Jefferson Magno Costa
MENINO PRODÍGIO
Sua vida foi marcada pelo espanto, pela admiração, pelos elogios de todas as pessoas que constatavam os indícios de genialidade daquele meninozinho de olhos brilhantes. Ele era dotado de uma tão grande capacidade de memorizar o que aprendia, e se expressava com tanta clareza e firmeza de argumentos, que encantava e conquistava a admiração de todos.
Todos paravam para ver aquela poderosa inteligência em ação. Ele só tinha cinco anos de idade quando, em Salvador, o professor Antônio Gentil Ibirapitanga, que lhe ensinou a ler e a escrever, comentou: "Este menino de cinco anos é o maior talento que eu já vi. Em quinze dias ele aprendeu análise gramatical, é capaz de distinguir orações e conjugar todos os verbos regulares."
Este foi o primeiro dos muitos comentários de professores que se espantaram com a fenomenal inteligência de Rui Barbosa.
Houve também o caso de um professor de Rui no Ginásio Baiano, Abílio César Borges, cujos alunos começavam a estudar com ele quando ainda estavam com oito ou nove anos de idade, e só conseguiam aprender tudo o que aquele famoso mestre tinha para ensinar-lhes quando atingiam a idade de 15 ou 16 anos.
Rui Barbosa ainda estava com 11 anos de idade quando o professor Abílio César declarou a seu pai, João Barbosa: "Seu filho nada mais tem a aprender comigo."
Após concluir o curso ginasial, os pais de Rui descobriram que ele ainda não tinha idade que lhe permitisse entrar na Universidade. Enquanto aguardava alcançar a idade mínima para iniciar o curso de Direito (16 anos), o adolescente genial aprofundou-se no estudo da língua alemã e de sua literatura.
OS PRÓPRIOS RIVAIS ELOGIAVAM SUA INTELIGÊNCIA
Dezenas de grandes homens o elogiaram ao longo de sua vida. Até seus rivais, seus inimigos, durante as mais acaloradas disputas políticas, jurídicas ou filológicas, muitas vezes não se continham e proferiam uma frase de admiração e espanto diante da genialidade de Rui Barbosa.
Em 1902, durante a maior polêmica filológica da língua portuguesa, motivada por críticas que o então senador e jurista Rui Barbosa havia feito à redação do Código Civil, Rui foi refutado por ninguém menos que seu antigo mestre, o filólogo e famoso gramático Ernesto Carneiro Ribeiro, apoiado por um grupo de 21 competentes magistrados, liderados, por sua vez, pelo fenomenal jurisconsulto Clóvis Beviláqua.
Rui duelou com todos eles, e os venceu esmagadoramente com sua assombrosa erudição, a ponto de no final Clóvis Beviláqua, o líder dos opositores naquela disputa, comentar, assombrado:
“Ouvindo este homem, tenho a impressão de que não estou diante de um ser humano, e sim diante de um ciclope, um daqueles gigantes da mitologia grega que tinha um imenso olho no meio da testa. Com sua capacidade de ler, ler e ler, e armazenar como ninguém, tudo o que passa diante dos seus olhos, Rui é um desses ciclopes, um monstro dotado de poderes sobre-humanos de leitura, interpretação e memorização”.
Em 1885, em plena campanha abolicionista, José do Patrocínio, maravilhado diante da eloquência do baiano genial, comentou: "Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa."
Em 1890 foi a vez do próprio imperador D. Pedro II reconhecer: "Nas trevas culturais que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento extraordinário de Ruy Barbosa."
Em suas memórias intituladas Minha Formação, o grande Joaquim Nabuco comentou: "Ruy Barbosa é hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país".
TRADUTOR DA BÍBLIA
Rntre inúmeras proesas intelectuais, Rui traduziu a polêmica e clássica obra O Papa e o Concílio, escrita por Janus. O curioso é que, ao prefaciá-la, superou o número de páginas da obra, e demonstrou ter mais conhecimento sobre o assunto que o próprio historiador Janus!
Compondo uma equipe de eruditos pastores e filólogos presbiterianos, Rui Barbosa traduziu a Bíblia dos idiomas originas para o português. Esse trabalho resultou na hoje conceituada e raríssima Tradução Brasileira da Bíblia. (Não disponho no momento de espaço e tempo para aprofundar essa peculiaridade da biografia de Rui como tradutor da Bíblia, mas fica aqui o desafio aos pesquisadores evangélicos que se interessarem em pesquisar e trazer para nós mais informações sobre esse importantíssimo assunto. A propósito: Teria sido Rui Barbosa um presbiteriano discretíssimo em sua confissão de fé?).
APLAUSOS E CONSAGRAÇÃO INTERNACIONAL
E não foram só os brasileiros que o admiraram. Em junho de 1907 Ruy foi enviado à Holanda como representante do Brasil na Conferência de Haia. Estavam presentes ali os homens mais inteligentes e mais preparados do mundo.
Porém, ao ouvirem Rui discursar fluentemente em vários idiomas europeus, apresentando uma assombrosa bagagem de argumentos e informações que só era possível encontrar reunida nas maiores bibliotecas do mundo, todos curvaram-se diante daquela inteligência excepcional, daquela cultura enciclopédica. Foi sua consagração diante do mundo.
O estadista inglês W. Stead escreveu, maravilhado: "Entre tantos homens grandiosos e geniais, as duas maiores forças pessoais da Conferência de Haia foram o Barão de Marschall, da Alemanha, e o Dr. Barbosa, do Brasil… Todavia, ao término da Conferência, Dr. Barbosa pesava diante de todos mais do que o Barão de Marschall".
Ruy Barbosa (1849-1923) foi, portanto, a maior figura da intelectualidade brasileira do seu tempo, e uma das maiores expressividades culturais da comunidade mundial de sua época. Porém, o fato é que Rui Barbosa é hoje quase totalmente desconhecido da maioria dos brasileiros, que ignoram a grandeza do seu pensamento, o seu exemplo de grande estudioso, de orador genial.
Sua brilhante carreira como jurisconsulto e político confunde-se com a própria história do Brasil. Porém, nós, os que pertencemos à atual geração, desconhecemos quase que por completo os detalhes de sua vida, a grandeza de seu pensamento e a enorme herança cultural que ele nos deixou.
Diz o autor do verbete Rui Barbosa, na Enciclopédia Mirador: “O aparato erudito e a facúndia verbal, sobretudo o falar, e o escrever elaborado, criaram-lhe a lenda de ter sido o homem mais inteligente do Brasil em seu tempo, culto popularizado que se prolongou postumamente”.
UM GÊNIO ESQUECIDO E DESCONHECIDO
Porém, e infelizmente, o conhecimento da obra de Rui Barbosa é hoje privilégio tão-somente de juristas, de filólogos, de historiadores e de alguns literatos.
Consciente de tal fato, exporemos a seguir, criteriosa e seletivamente, trechos escolhidos de sua obra, particularmente no que diz respeito ao grande exemplo e aos muitos incentivos que ele deixou aos jovens.
O CÉLEBRE DISCURSO PALAVRAS À JUVENTUDE
Começaremos apresentando os “melhores momentos” do seu célebre discurso “Palavras à juventude”, pronunciado diante de uma turma de alunos do colégio Anchieta, em São Paulo.
Após saudar as autoridades presentes, Rui se dirige aos alunos e, no seu insuperável estilo de orador sublime, descreve a suntuosa paisagem que se estende diante do colégio, as serranias, os longes azulados, as verdejantes florestas e os pássaros que, nas manhãs orvalhadas, acordam os alunos com os seus cânticos maviosos e livres. Após descrever a importância de se educar a mocidade, Rui ressalta o valor de quem se dedica a cumprir essa nobre missão.
Em seguida, passa a tecer considerações sobre a responsabilidade da pátria na educação de seus filhos. Mas o que é a pátria?
“A pátria não é ninguém: são todos, e cada qual tem no meio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não difamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo”.
"NÃO" À PREGUIÇA E VAIDADE, E "SIM" AO ESTUDO
O estudo exige dedicação, exige esforços, exige que se caminhe com humildade, pois a vaidade tem perdido a muitos. Rui não amacia as palavras:
“Mocidade vaidosa não chegará jamais a virilidade útil. Onde os meninos camparem de doutores, os doutores não passarão de meninos.
“A mais formosa das idades ninguém porá em dúvida que seja a dos moços; todas as graças a enfloram e coroam. Mas de todas se despiu, em sendo presunçosa. Nos tempos de preguiça e ociosidade, cada indivíduo nasce a regurgitar de qualidades geniais. Mal esfloraram os primeiros livros, e já se sentem com força de escrever tratados. (...)
“Não conhecem a obediência aos superiores e a reverência aos mestres. São os árbitros do gosto, o tribunal das letras, a última instância da opinião. É uma superficialidade satisfeita e incurável, uma precocidade embotada e gasta, mais estéril que a velhice. Deus livre a esta de tais sucessores, e vos preserve de semelhantes modelos.”
Porém, meigamente Rui aponta o caminho que deve ser trilhado pelos jovens de valor:
“Sede, meus caros amiguinhos, tais quais o verdor florescente de vossos anos o exige: afervorados, entusiastas, intrépidos, cheios das aspirações do futuro e inimigos dos abusos de presente. Habituai-vos a obedecer, para aprender a mandar. Afazei-vos a esperar, para lograr concluir. Não delireis nos vossos triunfos. Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber.”
A IMORTAL ORAÇÃO AOS MOÇOS
Em 1920, Rui foi convidado como paraninfo a turma de bacharelandos em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, de onde ele saíra bacharel, há cinquenta anos. Porém, seu estado de saúde (ele morreria em 1923) não permitiu-lhe atender ao convite. Mas em compensação, os formandos – e todos os leitores de língua portuguesa – foram brindados com uma verdadeira obra-prima da oratória universal, o discurso Oração aos Moços – uma das últimas criações do grande vulto da inteligência brasileira.
Para finalizar esta apresentação de alguns aspectos da vasta e desconhecida obra de Rui Barbosa (a coleção de suas Obras Completas é composta demais de cem volumes), transcreveremos o que consideramos “os melhores momentos”, os (na minha opinião) melhores trechos de sua Oração aos Moços:
“Senhores: Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao Direito viessem receber no templo do seu ensino em São Paulo o selo de uma grande bênção, associando-se hoje com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos em que o ides esposar.
“Em verdade nos digo, jovens amigos meus, que o coincidir desta existência declinante com essas carreiras nascentes agora, o seu coincidir num ponto de interseção tão magnificamente celebrado, era mais do que eu mereceria; e, negando-me a divina bondade um momento de tamanha ventura, não me negou senão o a que eu não devia ter tido a inconsciência de aspirar”.
Após propor que eles (Rui e os bacharelandos) se aproximem, apesar da distância (Rui estava no Rio) na irmandade dos corações; após falar do zelo e da honestidade que devem nortear a vida dos jovens advogados, o velho mestre modula sua voz, e fala paternalmente aos moços. E as lições são riquíssimas:
“Estou-vos abrindo o livro da minha vida (...) Eis ao que vem o padrinho, o velho, o abençoador, carregado de anos e tradições, versado nas longas lições do tempo, mestre da humildade, arrependimento e desconfiança, nulo entre os grandes da inteligência, grande entre os experimentados na fraqueza humana. Que se feche, pois, alguns momentos, o livro da ciência; e folheemos juntos o da experiência. Desalviemo-nos do saber humano, carga formidável, e voltemo-nos uma hora para este outro, leve, comezinho, desalinhado, conversível, seguro, sem altitudes, nem despenhadeiros.
“Ninguém, senhores meus, que empreende uma jornada extraordinária, primeiro que meta o pé na estrada, se esquecerá de entrar em conta com as suas forças, por saber se a levará a cabo. Mas, na grande viagem, na viagem de trânsito deste a outro mundo, não há possa ou não possa, não há querer ou não querer.
"A vida não tem mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair, pela morte. Ninguém, cabendo-lhe a vez, se poderá furtar à entrada. Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída. E, de um ao outro extremo, vai o caminho, longo ou breve, ninguém o sabe, entre cujos termos fatais se debate o homem, pesaroso de que entrasse, receoso da hora em que saia, cativo de um e outro mistério, que lhe confirmam a passagem terrestre.
“Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo sublimar-se d’alma pelo contacto com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos.
“Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem por isso mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o melhor devo às manhãs e madrugadas.
“Muito vi em cinquenta anos. Mas o que constitui a experiência, consiste menos no ver, que no saber observar. Observar deduzindo, induzindo, e generalizando, com pausa, com critério, com desconfiança. Observar apurando, contrasteando, e guardando.
“Por derradeiro, amigos de minha alma, por derradeiro, a última, a melhor lição da minha experiência. De quanto no mundo tenho visto, o resumo se abrange nestas sete palavras:
“Não há justiça onde não haja Deus.”
Jefferson Magno Costa
MENINO PRODÍGIO
Sua vida foi marcada pelo espanto, pela admiração, pelos elogios de todas as pessoas que constatavam os indícios de genialidade daquele meninozinho de olhos brilhantes. Ele era dotado de uma tão grande capacidade de memorizar o que aprendia, e se expressava com tanta clareza e firmeza de argumentos, que encantava e conquistava a admiração de todos.
Todos paravam para ver aquela poderosa inteligência em ação. Ele só tinha cinco anos de idade quando, em Salvador, o professor Antônio Gentil Ibirapitanga, que lhe ensinou a ler e a escrever, comentou: "Este menino de cinco anos é o maior talento que eu já vi. Em quinze dias ele aprendeu análise gramatical, é capaz de distinguir orações e conjugar todos os verbos regulares."
Este foi o primeiro dos muitos comentários de professores que se espantaram com a fenomenal inteligência de Rui Barbosa.
Houve também o caso de um professor de Rui no Ginásio Baiano, Abílio César Borges, cujos alunos começavam a estudar com ele quando ainda estavam com oito ou nove anos de idade, e só conseguiam aprender tudo o que aquele famoso mestre tinha para ensinar-lhes quando atingiam a idade de 15 ou 16 anos.
Rui Barbosa ainda estava com 11 anos de idade quando o professor Abílio César declarou a seu pai, João Barbosa: "Seu filho nada mais tem a aprender comigo."
Após concluir o curso ginasial, os pais de Rui descobriram que ele ainda não tinha idade que lhe permitisse entrar na Universidade. Enquanto aguardava alcançar a idade mínima para iniciar o curso de Direito (16 anos), o adolescente genial aprofundou-se no estudo da língua alemã e de sua literatura.
OS PRÓPRIOS RIVAIS ELOGIAVAM SUA INTELIGÊNCIA
Dezenas de grandes homens o elogiaram ao longo de sua vida. Até seus rivais, seus inimigos, durante as mais acaloradas disputas políticas, jurídicas ou filológicas, muitas vezes não se continham e proferiam uma frase de admiração e espanto diante da genialidade de Rui Barbosa.
Em 1902, durante a maior polêmica filológica da língua portuguesa, motivada por críticas que o então senador e jurista Rui Barbosa havia feito à redação do Código Civil, Rui foi refutado por ninguém menos que seu antigo mestre, o filólogo e famoso gramático Ernesto Carneiro Ribeiro, apoiado por um grupo de 21 competentes magistrados, liderados, por sua vez, pelo fenomenal jurisconsulto Clóvis Beviláqua.
Rui duelou com todos eles, e os venceu esmagadoramente com sua assombrosa erudição, a ponto de no final Clóvis Beviláqua, o líder dos opositores naquela disputa, comentar, assombrado:
“Ouvindo este homem, tenho a impressão de que não estou diante de um ser humano, e sim diante de um ciclope, um daqueles gigantes da mitologia grega que tinha um imenso olho no meio da testa. Com sua capacidade de ler, ler e ler, e armazenar como ninguém, tudo o que passa diante dos seus olhos, Rui é um desses ciclopes, um monstro dotado de poderes sobre-humanos de leitura, interpretação e memorização”.
Em 1885, em plena campanha abolicionista, José do Patrocínio, maravilhado diante da eloquência do baiano genial, comentou: "Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa."
Em 1890 foi a vez do próprio imperador D. Pedro II reconhecer: "Nas trevas culturais que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento extraordinário de Ruy Barbosa."
Em suas memórias intituladas Minha Formação, o grande Joaquim Nabuco comentou: "Ruy Barbosa é hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país".
TRADUTOR DA BÍBLIA
Rntre inúmeras proesas intelectuais, Rui traduziu a polêmica e clássica obra O Papa e o Concílio, escrita por Janus. O curioso é que, ao prefaciá-la, superou o número de páginas da obra, e demonstrou ter mais conhecimento sobre o assunto que o próprio historiador Janus!
Compondo uma equipe de eruditos pastores e filólogos presbiterianos, Rui Barbosa traduziu a Bíblia dos idiomas originas para o português. Esse trabalho resultou na hoje conceituada e raríssima Tradução Brasileira da Bíblia. (Não disponho no momento de espaço e tempo para aprofundar essa peculiaridade da biografia de Rui como tradutor da Bíblia, mas fica aqui o desafio aos pesquisadores evangélicos que se interessarem em pesquisar e trazer para nós mais informações sobre esse importantíssimo assunto. A propósito: Teria sido Rui Barbosa um presbiteriano discretíssimo em sua confissão de fé?).
APLAUSOS E CONSAGRAÇÃO INTERNACIONAL
E não foram só os brasileiros que o admiraram. Em junho de 1907 Ruy foi enviado à Holanda como representante do Brasil na Conferência de Haia. Estavam presentes ali os homens mais inteligentes e mais preparados do mundo.
Porém, ao ouvirem Rui discursar fluentemente em vários idiomas europeus, apresentando uma assombrosa bagagem de argumentos e informações que só era possível encontrar reunida nas maiores bibliotecas do mundo, todos curvaram-se diante daquela inteligência excepcional, daquela cultura enciclopédica. Foi sua consagração diante do mundo.
O estadista inglês W. Stead escreveu, maravilhado: "Entre tantos homens grandiosos e geniais, as duas maiores forças pessoais da Conferência de Haia foram o Barão de Marschall, da Alemanha, e o Dr. Barbosa, do Brasil… Todavia, ao término da Conferência, Dr. Barbosa pesava diante de todos mais do que o Barão de Marschall".
Ruy Barbosa (1849-1923) foi, portanto, a maior figura da intelectualidade brasileira do seu tempo, e uma das maiores expressividades culturais da comunidade mundial de sua época. Porém, o fato é que Rui Barbosa é hoje quase totalmente desconhecido da maioria dos brasileiros, que ignoram a grandeza do seu pensamento, o seu exemplo de grande estudioso, de orador genial.
Sua brilhante carreira como jurisconsulto e político confunde-se com a própria história do Brasil. Porém, nós, os que pertencemos à atual geração, desconhecemos quase que por completo os detalhes de sua vida, a grandeza de seu pensamento e a enorme herança cultural que ele nos deixou.
Diz o autor do verbete Rui Barbosa, na Enciclopédia Mirador: “O aparato erudito e a facúndia verbal, sobretudo o falar, e o escrever elaborado, criaram-lhe a lenda de ter sido o homem mais inteligente do Brasil em seu tempo, culto popularizado que se prolongou postumamente”.
UM GÊNIO ESQUECIDO E DESCONHECIDO
Porém, e infelizmente, o conhecimento da obra de Rui Barbosa é hoje privilégio tão-somente de juristas, de filólogos, de historiadores e de alguns literatos.
Consciente de tal fato, exporemos a seguir, criteriosa e seletivamente, trechos escolhidos de sua obra, particularmente no que diz respeito ao grande exemplo e aos muitos incentivos que ele deixou aos jovens.
O CÉLEBRE DISCURSO PALAVRAS À JUVENTUDE
Começaremos apresentando os “melhores momentos” do seu célebre discurso “Palavras à juventude”, pronunciado diante de uma turma de alunos do colégio Anchieta, em São Paulo.
Após saudar as autoridades presentes, Rui se dirige aos alunos e, no seu insuperável estilo de orador sublime, descreve a suntuosa paisagem que se estende diante do colégio, as serranias, os longes azulados, as verdejantes florestas e os pássaros que, nas manhãs orvalhadas, acordam os alunos com os seus cânticos maviosos e livres. Após descrever a importância de se educar a mocidade, Rui ressalta o valor de quem se dedica a cumprir essa nobre missão.
Em seguida, passa a tecer considerações sobre a responsabilidade da pátria na educação de seus filhos. Mas o que é a pátria?
“A pátria não é ninguém: são todos, e cada qual tem no meio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os que não invejam, os que não difamam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo”.
"NÃO" À PREGUIÇA E VAIDADE, E "SIM" AO ESTUDO
O estudo exige dedicação, exige esforços, exige que se caminhe com humildade, pois a vaidade tem perdido a muitos. Rui não amacia as palavras:
“Mocidade vaidosa não chegará jamais a virilidade útil. Onde os meninos camparem de doutores, os doutores não passarão de meninos.
“A mais formosa das idades ninguém porá em dúvida que seja a dos moços; todas as graças a enfloram e coroam. Mas de todas se despiu, em sendo presunçosa. Nos tempos de preguiça e ociosidade, cada indivíduo nasce a regurgitar de qualidades geniais. Mal esfloraram os primeiros livros, e já se sentem com força de escrever tratados. (...)
“Não conhecem a obediência aos superiores e a reverência aos mestres. São os árbitros do gosto, o tribunal das letras, a última instância da opinião. É uma superficialidade satisfeita e incurável, uma precocidade embotada e gasta, mais estéril que a velhice. Deus livre a esta de tais sucessores, e vos preserve de semelhantes modelos.”
Porém, meigamente Rui aponta o caminho que deve ser trilhado pelos jovens de valor:
“Sede, meus caros amiguinhos, tais quais o verdor florescente de vossos anos o exige: afervorados, entusiastas, intrépidos, cheios das aspirações do futuro e inimigos dos abusos de presente. Habituai-vos a obedecer, para aprender a mandar. Afazei-vos a esperar, para lograr concluir. Não delireis nos vossos triunfos. Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber.”
A IMORTAL ORAÇÃO AOS MOÇOS
Em 1920, Rui foi convidado como paraninfo a turma de bacharelandos em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, de onde ele saíra bacharel, há cinquenta anos. Porém, seu estado de saúde (ele morreria em 1923) não permitiu-lhe atender ao convite. Mas em compensação, os formandos – e todos os leitores de língua portuguesa – foram brindados com uma verdadeira obra-prima da oratória universal, o discurso Oração aos Moços – uma das últimas criações do grande vulto da inteligência brasileira.
Para finalizar esta apresentação de alguns aspectos da vasta e desconhecida obra de Rui Barbosa (a coleção de suas Obras Completas é composta demais de cem volumes), transcreveremos o que consideramos “os melhores momentos”, os (na minha opinião) melhores trechos de sua Oração aos Moços:
“Senhores: Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao Direito viessem receber no templo do seu ensino em São Paulo o selo de uma grande bênção, associando-se hoje com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos em que o ides esposar.
“Em verdade nos digo, jovens amigos meus, que o coincidir desta existência declinante com essas carreiras nascentes agora, o seu coincidir num ponto de interseção tão magnificamente celebrado, era mais do que eu mereceria; e, negando-me a divina bondade um momento de tamanha ventura, não me negou senão o a que eu não devia ter tido a inconsciência de aspirar”.
Após propor que eles (Rui e os bacharelandos) se aproximem, apesar da distância (Rui estava no Rio) na irmandade dos corações; após falar do zelo e da honestidade que devem nortear a vida dos jovens advogados, o velho mestre modula sua voz, e fala paternalmente aos moços. E as lições são riquíssimas:
“Estou-vos abrindo o livro da minha vida (...) Eis ao que vem o padrinho, o velho, o abençoador, carregado de anos e tradições, versado nas longas lições do tempo, mestre da humildade, arrependimento e desconfiança, nulo entre os grandes da inteligência, grande entre os experimentados na fraqueza humana. Que se feche, pois, alguns momentos, o livro da ciência; e folheemos juntos o da experiência. Desalviemo-nos do saber humano, carga formidável, e voltemo-nos uma hora para este outro, leve, comezinho, desalinhado, conversível, seguro, sem altitudes, nem despenhadeiros.
“Ninguém, senhores meus, que empreende uma jornada extraordinária, primeiro que meta o pé na estrada, se esquecerá de entrar em conta com as suas forças, por saber se a levará a cabo. Mas, na grande viagem, na viagem de trânsito deste a outro mundo, não há possa ou não possa, não há querer ou não querer.
"A vida não tem mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair, pela morte. Ninguém, cabendo-lhe a vez, se poderá furtar à entrada. Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída. E, de um ao outro extremo, vai o caminho, longo ou breve, ninguém o sabe, entre cujos termos fatais se debate o homem, pesaroso de que entrasse, receoso da hora em que saia, cativo de um e outro mistério, que lhe confirmam a passagem terrestre.
“Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo sublimar-se d’alma pelo contacto com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos.
“Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem por isso mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o melhor devo às manhãs e madrugadas.
“Muito vi em cinquenta anos. Mas o que constitui a experiência, consiste menos no ver, que no saber observar. Observar deduzindo, induzindo, e generalizando, com pausa, com critério, com desconfiança. Observar apurando, contrasteando, e guardando.
“Por derradeiro, amigos de minha alma, por derradeiro, a última, a melhor lição da minha experiência. De quanto no mundo tenho visto, o resumo se abrange nestas sete palavras:
“Não há justiça onde não haja Deus.”
Jefferson Magno Costa
Tradução Brasileira da Bíblia
ResponderExcluirPor concidência pesquisei sobre Ruy Barbosa poucos dias atrás!
Justamente por causa de sua participação na Tradução Brasileira da Bíblia ou também chamada VERSÃO BRASILEIRA.
Para "os apaixonados em praticar BÍBLIA",foi lançado um software chamado GLOW onde há a famosa Tradução Brasileira da Bíblia!!!
Já comprei o meu e posso garantir que realmente é divino(risos)!
Fiquem todos na santa PAZ DO SENHOR
Verdade, vou te chamar de irmão Marcelo, esse homem Ruy Barbosa muito contribuiu para a tradução da versão brasileira, essa biblia glow é interessante estuda-la, é um software biblico
ExcluirMaravilha, Marcelo! Obrigado pela dica.
ResponderExcluirirmão jeferson apaz, gostei muito da sua pagina digital, parabens, deixo aqui tambem o meu blog em que eu divulgo a palavra de Deus e anuncio coisas da minha cidade
Excluirhttp://jadsoncarvalho.blogspot.com.br/
A paz de Cristo pastor Jefferson, parabéns por tão conceituado blog que muito nos enriquece com seu eloquente conteúdo.
ResponderExcluirQuanto ao nosso compatriota Rui Barbosa, simplesmente foi ele um pequeno GRANDE gênio. Honra-me muito assinar-me:Levi Costa BARBOSA. Mas não posso esquecer-me do COSTA, uma vez que o digníssimo pastor Jefferson o traz em seu nome, rsrsrs.
Pois é, pastor Levi. O irmão é um privilegiado!Tem o sobrenome de uma ilustre família portuguesa (os Costas, que foram destemidos marinheiros e incansáveis desbravadores lusitanos de perigosos mares e longínquas terras no período das Grandes Navegações. Por eu também ser um deles, quando estive pela segunda vez em Lisboa, em 1998, fiz questão de ver o belíssimo brasão da família Costa); e como se não bastasse, o irmão também pertence à nobre família Barbosa, do nosso ilustre Rui! E por ter nascido no Estado que tem dado ao nosso país tantas figuras exponenciais da intelectualidade brasileira, o Maranhão, está aparelhadíssimo e pronto para ser um dos pastores que vão deixar marcas inapagáveis na história do Evangelho em terras brasileiras. Parabéns!
ResponderExcluirPastor Jefferson, obrigado pela informação concernente aos Costas lusitanos, confesso que ainda não havia buscado informações acerca dos mesmos. Agradeço por suas palavras referentes à terra de Antônio Gonçalves Dias, o meu Maranhão. Mas, as suas últimas palavras falam mais forte pra mim, eu as recebo como PALAVRAS PROFÉTICAS. E que não só o Sabiá cante nas palmeiras da minha terra, mas que multidões cantem louvores ao Senhor como resultado da salvação mediante a Palavra da Fé que pregamos.
ResponderExcluirapaz pastor o senhor é maranhense? eu sou do maranhão, de central perto de pinheiro, fica na paz
ExcluirPrezado pastor e amigo Levi: Naquele Grande Dia, quando todos nós estivermos na presença do nosso Senhor Jesus, isto, e somente isto é que vai valer a pena: apresentarmos almas como fruto do nosso trabalho evangelístico (e doutrinário) aqui na terra! Não vai importar se andamos de Ferrari ou de jegue, se comemos caviar ou farinha seca, se vestimos púrpura ou camisas puídas no colarinho, se moramos em um casebre ou no Tejhe Mahaal. O que vai contar mesmo é em quanto o nosso trabalhou influenciou para aumentar a população do Céu no seu número de cidadãos!
ResponderExcluirShalom!
ResponderExcluirUm texto brilhante, que fala de um personagem brilhante, só poderia ter sido escrito, por uma pessoa brilhante - Jefferson Magno Costa.
Sem mais para o momento, seu conservo
Pr Marcello Oliveira
E só um pastor brilhante, possuidor de uma cultura brilhante, poderia fazer um comentário tão brilhante.
ResponderExcluirShalom! Rui Barbosa foi um espadachim da palavra. Falava com desenvoltura, audácia e pertinácia. Da partitura do direito, decolava para a filosofia. A capacidade lógica de raciocínio, que nele era notável pela agilidade, não aguçou a ponto de estiolar a sensibilidade de que é tecida a vida. Enfim, a figura marcante de um profissional de talento invulgar, que só não era brilhante porque alçava voos bem mais altos, era genial.
ResponderExcluirDr. Jefferson Magno Barbosa, receba meu abraço!
Pr Marcello