domingo, 3 de abril de 2022

ONDE ESTÃO OS JOVENS POETAS EVANGÉLICOS?

 Jefferson Magno Costa

     Bom seria que o salmista Davi pudesse escrever este artigo. Teríamos nele, então, o próprio lirismo de Deus, sublimemente extravasado; seríamos conscientizados do justo da nossa poesia, e ele certamente nos ensinaria a fazê-la melhor.
     Pois ninguém mais sábio e vestido de mais autoridade que o salmista Davi, aquele ágil, paciente e corajoso pastorzinho, que junto ao rebanho e na solidão do campo compunha poemas de louvor a Deus.
     Aquele sublime adolescente, de belo semblante e prudentes palavras, que tangendo a sua harpa aliviava as perturbações de espírito de um rei (1 Samuel 16.14-23). Aquele iluminado das alturas, que tocado pelo próprio hálito de Deus compôs os mais belos cânticos religiosos conhecidos, os Salmos.
     Mas o salmista e sua harpa há muito foram convocados para as regiões liricamente ocupadas pela majestade de Cristo. Resta ao leitor se conformar com a brevidade e as limitações de recursos críticos do autor deste artigo.
     Independente de qualquer conceito usual, para a grande maioria dos evangélicos, poesia é aquele sentimento elevado e comovente que há nas palavras de um declamador que, em pleno culto e diante da igreja, recita o seu eloquente poema, repleto de belas e inspiradas imagens, obrigatoriamente composto em linguagem simples, desenvolvendo um conhecido tema da Bíblia, seja ele histórico, doutrinário, biográfico ou simplesmente lírico.
     Sendo nossos primeiros poetas produtos de tal concepção, eles produziram uma poesia que, considerada para fins de enriquecimento do panorama da poesia brasileira, quase nada representou, por alguns fatores que a desqualificaram. Porém, considerada para fins de ação evangelística, o seu mérito é digno de ser destacado. Pois foi entre um povo simples que essa poesia floresceu.
      Se considerarmos poeta aquele indivíduo capaz de desentranhar o sentimento do belo que há escondido nas palavras, na multidão que caminha, nos grandes propósitos, nas dificuldades, no sofrimento, na esperança, no amor etc, não serão a Harpa Cristã, o Cantor Cristão e o Hinário para o Culto Cristão verdadeiros florilégios do que de mais belo, rico e sincero produziram nossos primeiros poetas evangélicos?
      Ali as muitas vozes em uníssono louvam as múltiplas e grandes maravilhas do Senhor. Ali está uma poesia produzida por aqueles que iniciaram o árduo trabalho de semeadura do evangelho no Brasil. Homens e mulheres de grande estatura espiritual, que certamente tiveram momentos de legítima inspiração cristã, mergulhados que estavam nas dificuldades, nas incompreensões, nas distâncias, mas também nos janeiros, nas auroras, no grandioso amanhecer do Evangelho no Brasil.
     Antes de finalizar este brevíssimo artigo, quero dirigir-me aos que compõem o novo quadro da poesia evangélica em nosso país, especialmente aos jovens. Sei que não são muitos, e quase todos mantêm-se anônimos, dispersos nesse país continental, e desconhecidos uns dos outros.
    Quero lembrar a esses jovens que a condição básica para o caminhar da Literatura no mundo tem sido sempre a aversão que o novo sente pelo velho e, consequentemente, a negação do velho e a afirmação do novo.
     Porém, conforme nos advertiu Machado de Assis, “a extinção de um grande movimento literário não significa a condenação formal e absoluta de tudo o que ele construiu e afirmou; muita coisa entra e fica na herança comum da literatura”.
     Os jovens podem e devem continuar a produzir a atual poesia evangélica, temática e tecnicamente mais elevada, porém jamais devem desprezar a poesia que nossos primeiros poetas produziram, pois ela foi quem primeiro justificou nossa existência como poetas evangélicos, poetas simples, inspirados em um Evangelho amplamente alicerçado na simplicidade.
Jefferson Magno Costa

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