Jefferson Magno Costa
Capítulo 1
O FILHO DO GENERAL
O Rio Grande do Sul, por ser um Estado localizado no extremo Sul do Brasil, é favorecido por um clima subtropical, uma vegetação de matas virgens, planíces e campos levemente ondulados e verdejantes, e um solo amplamente beneficiado pelas águas.
No curso de sua história, portugueses e espanhóis muito lutaram, tentando traçar os seus limites. Essa eventualidade marcou e, de uma vez por todas, definiu o caráter do seu povo.
Pois o gaúcho é antes de tudo um destemido, um desassombrado diante da iminência do perigo ou dos mistérios da vida. Mas é um forte sem arrogância.
Destemido e forte seria Paulo Leivas Macalão, um menino que no dia 17 de setembro de 1903, nasceu na cidade de Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai.
Filho de João Maria Macalão e de Joaquina Georgina Leivas Macalão, Paulo Macalão foi educado dentro dos princípios que regiam as antigas famílias gaúchas.
Seu pai, oficial do Exército Brasileiro, alcançaria o posto de general. Disciplina e método foram, portanto, as normas aplicadas na educação de Paulo.
O menino cresceu aprendendo a identificar-se com a exuberante natureza que o rodeava, alongando o olhar pela vastidão dos campos, pelas grandes planíces cobertas de vegetação rasteira, e admirando os rebanhos que, pela manhã, espalhavam-se pelos pastos verdejantes das coxilhas.
As campinas, as árvores frutíferas e os rios traçaram o horizonte sem limites de suas brincadeiras de menino.
Cultivadas em grande escala pelos colonizadores italianos e alemães, a noz, a maçã, a oliva, o pêssego e a uva enriquecem as cestas de vime dos camponeses gaúchos, pois o clima, a qualidade do solo e o seu relevo beneficiado pela boa distribuição dos rios, fazem dos seus campos e bosques verdadeiros pomares.
A natureza enriqueceu embelezou a infância do menino Paulo.
Contam os antigos historiadores que, no século passado, um federalista foragido na selva do Rio da Várzea descobriu as águas termais de Iraí. Por suas características medicinais, essas águas foram denominadas “águas de mel”.
Consultando-se um mapa do Rio Grande do Sul, vê-se Iraí situada no extremo Norte, sobre a linha que separa o Estado gaúcho do Estado de Santa Catarina. No extremo oposto à cidade de Iraí, ao Sul, na divisa do Rio Grande com o Uruguai, localiza-se a cidade de Santana do Livramento.
Fontes termais não brotariam de seu solo nem suas ruas seriam transitadas por doentes em busca das águas salutíferas. Mas Paulo Macalão, ali nascido no início deste século, muito contribuiria para que milhares de seres humanos fossem conduzidos à verdadeira Fonte de Águas Vivas, para nelas restabelecerem a saúde de suas almas, e encontrarem a paz.
Até os cinco anos de idade, Paulo e os seus irmãos, Fernando e Maria, tiveram sobre suas vidas a suavidade, o zelo e o carinho das mãos de sua mãe, D. Georgina.
Os primeiros rudimentos da língua portuguesa ela os ensinou a seus filhos, e desenvolveu neles a inclinação para a vida religiosa. Pois, sendo católica e assídua às missas da igreja das Missões, D. Georgina sempre conduziu consigo o pequeno Paulo, durante as longas procissões pelas ruas de Santana do Livramento.
O gaúcho tem um passado religioso muito forte, profundamente enraizado em sua alma e em sua história. A partir do século dezessete, a influência jesuítica se apossou do espírito dos colonizadores.
A marca que os Sete Povos das Missões do Uruguai deixaram na história da colonização é indiscutivelmente inapagável. Paulo sofreu a forte imposição do catolicismo ali dominante, e isso contribuiria, positivamente, para traçar o perfil do seu espírito religioso.
Perdendo sua mãe em 1908, ele continuou acompanhando as procissões, não só enlevado com as projeções pirotécnicas dos foguetes, mas porque algo de profundo e misterioso o atraía. Havia alguma coisa de inexplicável naquele povo que se movia fascinado pela majestosa e alta figura da cruz.
Após o falecimento de D. Georgina, João Maria Macalão foi transferido para a cidade de São Luiz Gonzaga. Futuramente, não a cidade, mas uma rua carioca, com o mesmo nome de São Luiz Gonzaga, teria marcante e decisiva participação no futuro do jovem Paulo.
Essa mudança movimentou sua vida, enriquecendo-a de novas experiências e paisagens novas. Mas ele jamais se esqueceu de quanto sua infância se viu empobrecida com a ausência de sua mãe. E não se esqueceu, também, de quanto seu pai se empenhou em distraí-lo e cercá-lo de carinho, tentando preencher a lacuna que D. Georgina deixara na família.
As viagens de carroça pelas madrugadas frias, os episódios envolvendo contrabandistas nas fronteiras do Sul, os inúmeros contatos com criadores de gado e lavradores, as reuniões em família para se tomar chimarrão – de nada se esqueceria ele, quando de suas conversas acerca do seu passado.
Como se esquecer do vento gelado e cortante que sopra no Sul, o minuano? Como esquecer aquele vento que, descendo do planalto e das serras, passa uivando sobre as florestas de araucárias, sibilante e ameaçador?
Provocando nevoeiros, geadas e até queda de neve, o minuano queima os lábios e as orelhas de quem não estiver abrigado, e faz com que os gaúchos de algumas cidades tranquem-se em suas casas, deixando as ruas desertas, como de cidades abandonadas.
Desde menino, Paulo preocupou-se com a profissão que iria escolher. Poderia entregar-se a muitas atividades: cuidar de uma indústria, de rebanhos, de casas, ou ser um militar como seu pai.
Passara sua infância dentro dos quartéis em companhia do pai. Assimilara tudo sobre a vida militar, e João Maria Macalão desejava vê-lo general. Mas alguém lhe dissera que a melhor profissão era a de médico, porque o médico curava as doenças do corpo.
Então sua alma de criança sentia o desejo de fazer algo pelos outros, tirar a tristeza e encher de alegria o lar que chorava; curar, amenizar a dor, ajudar a quem quer que fosse.
Porém, quando se lembrava das palavras de sua mãe acerca da alma, concluía que ser padre era muito melhor, porque o padre oferecia o remédio para as doenças do espírito.
Nessa época seu pai foi transferido para o Rio de Janeiro, e nessa cidade a vida do jovem Paulo iria mudar (Continua).
Jefferson Magno Costa
Capítulo 1
O FILHO DO GENERAL
O Rio Grande do Sul, por ser um Estado localizado no extremo Sul do Brasil, é favorecido por um clima subtropical, uma vegetação de matas virgens, planíces e campos levemente ondulados e verdejantes, e um solo amplamente beneficiado pelas águas.
No curso de sua história, portugueses e espanhóis muito lutaram, tentando traçar os seus limites. Essa eventualidade marcou e, de uma vez por todas, definiu o caráter do seu povo.
Pois o gaúcho é antes de tudo um destemido, um desassombrado diante da iminência do perigo ou dos mistérios da vida. Mas é um forte sem arrogância.
Destemido e forte seria Paulo Leivas Macalão, um menino que no dia 17 de setembro de 1903, nasceu na cidade de Santana do Livramento, fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai.
Filho de João Maria Macalão e de Joaquina Georgina Leivas Macalão, Paulo Macalão foi educado dentro dos princípios que regiam as antigas famílias gaúchas.
Seu pai, oficial do Exército Brasileiro, alcançaria o posto de general. Disciplina e método foram, portanto, as normas aplicadas na educação de Paulo.
O menino cresceu aprendendo a identificar-se com a exuberante natureza que o rodeava, alongando o olhar pela vastidão dos campos, pelas grandes planíces cobertas de vegetação rasteira, e admirando os rebanhos que, pela manhã, espalhavam-se pelos pastos verdejantes das coxilhas.
As campinas, as árvores frutíferas e os rios traçaram o horizonte sem limites de suas brincadeiras de menino.
Cultivadas em grande escala pelos colonizadores italianos e alemães, a noz, a maçã, a oliva, o pêssego e a uva enriquecem as cestas de vime dos camponeses gaúchos, pois o clima, a qualidade do solo e o seu relevo beneficiado pela boa distribuição dos rios, fazem dos seus campos e bosques verdadeiros pomares.
A natureza enriqueceu embelezou a infância do menino Paulo.
Contam os antigos historiadores que, no século passado, um federalista foragido na selva do Rio da Várzea descobriu as águas termais de Iraí. Por suas características medicinais, essas águas foram denominadas “águas de mel”.
Consultando-se um mapa do Rio Grande do Sul, vê-se Iraí situada no extremo Norte, sobre a linha que separa o Estado gaúcho do Estado de Santa Catarina. No extremo oposto à cidade de Iraí, ao Sul, na divisa do Rio Grande com o Uruguai, localiza-se a cidade de Santana do Livramento.
Fontes termais não brotariam de seu solo nem suas ruas seriam transitadas por doentes em busca das águas salutíferas. Mas Paulo Macalão, ali nascido no início deste século, muito contribuiria para que milhares de seres humanos fossem conduzidos à verdadeira Fonte de Águas Vivas, para nelas restabelecerem a saúde de suas almas, e encontrarem a paz.
Até os cinco anos de idade, Paulo e os seus irmãos, Fernando e Maria, tiveram sobre suas vidas a suavidade, o zelo e o carinho das mãos de sua mãe, D. Georgina.
Os primeiros rudimentos da língua portuguesa ela os ensinou a seus filhos, e desenvolveu neles a inclinação para a vida religiosa. Pois, sendo católica e assídua às missas da igreja das Missões, D. Georgina sempre conduziu consigo o pequeno Paulo, durante as longas procissões pelas ruas de Santana do Livramento.
O gaúcho tem um passado religioso muito forte, profundamente enraizado em sua alma e em sua história. A partir do século dezessete, a influência jesuítica se apossou do espírito dos colonizadores.
A marca que os Sete Povos das Missões do Uruguai deixaram na história da colonização é indiscutivelmente inapagável. Paulo sofreu a forte imposição do catolicismo ali dominante, e isso contribuiria, positivamente, para traçar o perfil do seu espírito religioso.
Perdendo sua mãe em 1908, ele continuou acompanhando as procissões, não só enlevado com as projeções pirotécnicas dos foguetes, mas porque algo de profundo e misterioso o atraía. Havia alguma coisa de inexplicável naquele povo que se movia fascinado pela majestosa e alta figura da cruz.
Após o falecimento de D. Georgina, João Maria Macalão foi transferido para a cidade de São Luiz Gonzaga. Futuramente, não a cidade, mas uma rua carioca, com o mesmo nome de São Luiz Gonzaga, teria marcante e decisiva participação no futuro do jovem Paulo.
Essa mudança movimentou sua vida, enriquecendo-a de novas experiências e paisagens novas. Mas ele jamais se esqueceu de quanto sua infância se viu empobrecida com a ausência de sua mãe. E não se esqueceu, também, de quanto seu pai se empenhou em distraí-lo e cercá-lo de carinho, tentando preencher a lacuna que D. Georgina deixara na família.
As viagens de carroça pelas madrugadas frias, os episódios envolvendo contrabandistas nas fronteiras do Sul, os inúmeros contatos com criadores de gado e lavradores, as reuniões em família para se tomar chimarrão – de nada se esqueceria ele, quando de suas conversas acerca do seu passado.
Como se esquecer do vento gelado e cortante que sopra no Sul, o minuano? Como esquecer aquele vento que, descendo do planalto e das serras, passa uivando sobre as florestas de araucárias, sibilante e ameaçador?
Provocando nevoeiros, geadas e até queda de neve, o minuano queima os lábios e as orelhas de quem não estiver abrigado, e faz com que os gaúchos de algumas cidades tranquem-se em suas casas, deixando as ruas desertas, como de cidades abandonadas.
Desde menino, Paulo preocupou-se com a profissão que iria escolher. Poderia entregar-se a muitas atividades: cuidar de uma indústria, de rebanhos, de casas, ou ser um militar como seu pai.
Passara sua infância dentro dos quartéis em companhia do pai. Assimilara tudo sobre a vida militar, e João Maria Macalão desejava vê-lo general. Mas alguém lhe dissera que a melhor profissão era a de médico, porque o médico curava as doenças do corpo.
Então sua alma de criança sentia o desejo de fazer algo pelos outros, tirar a tristeza e encher de alegria o lar que chorava; curar, amenizar a dor, ajudar a quem quer que fosse.
Porém, quando se lembrava das palavras de sua mãe acerca da alma, concluía que ser padre era muito melhor, porque o padre oferecia o remédio para as doenças do espírito.
Nessa época seu pai foi transferido para o Rio de Janeiro, e nessa cidade a vida do jovem Paulo iria mudar (Continua).
Jefferson Magno Costa
Nobre Pr. Jefferson Magno;
ResponderExcluirGraça e paz!
Excelente postagem acerca de um dos maiores pioneiros da AD no Brasil, o meu lamento é que hoje em dia não há mais homens assim.
Que enriqueça-te de conhecimento para podermos aprendermos contigo.
Pelos laços do Calvário que nos une ;
Marcos Serafim Silva
É verdade, prezado irmão e amigo Marcos Serafim. Pastor Paulo Leivas Macalão foi um gigante na história do evangelho em nosso país. Que Deus levante outros como ele. Um abraço,
ResponderExcluirpastor Jefferson Magno Costa