terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A FERIDA NO CORAÇÃO DE JESUS

Jefferson Magno Costa


     Escrevi de propósito o termo “ferida no coração”, e não ferida do lado, pois toda a tradição afirma, e a experiência confirma que o golpe de lança dado no lado direito do corpo de Jesus atingiu a aurícula direita do seu coração, perfurando-lhe o pericárdio.
     “Mas quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Mas um dos soldados perfurou um dos lados com uma lança, e logo saiu sangue e água” (Jo 19.33,34). Já vimos no capítulo 2 qual foi a razão deste golpe de lança inexplicavelmente dado em um cadáver.
     O corpo do supliciado era legalmente devolvido à família, sob autorização dada pelo juiz. Mas o carrasco não o podia entregar a não ser após ter-se assegurado de sua morte (e quando necessário, após tê-la provocado) através de um golpe que abrisse o coração. Este gesto, que nos poderia parecer estranho, não foi outra coisa senão a execução de um regulamento militar.
     O derramamento de água e sangue do coração de Jesus sempre comoveu profundamente exegetas e teólogos. Quanto à água, vamos ver em breve, sem a menor sombra de dúvida, do que é que se trata.
     Constatamos, para nosso espanto, ter-se perpetuado através dos séculos a estranha ideia de que o sangue sempre se encontra coagulado em um cadáver, e que, sem milagre, não poderia ter saído sangue liquido do ferimento de Jesus. 
     No entanto, os sacrificadores e as pessoas que trabalham no abate de animais sabem muito bem que pelo menos as veias maiores sempre deixam correr uma onda de sangue quando são abertas durante a tarefa de se limpar um animal.
     Um outro fato é ainda mais milagroso, e é que se tenha podido ver sangue e água sair ao mesmo tempo, distintos um do outro, uma vez que deveriam ter-se misturado.
     Em que região do lado do corpo de Jesus teria sido aplicado o golpe de lança? Uma tradição aponta o lado direito do peito, e isto certamente está baseado na opinião comum de que o coração está situado do lado esquerdo do tórax, o que é errado. 
O coração é órgão mediano e anterior, e está deitado sobre o diafragma e entre os dois pulmões, por trás da couraça esterno-costal, no mediastino anterior. Só sua ponta é que está nitidamente à esquerda, mas sua base ultrapassa, à direita, o esterno.
     Mas limitemo-nos ao texto evangélico. Um dos soldados feriu-lhe o lado com a lança, e logo saiu dali sangue e água. Pedi à anatomia e a experimentação a explicação deste texto, e agora vamos ouvi-las tal como me responderam.
       Após o soldado golpear Jesus, houve evidentemente um importante derramamento de sangue, do qual grande parte deve ter caído no chão, e o resto se coagulou em contato com a pele. 
     A lança que feriu Jesus dever ter escorregado sobre a 6ª costela, e perfurado o 5° espaço intercostal, penetrando com profundidade ali. Que encontrou em seguida? A pleura e o pulmão.
     Se o soldado citado por João tivesse dado seu golpe em direção vizinha à vertical primeiro, quase não teria podido perfurar o espaço intercostal; e se o tivesse conseguido, a ponta de sua lança se teria perdido no pulmão, onde só teria feito sangrar algumas veias pulmonares. 
     Teria sido possível correr sangue em muito pequena quantidade, mas não água. Se ali houvesse líquido pleural, estaria este forçosamente acumulado no ponto inferior, por trás e sob o nível da chaga.
  A lançada foi, portanto, oblíqua e próxima da horizontal, o que é fácil de executar se a cruz, conforme defendo, não fosse muito alta. Se ultrapassasse os dois metros, o que julgo inverossímil, teria sido necessário alguém montado a cavalo para desferir esse golpe.
     Mas os soldados e os guardas, principalmente os enviados por Pilatos para o ato de quebrar as pernas, eram todos de infantaria, e o centurião era também um oficial não montado. 
     Com a cruz baixa, de dois metros, um soldado não teria que fazer outra coisa senão levantar os braços na posição que chamamos em esgrima “cabeça em guarda e atacando” para desferir semelhante lançada.
     Este golpe desferido no coração pela direita, sendo sempre mortal, era um dos golpes ensinados nos exércitos romanos. Tanto mais que o lado esquerdo estava normalmente protegido pelo escudo. 
     Ao reler os Comentários de César, descobri que a expressão “latus apertum” – lado descoberto (desprotegido) – era usualmente utilizada para designar o lado direito.
     O especialista em esgrima Farabeuf nos ensina que os golpes desferidos nos espaços intercostais, no bordo direito do esterno, são implacáveis por abrirem a parede muito delgada da aurícula cardíaca direita. 
     E isto continua, perfeitamente exato hoje, ainda que com rápida intervenção de um cirurgião. Esse golpe é sempre mortal.

     Experiências com cadáveres mostraram que a ponta da lança se dirige normalmente através da parte anterior, delgada, do pulmão direito e atinge, segundo as radiografias, após um trajeto de 8cm, o bordo direito do coração envolvido pelo pericárdio.
Ora, aqui está o cerne da questão. A parte do coração que ultrapassa à direita o esterno é a aurícula direita. Esta aurícula, prolongada em cima pela veia cava superior e em baixo pela veia cava inferior, está no cadáver sempre cheia de sangue líquido.
     Jesus, como lemos de início no texto evangélico, já estava morto por ocasião da lançada. Parece que João compreendeu admiravelmente a importância deste fato porque acrescenta, com insistência significativa, que nos faz lembrar as primeiras linhas de seu Evangelho: 
     “Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que a registrou. Sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”, (Jo 21.24).
     Se o golpe tivesse sido desferido do lado esquerdo, teria atingido os ventrículos que no cadáver estão vazios. Não teria então corrido sangue, mas tão-somente água. A tradição indica que a chaga estava do lado direito.

EXPERIÊNCIAS COM CADÁVERES
     Em uma série de corpos para a autópsia, executei várias experiências. Usei, primeiramente, uma agulha comprida adaptada em uma grande seringa. Localizei a altura do ferimento produzido no corpo de Jesus, enterrei rapidamente a agulha no 5° espaço intercostal direito sem cessar de aspirar, apontando sempre para dentro e para o alto e um pouco para trás.
      Entre os 9 e 10cm, penetrei na aurícula direita e, como continuava a aspirar, enchi a seringa de sangue líquido. Enquanto atravessava o pulmão, a aspiração contínua não trouxe líquido algum, nem sangue, nem água.
     Enterrei, em seguida, nas mesmas condições uma grande faca de amputação. Na mesma profundidade, ela abriu a aurícula direita e sangue e água vindos do coração escorreram ao longo da lâmina, através do túnel perfurado no pulmão.
     Todas estas experiências foram seguidas, evidentemente, de dissecação e feitas em cadáveres de mais de 24 horas após constatado o óbito, de acordo com o regulamento das autópsias.
     O sangue vem, portanto, naturalmente, do coração e, em tal quantidade, não poderia vir senão dali. Mas de onde vem a água?
     Eu já notara nas minhas primeiras autópsias que o pericárdio continha sempre uma quantidade de líquido (hidropericárdio) suficiente para que fosse visto escorrer pela incisão da folha parietal. Em certos casos chegava a ser mesmo muito abundante.
     Tornei a tomar minha seringa e empurrei a agulha muito lentamente, ao mesmo tempo que ia aspirando, sem interrupção. Assim, senti a resistência do pericárdio fibroso e, logo depois de tê-lo perfurado, aspirei notável quantidade de líquido. Depois, prosseguindo a agulha seu caminho, aspirei sangue da aurícula direita.
     Em seguida retomei a faca de amputação, e enterrando-a com as mesmas precauções, vi primeiro correr água (serosidade), e depois, empurrando mais para adiante, o sangue.
     Por fim, se se enterra brutalmente esta faca, vê-se sair da chaga considerável fluxo de sangue; mas pode-se distinguir, sobre seus bordos, que escorre também uma quantidade menos importante de serosidade pericárdica (líquido).
     Era portanto, a água, líquido pericárdico. Pode-se supor que após aquela agonia excepcionalmente penosa que o nosso Salvador enfrentou, esse líquido do pericárdio fosse particularmente abundante e suficiente para que João, testemunha ocular, tivesse podido ver claramente correr sangue e água. Para ele a serosidade não podia ser senão água, da qual tem toda a aparência.
     Como no corpo não há outra espécie de água a não ser serosidade, não pode ser água pura. Aliás, nós mesmos a chamamos de “hidropericárdio”, que quer dizer “água contida no pericárdio”.
     Ao ser erguido na cruz, Jesus estava sofrendo as consequências de uma “pericardite serosa traumática”. Essa pericardite fora provocada pelos golpes, pauladas e sobretudo pelo açoitamento atroz sofrido no tórax, quando ele estava no pretório de Pilatos. 
     Essa violência certamente provocou a pericardite que, após algumas horas, produz um derramamento seroso rápido e abundante.
     Um médico é bem capaz de imaginar os graves incômodos que essa lesão deve ter ocasionado: dores precordiais dilacerantes, opressão, angústia, calafrios, febre e por fim dispnéia intensa que sobrevém à asfixia por tetania dos músculos inspiradores. Assim se explicaria sua extrema fraqueza na subida do Calvário.
Jesus não pôde nem sequer carregar a cruz, ainda que reduzida só ao patíbulo, nos 600 metros que separavam o pretório do Gólgota, e foi preciso que Simão o substituísse. Assim se explica também, em parte, suas quedas no caminho para o Calvário.
     (Esta e outras impressionantes descrições de todos os sofrimentos pelos quais o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo passou para nos resgatar na cruz do Calvário, foram escritas há quase 100 anos por um grande estudioso e um dos maiores cirurgiões de toda a história da Medicina, o médico francês Pierre Barbett, no livro Um Médico Descreve a Crucificação de Cristo, à venda neste blog Sublime Leitura. Desça a barra de rolagem até o final desta página, e veja como adquiri-lo).
Jefferson Magno Costa

3 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo. Ao iniciar a leitura achei o assunto bem interessante. Este e os demais artigos que, de maneira singular, o irmão Jefferson retrata passagens bíblicas com muita clareza. Shalom.

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  2. Se a irmã é a Marion Vaz, filha do grande jornalista Miguel Vaz, que trabalhou comigo na CPAD, saiba que ele foi um grande amigo e um dos maiores homens que já conheci no mundo intelectual evangélico. Porém, se não é filha dele, fica assim mesmo meu elogio aqui a esse grande homem de Deus.

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  3. sim, gostei, porém e a separação da água e sangue. Dá a impressão ao ler a biblia que foram como que dois jatos um de agua e outro de sangue. Mas parece que não foi, segundo o texto acima, algo miraculoso,senão unicamente explicável pela medicina.

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