Jefferson Magno Costa
A primeira referência histórica sobre Jesus Cristo fora das páginas da Bíblia feita por um escritor não-cristão é de autoria do historiador judeu Flávio Josefo. Antes de citarmos as palavras de Josefo acerca do nosso Salvador no livro Antiguidades Judaicas, vejamos quem era esse historiador.
“Não sou eu de baixa linhagem; sou descendente de sacerdotes”, diz Josefo sobre si mesmo em sua Autobiografia, inserida nas 50 primeiras páginas do seu outro livro Historia das Guerras de los Judios. (Traduzida do grego para o espanhol por Juan Martin Cordero. Editora Albatros. Buenos Aires. 1944. 2 volumes), que juntamente com o livro Contra Ápion completam as obras desse fariseu nascido no ano 37 d.C.
No ano 66, Flávio Josefo comandou as tropas judaicas que combatiam os romanos na Galiléia, e durante a defesa da fortaleza Jotapata, viu essas tropas serem dizimadas até restar poucos homens. Não aceitando a proposta de suicidar-se com os judeus sobreviventes, Josefo rendeu-se e foi levado para o quartel general das tropas romanas que ocupavam a Palestina sob o comando de Vespasiano.
Em 69 d.C., Vespasiano voltou para Roma e lá foi proclamado imperador, deixando seu filho Tito com o comando das tropas romanas que no ano seguinte (70 d.C.) destruíram Jerusalém.
Josefo foi conduzido para Roma, e lá, após tornar-se um dos protegidos do imperador Vespasiano, escreveu o livro Antiguidades Judaicas, onde se encontram duas referências a Jesus.
A primeira delas acha-se no livro XVIII, capítulo IV, parágrafo 772 das Antiguidades. Após falar sobre uma revolta dos judeus contra Pilatos, ocorrida no ano 27 d.C., por esse ter pretendido vender peças do tesouro do Templo para levantar recursos financeiros a fim de trazer a Jerusalém a água de uma nascente afastada, Josefo diz magistralmente:
“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia podemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade, e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito, e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que o vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.” (Tradução do Pe. Vicente Pedroso. Editora das Américas. 1º parte. 5º volume. São Paulo.1956).
Devido à magnitude destas afirmações, alguns críticos, em sua incredulidade, têm relutado em aceitar este texto de Flávio Josefo como totalmente de sua autoria, afirmando que ele foi retocado por algum cristão primitivo. O termo que se usa para isto é interpolação, ou seja: segundo esses críticos incrédulos, teriam sido acrescentadas às palavras de Josefo – precisamente as que estão italizadas por nós – várias palavras que, segundo os críticos, não existiam no texto original.
Os inimigos de Jesus Cristo e do Cristianismo afirmam isto por não acreditarem que um judeu fosse capaz de fazer declarações tão belas e contrárias ao espírito da política e da religião judaica, conforme Josefo fez.
Porém, eruditos e sábios cristãos como Harnack, C. Burkitt e Emery Barnes, após longos e minuciosos estudos estilísticos e filológicos das Antiguidades, provaram que o texto de Josefo sobre Jesus é autêntico em sua totalidade.
JOSEFO FALA SOBRE JOÃO BATISTA
Outra referência de fundamental importância para se provar a autenticidade dos relatos dos evangelistas quanto à existência de Jesus também nos foi deixada por Flávio Josefo. Trata-se da confirmação histórica da existência de alguém que representou um importante papel na vida de Jesus, tendo sido, inclusive, seu precursor (João 3.28): João Batista!
Após falar sobre o caso de adultério envolvendo Herodes e Herodias, mulher do irmão de Herodes (veja Lucas 3.19,20), Josefo mostra como esse adultério contribuiu para o início de uma guerra, durante a qual o exército herodiano foi completamente derrotado.
É nesse trecho da narrativa que Josefo fala acerca de João Batista, e com isso fornece-nos mais uma confirmação da verdade histórica dos tempos de Jesus, e, consequentemente, da existência do nosso Salvador. Eis o texto de Josefo:
“Vários julgaram que aquela derrota do exército de Herodes era um castigo de Deus, por causa de João, cognominado Batista. Era um homem de grande piedade, que exortava os judeus a abraçar a virtude, a praticar a justiça e a receber o batismo, depois de se terem tornado agradáveis a Deus, não se contentando em só não cometer pecados, mas unindo a pureza do corpo à pureza da alma. Assim como uma grande multidão de povo o seguia para ouvir a sua doutrina, Herodes, temendo que o poder que ele tinha sobre eles viesse a suscitar alguma rebelião, porque eles estavam sempre prontos a fazer o que ele lhes ordenasse, julgou dever prevenir o mal para não ter motivo de se arrepender por ter esperado muito para remediá-lo. Por esse motivo mandou prendê-lo numa fortaleza de Maquera, de que acabamos de falar, decapitando-o em seguida, e os judeus atribuíram essa derrota de seu exército a um castigo de Deus por um ato tão injusto.” (Antiguidades Judaicas. Livro XVIII. Capítulo VII. Parágrafo 781).
REFERÊNCIAS HISTÓRICAS SOBRE JESUS NO TALMUDE
A segunda grande fonte de origem judaica que confirma a existência histórica de Jesus fora da Bíblia é o Talmude – coleção de doutrinas e comentários acerca da lei, elaborada a partir do primeiro século da Era Cristã, por rabinos que aproveitaram a “tradição dos anciãos” que vinha sendo transmitida verbalmente pelos judeus, de geração em geração. Em meio a esses escritos rabínicos, existem várias referências a Jesus.
Sendo a codificação tardia de tradições e de fatos, de interpretações e sentenças sobre a lei, além de incluir as discussões apaixonadas de muitos rabinos, o Talmude, tanto na sua edição de Jerusalém, como na de Babilônia, faz muitas referências a Jesus, tratando-o, porém, quase sempre com preconceitos, mentiras ou hostilidades.
Sendo a codificação tardia de tradições e de fatos, de interpretações e sentenças sobre a lei, além de incluir as discussões apaixonadas de muitos rabinos, o Talmude, tanto na sua edição de Jerusalém, como na de Babilônia, faz muitas referências a Jesus, tratando-o, porém, quase sempre com preconceitos, mentiras ou hostilidades.
Todavia, apesar de todos esses sentimentos contra o nosso Salvador, o judaísmo, a partir do nascimento de Jesus Cristo, sempre reconheceu sua existência histórica. Embora falando mal de Jesus, os rabinos, cujos escritos foram reunidos no Talmude, confirmam, direta ou indiretamente, que Jesus Cristo existiu, pregou sua mensagem, confessou ser Deus e por isso foi condenado à morte.
No Tratado do Sinédrio, número 43.a (uma das partes que compõem o Talmude), existe uma referência aos “atos de encantamento de Jesus” (alusão aos milagres por Ele realizados), e à sua crucificação na vigília da Páscoa. (O filósofo francês Voltaire certamente não conhecia esta passagem do Talmude).
Porém, a mais famosa dessas referências rabínicas a Jesus Cristo está ligada ao nome de Eliezer ben Hyrcanos, um dos mais ilustres rabinos entre os tanains. (Esses tanains eram doutores na Lei e sucessores dos fariseus. Surgiram em Jerusalém no final do 1º século da Era Cristã).
Certa vez o rabino Eliezer foi preso sob a acusação de heresia. Depois de haver passado alguns dias na prisão, libertaram-no. No caminho de volta para sua casa, Eliezer encontrou-se com seu amigo Akiba, e este, que estava mais ou menos informado sobre o caso, quis saber mais detalhes sobre o motivo de sua prisão. Eis como o Talmude registra o diálogo:
“Mestre, tu deves ter ouvido uma palavra de minuth (heresia); essa palavra deu-te prazer, e foi por isso que foste preso. Ele (Eliezer) respondeu: Akiba, tu fizeste-me recordar o que se passou. Um dia que eu percorria o mercado de Séforis, encontrei lá um dos discípulos de Jesus de Nazaré; Tiago de Kefar Sehanya era o seu nome. Ele disse-me: Está escrito na vossa lei (Deuteronômio 23.18): ‘Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto...’ Que fazer dele? Será permitido usá-lo para construir uma latrina para o Sumo Sacerdote? E eu não respondi nada. Disse-me ele: Jesus de Nazaré ensinou-me isto: o que vem de uma prostituta, volte à prostituta; o que vem de um lugar de imundícies, volte ao lugar de imundícies.’ Esta palavra agradou-me, e foi por tê-la elogiado que fui preso como Minuth (herege).” (Citado por Jaques de Bivort, no livro Deus, o Homem e o Universo. Livraria Torres Martins. Porto. 1957. p.388).
Estas são as referências judaicas sobre a existência histórica do Filho de Deus. Existem outras deixadas por escritores romanos, gregos e siríacos. totalizando 11 fontes extra-bíblicas que confirmam a existência histórica de Jesus.
Jefferson Magno Costa
Muita sabedoria ,pra quem tem interesse em aprender, e muito. Parabéns pelo conhecimento que Deus continue te abençoando.
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