Jefferson Magno Costa
Todos os vestígios que os primeiros seres humanos deixaram concernentes à maneira como eles enterravam os seus mortos, revelam que eles criam na existência de Deus e na vida após a morte. Esses vestígios também evidenciam que só o ser humano é dotado de recursos intelectivos que o tornam capaz de avaliar o que realmente significa morrer.
O animal irracional, mesmo sendo levado pelo instinto de sobrevivência a fugir de tudo o que ameace a sua vida, é incapaz de compreender o profundo significado da morte. O filósofo francês Voltaire escreveu em um dos verbetes do seu Dicionário Filosófico, que “de todas as espécies, só a humana sabe que deve morrer, e o sabe por experiência”.
Estudos realizados com animais em cativeiro provaram a completa incapacidade de esses animais entenderem as profundas implicações ligadas à morte. O renomado antropólogo George Siegmund fez um desses estudos, e eis suas conclusões:
“Às vezes é possível observar, num jardim zoológico, que as macacas-mães nem percebem a morte de seus filhotes, e continuam carregando-os durante dias, limpando-lhes o pelo e ‘lavando-lhes’ o rosto. Não entendem, evidentemente, que seus filhotes não vivem mais, e que elas passaram a ocupar-se com filhotes mortos. Só quando o pequeno cadáver começa a apodrecer, a cheirar mal, a ficar disforme, é que desaparecem os fatores que liberam o instinto maternal. A ‘fiel’ macaca simplesmente afasta-se de seu filhote morto, e não mais se preocupa com ele. Já que a mãe-animal não tem capacidade intelectiva de perceber o significado da morte do seu filhote, não vive também a experiência tragicamente humana da dor da separação”.
COMO OS PRIMEIROS SERES HUMANOS SEPULTAVAM OS SEUS MORTOS
Todavia, quanto ao comportamento, nesse particular, dos primeiros seres humanos que habitaram a terra, todos os indícios revelam que eles sepultavam os seus mortos sentido a dor da separação e crendo na vida após a morte. Para eles, morrer seria uma espécie de adormecimento. Daí a razão de sepultarem seus mortos na posição de quem dorme (o corpo deitado de lado, os joelhos dobrados à altura do queixo.) Cuidavam de maneira humana de seus entes falecidos, não os deixando abandonados ao relento, à mercê das intempéries e dos animais ferozes. A determinação divina registrada na Bíblia: “Pois és pó, e ao pó te tornarás” (Gn 3.19) produziu profunda impressão no coração dos primeiros povoadores da terra. Johanes Maringer (Os Deuses do Homem Pré-Histórico, p. 118) afirma que “no solo das grutas faziam-se covas com muito esforço e muito cuidado; e os cadáveres depositados, ora na ‘posição do sono’, ora estendidos de costas, ora em posição sentada, eram rodeados por um protetor acúmulo de pedras”.
Junto com os mortos eram sepultados objetos variados, como machados de pedra, flechas, enfeites e alimentos, pois, segundo observação de outro grande estudioso do passado da humanidade, Lois Figuier, quem depositou aquele corpo ali “quer que aquele que adormeceu na morte possa, ao despertar, caçar ainda o mamute e o grande urso. Deixa-lhe, portanto, armamentos e até provisões de carne, membros despedaçados de urso e de cavalo, para lhe servirem de alimento durante a grande viagem às terras ignotas.
“Como este último fato faz-nos admirar o nosso mais antigo antepassado! Os primeiros homens criam na imortalidade da alma, esperavam uma vida futura melhor do que a existência de lutas e misérias, que era o quinhão deles aqui na terra. O primeiro homem cria na existência de Deus!
“Eu te saúdo, ó meu irmão, e estendo-te a mão através da imensidade dos tempos desaparecidos! O teu conhecimento é limitado, e tua inteligência ainda não foi suficientemente treinada. Mas o tempo e a revelação e Deus saberão aperfeiçoá-las e alargá-las. Essa pequenina luz crescerá e brilhará mais e mais no decorrer dos tempos” (O Homem Primitivo, pp. 134,135).
Os primeiros seres humanos também lançavam ocre (espécie de barro vermelho, quase uma tinta) sobre os cadáveres, antes de eneterrá-los, querendo com isto simbolizar a continuação da vida, do “sangue sobrenatural que desafia o tempo”, segundo a curiosa expressão de Paul Chalus. Costumvam também deixar pequenas fendas nas sepulturas por onde a água da chuva pudesse penetrar e aliviar a sede do morto.
Foram encontrados também esqueletos de mortos com o rosto voltado para o fundo da sepultura, e isto provavelmente representava a crença de que a saída para o outro mundo estava naquela direção, pois o Além, conforme acreditavam centenas de povo antigos, estaria localizado em uma região sob a terra.
Portanto, a sepultura não era tida como uma prisão em que o morto ficava encerrado, preso para sempre sob um monte de areia e pedras, mas uma porta aberta para uma nova vida, que começava para além daquele estreito lugar.
Esta foi a pálida concepção que a humanidade conseguiu formular, antes do Dilúvio, sobre Deus e a eternidade. Portanto, nesses tempos antiguíssimos, podemos vislumbrar a forma como os primeiros seres humanos cultuavam o "Ser Supremo", e que atitude assumiam diante da morte. No decorrer dos séculos, o distanciamento que os primeiros seres humanos tiveram de Deus, a impiedade, a crueldade, a imoralidade e o satanismo se alastraram tanto entre os descendentes de Adão, que foi necessário o Senhor exterminá-los de sobre a face da terra através do Dilúvio, tendo Deus antes escolhido uma família em cujo seio a Revelação Inicial seria preservada.
A história das religiões após o Dilúvio não é outra coisa senão a história da decadência religiosa da humanidade cada vez mais afastada de Deus. Se Jesus Cristo não tivesse descido das celestiais alturas para inaugurar o mais sublime capítulo da grande trajetória do homem sobre a face da terra, hoje só nos restaria historiar a evolução do engano, a evolução da lepra do pecado e os resultados do seu contágio entre os seres humanos, sem nenhuma esperança, sem nenhuma remédio, sem nenhum resgate.
Porém, “o Sol nascente das alturas” – Jesus Cristo – nos visitou e está entre nós, “para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir nossos pés pelo caminho da paz!”, Lucas 1.78-79.
Jefferson Magno Costa
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