Jefferson Magno Costa
Lucas nos diz expressamente o motivo que o levou a escrever seu evangelho: “Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado” (Lc 1.4). Ou seja: Para que, recordando-as continuamente, tenhas segurança, e na segurança, permaneças. Quanto a João, ele manteve-se silencioso com relação à causa que o levou a escrever seu evangelho. Mas há uma tradição antiga, que chegou até nós, através da qual ficamos sabendo que João não resolveu escrever por puro acaso. E o motivo foi este: como os outros três evangelistas haviam se empenhado amplamente em destacar o grandioso fato de Deus ter-se feito homem e nascido entre nós, deixando em silêncio o sublime assunto da divindade de Jesus, para preencher essa lacuna, João recebeu, muitos anos depois que os outros três evangelistas escreveram, inspiração do próprio Senhor, e escreveu o quarto evangelho.
E esse grandioso empenho de João em destacar a divindade de Jesus é fácil de ser constatado não só por tudo o que o evangelista narrou, mas sobretudo pelo prólogo do quarto evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).
João não começa o seu evangelho, como os outros evangelistas, por assuntos terrenos, e sim por assuntos celestiais, que é o que lhe interessava, e fundamentado neles, compôs o quarto evangelho.
Também é tradição que Mateus, por solicitação dos judeus que se haviam convertido, deixou-lhes por escrito tudo o que lhes pregara por palavra, compondo o seu evangelho na língua hebraica. Por estar escrevendo para judeus, Mateus empenhou-se com afinco em demonstrar-lhes que Cristo descendia de Abraão e de Davi.
Atendendo também a pedidos de muitas pessoas que se haviam convertido nas mais variadas cidades daquela época, Marcos compôs o seu evangelho no Egito, fundamentando-se em tudo o que o apóstolo Pedro lhe contara.
Mateus começa seu evangelho imediatamente pela genealogia de Jesus, porque nada pode tranquilizar tanto a um judeu como saber que Cristo, o Messias, descendia de Abraão e de Davi, e que ele viera para trazer salvação ao povo judeu. Porém Lucas, falando universalmente para todos, conduz o início de sua narrativa para trás, recuando, no capítulo da genealogia de Jesus (Lc 3.23-38), até Adão, pois Cristo viera para salvar não só o povo judeu, mas toda a humanidade.
(Trecho das Noventa Homilias sobre o Evangelho de Mateus, pregadas na Igreja de Antioquia, entre os anos 390 a 398, por João Crisóstomo, o maior pregador da língua grega após o apóstolo Paulo. Tópico 4 da 1ª Homilia. Traduzido e adaptado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa