências e artes. Floresceu a filosofia, floresceu a matemática, floresceu a teologia, floresceu a astronomia, floresceu a medicina, floresceu a música, floresceu a oratória, floresceu a poética, floresceu a história, floresceu a arquitetura, floresceu a escultura. Mas assim como as flores murcham e secam, assim passaram os autores mais celebrados das letras, ciências e artes.
    Na escultura passou Fídias e Lisipo; na pintura passou Timantes e Apeles; na arquitetura passou Meliagenes e Demócrates; na música passou Orfeu e Anfião; na história, Tucídides e Lívio; na eloquência, Demóstenes e Cícero; na poética, Homero e Virgílio; na astronomia, Anaxágoras e Ptolomeu; na medicina, Esculápio e Hipócrates; na matemática, Euclides e Arquimedes; na filosofia, Platão e Aristóteles; na teologia, Agostinho e Tomás de Aquino. E junto com todas as ciências passaram os sete sábios da Grécia, porque ou junto, ou dividido, tudo passa. Só a ética e a moral, como tão necessárias à vida e à virtude, parece que não haviam de passar; mas os platônicos, os peripatéticos, os epicureus, os cínicos, os pitagóricos, os estóicos, os acadêmicos, eles e suas escolas, todos passaram.

PASSARAM OS CATIVEIROS DO POVO JUDEU
    (...) A república hebraica nasceu no cativeiro do Egito; e quem a observasse atentamente podia facilmente prever os três cativeiros pelos quais a nação de Israel foi arrancada da pátria. Primeiramente foi levada cativa por Salmanasar, quando então viveu entre os assírios; outra vez foi levada ao cativeiro por Nabucodonosor, e viveu desterrada entre os babilônios; e a terceira e última vez caiu cativa sob o comando de Tito e Vespasiano, e desta vez tornou-se desterrada entre todas as terras e nações do mundo.

PASSARAM OS PATRIARCAS, JUÍZES, REIS E CAPITÃES DE ISRAEL
    A história do povo de Deus começou com o triunvirato dos três patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, tantas vezes honrados e nomeados pela boca do próprio Deus; mas nem por isso todos deixaram de passar. José os sucedeu. Ele sonhou com as felicidades e as adorações de seu pai e irmãos. E ainda que todas se cumpriram, todas passaram, como se fossem sonhos. Esse povo teve três categorias de governo: a dos juízes, a dos reis e a dos capitães. E seja subindo ou seja descendo, as varas foram trocadas pelos cetros, e os cetros pelos bastões. Nenhuma daquelas categorias de governo foi estável, todas passaram. Entre os juízes passou a espada de Gideão, o arado de Sangar, e a queixada de jumento de Sansão. Entre os reis passou a valentia de Davi, a sabedoria de Salomão, e a piedade de Josias. (...)

PASSARAM AS ISRAELITAS FORMOSAS
  E para que não fiquem esquecidas no silêncio as heroínas do povo de Israel, houve entre elas três que se destacaram pela formosura: Sara, Raquel e Ester; todas fatais a quem as amou. Sara a um peregrino com perigo; Raquel a um pastor com trabalhos, e Ester a um rei com desgostos e tribulações. Porém, a formosura       dessas mulheres, antes que suas vidas se acabassem, já havia passado.

PASSARAM OS PROFETAS
    Floresceram entre o mesmo povo dezesseis profetas reconhecidos, quatro maiores e doze menores. Porém, no espaço de três séculos, tanto os maiores quanto os menores, de Oseias a Malaquias, todos passaram. Passaram os milagres da vara, passaram os da serpente de metal, passaram os de Elias e Eliseu, e porque só faltava passar a Lei de Moisés e o sacerdócio de Arão, a Lei e o sacerdócio também passaram, porque tudo passa.
    Eu gostaria de perguntar ao mundo, já que minha memória está cheia de tantas coisas que passaram, se existe alguma coisa de origem humana que não tenha passado. Às sete construções que a fama deu o nome de maravilhas do mundo, alguns acrescentaram como oitava o anfiteatro romano. Mas a oitava ou nona maravilha é o fato de vermos que todas essas maravilhas, que pareciam eternas, passaram. A primeira maravilha foram as pirâmides do Egito, a segunda os jardins suspensos da Babilônia, a terceira o farol de Alexandria, a quarta o colosso de Rodes, a quinta o mausoléu de Cária, a sexta o templo de Diana dos Efésios, a sétima a estátua de Júpiter Olímpico. E deixando o anfiteatro e as pirâmides, das quais só vemos hoje as ruínas, os jardins suspensos arrasaram-se, o colosso desfez-se, o mausoléu sepultou-se, a torre sumiu-se, o templo ardeu, o farol apagou-se e passou, porque tudo passa.

PASSARAM AS MAIORES CIDADES DA TERRA
    (...) Nínive, corte de Nino, foi a maior cidade do mundo. Para atravessá-la de ponta a ponta levava-se nada menos que três dias a pé. Foi edificada de maneira arrogante para que nenhuma outra cidade a igualasse, como não a igualou. Mas onde está hoje essa Nínive? Ecbátana, corte de Arfaxade, e cidade que o texto sagrado chama potentíssima, era cercada de sete fileiras de muros, todos de pedras quadradas, cada uma de vinte e sete palmos por todas as faces, e as portas com a prodigiosa altura de 45 metros. Mas onde está essa Ecbátana? Susa, corte de Assuero, e metrópole de 127 províncias, o teto do seu principal palácio tinha a representação de um céu estrelado, fundado sobre colunas de ouro e pedras preciosas, e os muros eram de mármore branco e jaspe de diferentes cores. Podemos imaginar quão forte e invencível seria essa cidade, tendo sido ela construída para defender tão grande monarca, que dominava tantos reinos e guardava tantos tesouros. Mas onde está essa Susa?
    Se houvéssemos de fazer a mesma pergunta às ruínas de Tebas, de Mênfis, de Bactro, de Cartago, de Corinto, de Sebasta, e da mais conhecida de todas, Jerusalém, necessário seria dar a volta pela redondeza da terra. Porém, todas essas cidades passaram; uma, ou talvez duas, passaram só no seu antigo esplendor; as demais, na sua totalidade. O mesmo podemos dizer das planícies, vales e montes sobre os quais se levantavam aqueles vastíssimos corpos de casas, muralhas e torres que formavam essas cidades. De algumas não se sabe os lugares onde estiveram; sobre outras hoje lavra-se, semeia-se e planta-se nos mesmos lugares onde essas cidades existiram, sem mais vestígios do que aqueles que os arados encontram quando rompem a terra. Isto é para que os homens, compostos de carne e sangue, não se queixem da brevidade da vida, pois as pedras também morrem; e para que ninguém se atreva a negar que tudo quanto existiu, passou, e tudo quanto existe hoje, passará.

PASSARAM OS GRANDES REINOS
    (...) A Terra compõe-se de reinos, os reinos compõem-se de cidades, as cidades compõem-se de casas e campos, e principalmente de homens, e tudo isto, que tudo é Terra, perpetuamente está passando. Daniel, revelando a Nabucodonosor o significado de sua estátua, disse que Deus muda os tempos e as idades, e conforme essas mudanças, os reinos passam de uma parte para outra (Dn 2.21). Deste modo, passou o próprio reino de Nabucodonosor para a Pérsia, e dos persas para a Grécia, e dos gregos para Roma, e dos romanos para tantos outros quantos hoje têm coroas sobre a cabeça, os quais se devem lembrar que tudo passa, e que eles também passarão. (...) Não há pedra, nem telha, nem planta, nem raiz, nem palmo de terra sobre a Terra que não esteja sempre passando, porque tudo passa.

PASSOU A GRANDIOSIDADE DE ROMA
    A maior ostentação de grandeza e majestade que já se viu neste mundo foi a pompa e magnificência dos triunfos romanos. O cortejo triunfal desfilava pelas principais ruas da cidade, naquele tempo vastíssima, caminhado em direção ao Capitólio. À frente vinham os soldados vencedores, proferindo aclamações de triunfo. Em seguida, viam-se, representadas ao natural, as cidades vencidas, as montanhas inacessíveis escaladas, os rios caudalosos atravessados por pontes, as fortalezas, as armas dos inimigos, e as máquinas com as quais foram vencidas. Via-se um grande número de carros trazendo os despojos e riquezas conquistados, e tudo o que era raro e admirável trazido como presentes das regiões agora sujeitas à coroa de Roma. Depois de tudo isto aparecia a multidão dos cativos, com alguns reis acorrentados; e por fim, em carroça de ouro e pedras preciosas, arrastada por elefantes, tigres ou leões domados, aparecia o general ou o imperador que trouxera aquele cortejo triunfal à Roma. E enquanto os formidáveis animais puxavam a carroça sobre a qual estava orgulhosamente sentado o principal herói de tudo aquilo, ele ouvia um servo dizer-lhe repetidamente aquele famosa e temível frase: “Lembra-te, homem: tu és mortal”.
    Enquanto essa grande comitiva caminhava, as ruas, as praças, as janelas e os palanques estavam cobertos de uma imensa multidão, todos querendo ver o espetáculo. E se o filósofo Diógenes, com sua fina ironia, perguntasse quais eram os que passavam, se os do triunfo, se os que estavam olhando, não há dúvida de que a pergunta pareceria digna de riso. Mas o certo é que tanto os da procissão do triunfo quanto os que das janelas e palanques observavam, uns e outros igualmente passavam, porque a vida e o tempo nunca pára. Ou estando parados, ou caminhando, todos nós, com igual velocidade, passamos.


O TEMPO PASSA VELOZMENTE
  
  (...) Nem a Primavera com as suas flores, nem o Verão com as suas espigas, nem o Outono com os seus frutos, nem o Inverno com os seus frios e neves, por mais floridos ou entorpecidos que pareçam, podem estar parados um só momento. Passam as horas, passam os dias, passam os anos, passam os séculos, e se houvesse hieróglifos com os quais pudéssemos pintar essa passagem veloz do tempo, teriam que ser todos com asas, não só correndo e fugindo, mas voando e desaparecendo.


TUDO PASSA, E NÓS TAMBÉM PASSAMOS
    Todos estamos embarcados no mesmo navio, que é a vida, todos navegamos sob o mesmo vento, que é o tempo. E assim como no navio uns governam o leme, outros controlam as velas; uns vigiam, outros dormem; uns passeiam, outros estão sentados; uns cantam, outros jogam, outros comem, outros nenhuma coisa fazem, e todos igualmente viajam para o mesmo porto; da mesma forma nós, mesmo que não pareça, insensivelmente estamos passando sempre, e cada um aproximando-se cada vez mais do seu fim. Pois enquanto tu dormes o teu tempo anda. Eu disse pouco ao dizer que o tempo anda, porque corre e voa. Mas o fato é que nós dormimos. Porém, mesmo tendo os olhos abertos para ver que o tempo passa, só os mantemos fechados quando se trata de considerar que nós também passamos.
     Tudo passa, como o navio que vai cortando as ondas, e depois que passou, não se lhe acha o rastro. Tudo passa, como a ave que, voando e batendo o vento leve, não deixa sinal de sua trajetória. Tudo passa, como a seta despedida do arco ao lugar destinado, que dividindo o ar, o qual logo se fecha e une, não é possível saber por onde ela passou.       
(Trecho do monumental Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, em Lisboa, em 1670, pelo maior pregador da língua portuguesa, Antônio Vieira. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21).
Jefferson Mago Costa














domingo, 25 de julho de 2010

TALENTOS: DEUS NOS PEDIRÁ CONTA DE COMO NÓS OS USAMOS

Jefferson Magno Costa


       Na parábola dos talentos, os servos do rei eram três. Ao primeiro o rei entregou cinco talentos, o qual conseguiu outros cinco. Ao segundo entregou dois talentos, o qual conseguiu outros dois. E ambos foram louvados. Mas ao terceiro entregou um só talento, o qual ele enterrou.
     Na prestação de contas, esse último servo restituiu ao rei o mesmo talento que lhe havia sido confiado, pois não tinha negociado com ele, nem adquirido coisa alguma. Por isso o seu senhor não só o lançou fora de sua casa, e mandou que lhe tomassem o talento, como também o classificou de criado mau, e esta foi sua sentença de condenação (Mt 25.14-30).
    E se quem, na prestação de contas sobre o talento que Deus lhe deu, devolve o talento inteiro, e assim mesmo é condenado, o que será daqueles que o desperdiçam ou perdem, ou o usam contra si, contra o próximo, ou mesmo contra o próprio Deus?


NOSSAS FRAQUEZAS E LIMITAÇÕES TAMBÉM SÃO TALENTOS
    Não só são talentos os dotes da natureza, os bens provenientes da riqueza, os dons pessoais que recebemos de Deus, mas também o contrário e a falta de tudo isto. Não é só dote da natureza a formosura, mas também a feiura; não só a grande força, mas também a fraqueza; não só o agudo entendimento, mas também a dificuldade de entender; não só a visão perfeita, mas também a cegueira; não só a saúde, mas também a enfermidade; não só a longa vida, mas também a vida breve.
    O mesmo acontece com os bens que chamam da fortuna. Não é só considerado um bem o nascimento ilustre, mas também a origem humilde; não só os altos cargos e posições de dignidade, mas também as posições simples e não-reconhecidas; não só a riqueza, mas também a pobreza; não só a vida ganha despreocupadamente, mas também a que é ganha com muito trabalho; não só os negócios prósperos, mas também os que estão em crise; não só a posição de mando, mas também a de ser mandado; não só as vitórias, mas também as derrotas.
    Desta forma, tanto podia se aproveitar Raquel de sua formosura, como Lia de sua feiura (Gn 29.17); tanto Aitofel do seu entendimento (2Sm 16.23), como Nabal de sua rudeza (1Sm 25.3); tanto Matusalém dos seus novecentos e sessenta e nove anos (Gn 5.27), como o moço de Naim dos seus vinte (Lc 7.11-17); tanto Arão da destreza e eloquência de sua língua (Ex 4.14), como Moisés do peso da sua (Ex 4.10).
    Disto tudo, concluímos que Deus há de pedir conta tanto ao rico da sua riqueza quanto ao pobre da sua pobreza; tanto ao sadio da sua saúde, quanto ao doente da sua enfermidade; tanto ao honrado do seu prestígio, quanto ao afrontado da sua injúria; e tanto do que deu a uns, como do que negou a outros. Porque se o rico pode conseguir galardão com sua liberalidade, o pobre também pode consegui-lo com sua paciência.
    Está provado que entre as coisas que se chamam prósperas ou adversas, mais eficazes são para o crescimento espiritual as que mortificam a natureza, do que as que aguçam a carnalidade; e mais seguras para nos ajudar no caminho da salvação as que pesam e nos conduzem à humildade, do que as que elevam e nos conduzem à soberba.
    Só souberam manejar uns e outros meios, e tirar com igualdade proveito de ambos um Paulo, que dizia: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância...” (Fp 4.12); e um Jó, que ao perder tudo o que tinha, e muito antes de ser novamente abençoado por Deus, perguntou: “Receberíamos o bem de Deus e não receberíamos o mal?” (Jó 2.10).
    Portanto, desta maneira devemos aceitar (pois veio da mão de Deus) e contentar-nos com o talento ou os talentos que Deus nos deu, sejam cinco, sejam dois, seja um somente. E se puder ser nenhum, ainda será mais seguro. Quando o rei distribuiu os talentos aos criados, não lemos que algum deles tenha ficado descontente da distribuição. Se os que Deus deu a outros são maiores que os nossos, eles terão mais e nós menos do que dar conta a Deus.
    (Trecho do Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, em Lisboa, em 1670, pelo maior pregador da língua portuguesa, Antônio Vieira. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa

SEGUIR: DIFERENÇA ENTRE GUIAR-SE POR SI MESMO E SER GUIADO POR CRISTO

Jefferson Magno Costa

    Se considerarmos no mar o profeta Jonas, e se considerarmos no mar o apóstolo Pedro, veremos que Jonas afundou no mar, porque as ondas o puniram, enquanto Pedro flutuou no mar, porque as ondas o respeitaram. O mar representa a vida, e as ondas representam os desafios e problemas que surgem ao nosso redor. Mas por que essa diferença entre Jonas e Pedro? Por que um andou sobre as ondas, e o outro afundou nas ondas? Jonas não era profeta? Pedro não era apóstolo? Sim, mas ambos agiram seguindo orientações diferentes.
    Mesmo que ambos tenham se lançado no mar, Jonas foi lançado conforme sua própria orientação: “E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará (...) E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar...” (Jn 1.12,15), enquanto Pedro enfrentou as ondas seguindo a orientação de Jesus: “E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ter contigo por cima das águas. E ele lhe disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus” (Mt 14.28,29).
    Portanto, quem em meio às tempestades da vida, tenta enfrentá-las seguindo sua própria orientação, ou orientando outras pessoas para que o ajudem a acalmar a tempestade, afundará nas ondas. Mas quem, ao enfrentar as tempestades, segue tão-somente a orientação de Cristo, conseguirá caminhar sobre as ondas enfurecidas.
    (Trecho do livro Centúrias Predicáveis dos Evangelhos, do pregador português Jorge da Natividade. Coimbra, 1698, vol. 1. p. 1. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa

domingo, 18 de julho de 2010

VOCÊ TEM TOTAL LIBERDADE PARA DESAFIAR DEUS...

Jefferson Magno Costa    

Domingo, 14 de abril de 1912. Deslizando suavemente sobre as ondas do Oceano Atlântico, o Titanic – “o maior, mais luxuoso e seguro navio do mundo”, segundo a frase de um jornalista da época – navega rumo à cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. O sol ainda não surgiu para tingir de tonalidades alaranjadas as serenas águas azuis do oceano.
    Na opinião da imprensa, engenheiros, companhias de seguro e de todas as pessoas que, quatro dias antes, foram ao porto de Southampton, Inglaterra, para vê-lo partir em sua viagem inaugural, o Titanic é insubmergível. Nada conseguirá afundá-lo. E é essa certeza que faz com que a confiança e a tranquilidade reinem nos corações das 2.206 pessoas que viajam no imenso transatlântico. Porém, no longo rastro de espuma branca que seu belo casco duplo de aço vai deixando para trás, há um desafio. Uma afronta a Deus.
    A soberba daqueles que o construíram e o orgulho dos muitos milionários que dormem agora em seus luxuosos camarotes sob a brisa suave da manhã, poderão ser resumidos neste título de reportagem, também de autoria de um jornalista da época: “Titanic, o navio que nem mesmo Deus poderia afundar”. Porém, quando a escuridão da noite tornar a envolver o gigantesco navio de 250 metros de comprimento, as palavras escritas em Provérbios 16.8 e em Gálatas 6.7 cumprir-se-ão com todo o peso de sua verdade, marcando para sempre a história desse navio que desliza serenamente sobre as profundas águas do Oceano Atlântico: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”; “Não erreis; Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.”
       Às 23.40, uma gigantesca montanha de gelo surge de dentro das trevas, bem no caminho do Titanic. O vigia Fleet a vê e grita, horrorizado, para a cabine de comando: “Iceberg à proa!” Imediatamente, ouvem-se várias ordens: “Parar! Parar! Recuar a todo vapor!” Porém, é tarde demais. O transatlântico bate lateralmente na montanha de gelo, estremece e desvia-se para o lado. O iceberg abre um buraco de quase 90 metros no costado do navio. O Titanic está mortalmente ferido.
    Após três horas de desespero e agonia, só 703 pessoas conseguem embarcar nos botes salva-vidas e se afastar do navio, que agoniza. Às 2.20 da madrugada, “o navio que nem o próprio Deus conseguiria afundar” mergulha e desaparece nas profundas e frias águas do Oceano Atlântico, produzindo um imenso barulho de ondas e espumas, e arrastando consigo, num longo gemido, 1503 pessoas para um túmulo de 4000 metros de profundidade.
   
...MAS TAMBÉM TEM TODO O DIREITO DE SABER QUAIS SERÃO AS CONSEQUÊNCIAS
    A história do Titanic, que ilustra o que acontece quando o ser humano resolve desafiar ou afrontar a Deus, não é única. Vejamos outros exemplos que se encontram disponíveis a todos. Eu os citarei a seguir como um espécie de “avisos aos navegantes” deste perigoso mar da vida.
     Consideremos o que disse o Beatle John Lenon em 1966:
    “O cristianismo vai se acabar, vai se encolher, desaparecer. Eu não preciso discutir sobre isto. Eu estou certo. Jesus era legal, mas suas disciplinas são muito simples. Hoje, nós somos mais populares que Jesus Cristo”. Dois anos depois, os Beatles se desentenderam e a banda se acabou. Ela se acabou, e o cristianismo está a cada dia mais vivo no mundo. E Jesus é universalmente muito mais famoso do que os Beatles. Alguns anos depois John Lenon foi assassinado com cinco tiros por um de seus fãs.
      Algo muito parecido (em irreverência e trágicas consequências) disse também o político Tancredo Neves. Ao ouvir do deputado Thales Ramalho que 70 dissidentes do PDS votariam nele, Tancredo, candidato à presidência da República, respondeu: “Se eu tivesse 70 votos do PDS não precisava da ajuda nem de Deus para ser Presidente.” (Revista Veja, 16 de janeiro de 1985, p. 35). Precisava sim, senhor Tancredo Neves. Precisava sim, pois o Brasil sabe que o senhor obteve os votos, foi eleito Presidente, porém, para a frustração de milhões de brasileiros, morreu antes de assumir a presidência.
       Outro fato digno de ser citado nessa série de “avisos aos navegantes” do mar da vida aconteceu com o político Leonel Brizola. Em 1990, durante a disputadíssima campanha para a presidência da República, Brizola disse esta frase infeliz: “Para me tornar Presidente, aceito até o apoio do demônio.” Resultado: o demônio não teve poder de colocar Brizola nem em segundo lugar (posição que coube a Lula) na campanha em que Collor foi eleito Presidente.
      Outro que também tentou fazer gracinha e ridicularizar Deus diante dos seus fãs, que riam de suas piadas e aplaudiam os seus exemplos de "superioridade, inteligência e estilo de vida totalmente independente dos valores caretas da sociedade”, foi o cantor Cazuza. Durante um show no Canecão, Rio de Janeiro, Cazuza deu um longo trago em um cigarro de maconha, jogou a fumaça para cima e disse: “Deus, essa é para você”. A multidão assoviou e aplaudiu sua irreverência. Mas ninguém aplaudiu a forma digna de compaixão e lágrimas como ele morreu. Ninguém. Muito menos Deus.
      A bela e famosíssima atriz norte-americana Marilyn Monroe, durante o intervalo de um show, recebeu a visita do pregador do Evangelho Billy Graham. Após ouvir impacientemente a pregação do homem de Deus, a atriz respondeu arrogantemente: “Não preciso do seu Jesus”. Esta frase foi publicada como manchete em jornais e revistas do mundo inteiro. Uma semana depois, Marilyn Monroe foi encontrada morta ao lado de frascos de tranquilizantes. Isto mostra o quanto a menina orgulhosa e bonita precisava do Jesus belo, humilde e poderoso do Billy Graham, o nosso Jesus.
      Em 2005, em Campinas, SP, vários jovens embriagados, dirigindo perigosamente um carro, pararam diante da casa de uma jovem e a convidaram para ir com eles a um baile. A moça veio até os rapazes acompanhada da mãe. Quando a senhora viu aquele carro cheio de jovens visivelmente bêbados, segurou a mão da filha, que já estava dentro do carro, e disse-lhe: “Filha, vai com Deus, e que ele lhe proteja.” A filha, para dar uma de “inteligente e liberada” diante dos amigos, disse: “Só se ele for no porta-malas, por que aqui dentro já está lotado.” Algumas horas depois os familiares dos jovens foram informados de que todos haviam morrido em um acidente. O carro ficou irreconhecível.
    A polícia técnica que fez a perícia no local do acidente ficou estarrecida diante de dois fatos: o porta-malas, apesar do tremendo impacto que destruiu todo o restante do carro, não sofrera sequer um arranhão, quando era para também estar totalmente destruído! E para aumentar o assombro dos peritos que examinaram o que restou do veículo, foi encontrada dentro do porta-malas uma bandeja com 18 ovos. Todos intactos.  
    Aviso aos navegantes: Com Deus não se brinca. Não tente fazer gracinhas com o nome dele. Não tente dar uma de inteligente, ridicularizando-o diante de seus fãs ou amigos. Você pode se dar muito mal. Em Salmos 59.12 está escrito: “Pelo pecado da sua boca e pelas palavras dos seus lábios fiquem presos na sua soberba; e pelas maldições e pelas mentiras que proferem.” Não queira aumentar o número dos exemplos que acabei de citar aqui.


JEFFERSON MAGNO COSTA

quinta-feira, 8 de julho de 2010

JESUS: ANTES DE ELE VIR AO MUNDO, NOS ENVIOU VÁRIOS DE SEUS RETRATOS

Jefferson Magno Costa  

       Antes de Jesus vir a este mundo para nos salvar, mandou vários retratos dele, para que os homens o conhecessem e o amassem. Esses retratos de Jesus tinham também como propósito revelar as      múltiplas qualidades pelas quais ele seria conhecido     entre os seres humanos. Cada uma dessas qualidades seria representada por uma pessoa especial na história da salvação. Portanto, o retrato de Jesus foi composto por muitas figuras.
    Uma figura de Cristo foi Abel; outra figura de Cristo foi Noé. Uma figura de Cristo foi Abraão; outra figura foi Isaque. Uma figura de Cristo foi José; outra figura foi Moisés. Outra fugura foi Sansão, outra figura foi Jó, outra figura foi Samuel, outra figura foi Davi, outra figura foi Salomão. E ouve muitas outras figuras.
    Ora, se Jesus, o retratado, era um só, e o retrato também um, por que ele foi representado em tantas e tão diferentes figuras? Porque não era possível encontrar as qualidade de Cristo juntas em uma só pessoa; nenhum ser humano era tão excepcional e sublime a ponto de as possuir todas em si. Portanto, foi necessário que as qualidades de Jesus fossem distribuídas em vários personagens da Bíblia, e ele fosse retratado em vários desses personagens.
     Cristo era a própria inocência, por isso foi retratado em Abel. Cristo era a própria pureza, por isso foi retratado em José. Cristo era a própria mansidão, por isso foi retratado em Moisés. Era a própria fortaleza, por isso foi retratado em Sansão. Era a própria amizade, por isso foi retratado em Abraão. Era a própria obediência, por isso foi retratado em Isaque. Era a própria paciência, a própria constância, a própria justiça, a própria piedade, a própria sabedoria. Por isso foi retratado em Noé, em Jó, em Samuel, em Davi, em Salomão, respectivamente.
     Portanto, sendo o retrato um só, estava dividido em muitas figuras, porque só em muitas figuras podiam caber as muitas qualidades do retratado. (Trecho do Sermão de Santo Inácio, pregado em Lisboa, no Real Colégio de Santo Antônio, em 1669, pelo maior pregador da língua portuguesa, Antônio Vieira. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa
        

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