quinta-feira, 20 de maio de 2010

COMO NOS PREPARARMOS PARA SERVIR AO SENHOR COMO ESCRITORES EVANGÉLICOS, E COMO APERFEIÇOAR O NOSSO TALENTO

Jefferson Magno Costa
 
Entre nós, os evangélicos (e por que não generalizar? também entre os não-evangélicos) existem muitas pessoas desinformadas quanto ao que é necessário aprender para se escrever bem. Essas pessoas talvez não saibam que escrever é uma arte, e não produto de simples improvisação. E na condição de arte, tem seus segredos, as suas exigências de natureza técnica.
     Quando alguém se propõe a escrever um artigo ou um livro, subentende-se que já possua noções básicas da arte de escrever, conheça as normas básicas que regem o uso correto de sua língua, esteja plenamente conscientizado da necessidade de pesquisa e domínio da técnica de elaboração inerentes ao gênero da obra que resolveu criar, e saiba classificá-la dentro dos diversos segmentos em que a literatura se divide.
     Caso isso não ocorra, essa pessoa dificilmente conseguirá produzir algo de real valor, e jamais saberá a que altura o seu talento a poderia conduzir, no vastíssimo céu da criação literária. A primeira condição básica para se aprender a escrever é aprender a ler. Você deve ter sorrido ao ler esta frase, não sorriu? Ou deve ter refletido com os seus botões: “Bem, creio que possuo esta primeira condição, pois se não a possuísse não estaria lendo este artigo.”
Acontece que não estou falando do mero ato mecânico de correr os olhos sobre as palavras e apreender o sentido primário do que elas expressam. Esta é a chamada leitura de nível 1. Já lhe falaram que existem quatro níveis de leitura?
     O primeiro desses níveis é chamado de leitura elementar, básica ou inicial. Todos os que saíram do estado de analfabetismo para o estado de alfabetizados, são capazes de realizar esse tipo de leitura.
      O segundo nível é chamado de leitura inspecional. É aquele em que você aprende a inspecionar o conteúdo de um livro antes mesmo de lê-lo por completo, para saber se ele realmente traz as informações que você espera encontrar nele.
     O terceiro nível é chamado de leitura acumulativa. É quando você lê um livro como parte de uma pesquisa, de um conjunto de livros que lhe ajudarão a desenvolver, provar, demonstrar, associar, concluir ou refutar uma tese, uma linha de raciocínio, uma determinada ideia.
     O quarto nível é chamado de leitura criativa. Ele está intimamente associado ao anterior, mas pertence a uma fase mais avançada de leitura. Nele, você redobra sua atenção para assimilar técnicas, detalhes da arte de escrever, bom-gosto na escolha das palavras, na construção da frase, exemplos de clareza de pensamento, de equilíbrio na estruturação do livro. É uma leitura tipicamente profissional, durante a qual o leitor é também autor. Nesse nível, você lê para aprender como se deve escrever.
     Portanto, quando falei que a primeira condição imposta a alguém que deseja escrever corretamente é aprender a ler eficazmente, referi-me a esse quarto nível de leitura. O escritor ou aprendiz de escritor deve sempre ler com a mentalidade de quem estará sempre diante do desafio de criar seus próprios textos. Ele precisa seguir as lições dos grandes artistas da palavra, dos grandes modelos da nossa língua, em especial, dos clássicos. Sobre essa necessidade, o maior de todos os nossos escritores, Machado de Assis, deixou-nos uma excelente observação:
     "Feitas as exceções devidas, não se leem muito os clássicos no Brasil. Entre as exceções poderia eu citar até alguns escritores, cuja opinião é diversa da minha neste ponto, mas que sabem perfeitamente os clássicos. Em geral, porém, não se leem, o que é um mal. Escrever como Azurara ou Fernão Mendes Pinto seria hoje um anacronismo insuportável. Cada tempo tem o seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas da linguagem, desentranhar delas mil riquezas que, à força de velhas, se fazem novas,  não me parece que se deva desprezar. Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos os modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum."
      Portanto, todo escritor evangélico, ou candidato a escritor evangélico, deve ler assiduamente os grandes escritores do Brasil e de Portugal, antigos e modernos. Ler esses grandes mestres da palavra escrita com o intuito de descobrir, admirar, assimilar a beleza, a técnica, a correção e a originalidade existentes nos seus livros. E não pense você que isto seja uma tarefa fácil.
      O moralista, filósofo estóico e educador de imperadores, Sêneca 4 a.C.-65d.C.), o filósofo romano que mais influenciou os escritores da Igreja Primitiva, escrevendo ao seu discípulo Lucílio, aconselhava-o a ler muito os bons autores, mas não muitos autores, argumentando que “a leitura de uma multidão de autores e de obras de toda a espécie pode dar-se por capricho ou inconstância. Faça uma escolha de escritores, para você poder se deter neles e se fortificar com o gênio deles, se você quiser assim guardar recordações que lhe sejam fiéis... Aqueles que passam a vida a viajar, acabam por ter milhares de companheiros e nem sequer um amigo. A mesma coisa acontece necessariamente a quem se descuida de se relacionar com um autor favorito, para lançar, correndo, um olhar rápido sobre todos ao mesmo tempo.”
     Quem conhece um pouco de história da literatura pode avaliar a posição que o alemão Johan Wolfgang von Goethe ocupa entre os escritores da literatura universal. Ele faz parte da ilustríssima galeria composta pelos dez maiores gênios da palavra escrita, em todos os tempos. Esse mesmo Goethe, que leu milhares de livros nos doze idiomas que conhecia, reconheceu, já nos últimos dias de sua vida, que “aprender a ler é a mais difícil das artes. Dediquei-me a isso oitenta anos e não posso me dar por satisfeito.”
     Portanto, ler de maneira potencialmente proveitosa é muito difícil. É também uma arte, uma técnica, e requer escolha, orientação e método. Pois o aspirante a escritor que lê muitos livros de maneira desordenada e desatenta, corre o risco de despersonalizar-se, de tornar-se incapaz de produzir algo de sua própria autoria. Arrisca-se a transformar-se em um mero imitador de coisas alheias, uma esponja, um plagiador  – aquele que se apropria de textos de outros autores e os apresenta como seus.
     Para podermos tirar proveito dos livros que lemos (falo aos que pretendem aprender a escrever, e àqueles que não se utilizam dos livros como meros passatempos, e sim como instrumentos de edificação, de formação cultural), é necessário lermos metodicamente, com um propósito formativo, cumprindo um programa de leitura que no final nos capacite a fazer a chamada intertextualização, e tirar o máximo proveito do que lemos, para servirmos de maneira plena e digna ao Senhor que nos emprestou o nosso talento.

Jefferson Magno Costa
   

7 comentários:

  1. Pastor Jefferson, este texto foi muito esclarecedor para mim. Que Deus continue o abençoando grandemente.

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  2. Obrigado, meu querido irmão Neemias Raimundo. Na pasta Literatura, o irmão encontrará outros artigos que lhe poderão ser úteis.

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  3. Pastor Jefferson
    Há muito acompanho seus textos através da Revista Fiel, agora este espaço me surpreende sobremaneira.
    Sigo o evangelho há pouco mais de dez anos e me empenho por conhecer a Palavra ao ponto de, escrever textos que me tocam. Criei então o blog
    http://momentodeler.blogspot.com/ onde coloco, além dos meus próprios textos outros que julgo de interesse comum.
    Nessa última revista, tempo demorado investi na leitura "De onde vem o sentimento de vazio que está matando os seres humanos?".
    Não me contive apenas às linhas; percorri as entrelinhas quando resgatei os lírios do campo de Érico Veríssimo, um dos meus escritores prediletos e o vento me levou ao poeta que, se fingidor é dos que conseguem fingir com maestria.
    Pastor, obrigada por este espaço, pelo ensinamento que coloca público. Encontrei este bom tesouro e dele me apossei e jamais me distanciarei. Inajá

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  4. Prezada irmã Inajá Martins, muitíssimo obrigado pelas preciosas palavras de reconhecimento ao conteúdo do nosso blog. São pessoas como a irmã, sensíveis, sinceras e cultas, que nos encorajam a continuar escrevendo e postando artigos no Sublime Leitura.

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  5. Pastor Jefferson
    eu tenho bebido da fonte que é este blog como um sedento que encontra um oásis em meio ao deserto. Obrigado por nos trazer tanta preciosidade, tanto esclarecimento e orientações
    do universo das letras e da literatura. Por reconhecer as minhas grandes limitações nesta área
    e por ter um enorme desejo de aprender a respeito , tenho como certo que o senhor com o seu trabalho é resposta de oração. Ter um mestre à nossa disposição com um vasto material como este e não ter que pagar por isso (senão com oração, rogando as bênçãos de Deus sobre a sua vida e sobre o seu trabalho), é um privilégio! Obrigado mesmo. Um forte abraço!

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  6. Caro Pastor Jefferson

    Prazer em ocupar este espaço novamente.
    Comentei o texto com meus alunos em sala de aula.
    Postei trechos e referência a leitura na íntegra em nosso blog http://encontrosdepalavras.blogspot.com/
    A matéria esclarecedora, julgo ser de grande valia aos jovens que encontram tanta dificuldade nessa prática e universo tão fascinante da leitura e escrita, caso a mente esteja aberta e receptiva ao assunto levantado.
    Obrigada sempre / Inajá
    http://encontrosdepalavras.blogspot.com/

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  7. Ótimo blog. Sou uma serva do Deus altíssimo e quero mais e mais servir ao Senhor , na área em que ele me chamou.
    Obrigada pelo excelente serviço prestado.
    Obed R. Souza

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