Por que será que sendo tantos os discípulos do Senhor, só dois apóstolos escreveram dois dos quatro evangelhos? Os outros dois evangelhos foram escritos por dois companheiros dos apóstolos. Por quê? Além de Mateus e João, discípulos do Senhor, os outros dois evangelistas foram um companheiro de Paulo (Lucas) e um companheiro de Pedro (Marcos).
O motivo de outros, entre os apóstolos, não terem escrito mais evangelhos, é que nada faziam por ambição de honra, mas unicamente com o objetivo da utilidade. Ora, mas será que não teria sido suficiente um único evangelista para contar tudo? Sim, certamente que teria sido. Mas o fato de terem sido quatro os que escreveram os evangelhos, e o fato de não os terem escrito na mesma data, nem no mesmo lugar, nem depois de se reunirem para entrar em acordo e, assim mesmo, os quatro terem falado como se fossem uma única boca, é a prova máxima da verdade.
Porém, alguém pode replicar que o que aconteceu foi exatamente o contrário; ou seja: os evangelhos apresentam discordância em alguns detalhes. Pois eis aí outro aspecto ultraimportante em favor de sua veracidade. Porque se concordassem exatamente em tudo – no lugar, no tempo e nas mesmas expressões – os inimigos da Verdade se levantariam unanimemente para acusar os evangelistas de terem se reunido antes de escrever seus evangelhos, e entrado em acordo no que tange a todos os detalhes dos fatos, pois uma total concordância é humanamente impossível.
Porém, esse desacordo, que não passa de um aparente desacordo nos detalhes, isenta os evangelistas de toda suspeita, e é a mais brilhante defesa do caráter deles. Porque, se eles contaram alguma coisa de maneira diferente com relação às circunstâncias de lugar e de tempo, nada disso prejudica a essência da Verdade.
O que eu gostaria que vocês tivessem certeza é que, nos pontos principais do que diz respeito aos deveres da nossa vida cristã e ao objetivo da nossa fé, não há nos evangelhos a mínima discrepância. Que pontos principais são esses? Que Deus fez-se homem, que realizou milagres, que foi crucificado, que foi sepultado, que ressuscitou, que subiu ao Céu, que há de julgar a humanidade, que nos deixou seus mandamentos de salvação, que não estabeleceu uma lei contrária à antiga, que é Filho, que é Unigênito, que o é por natureza, que é da mesma substância do Pai, e outras verdades semelhantes. Acerca de tudo isto, o que se constata é que há nos quatro evangelhos perfeita harmonia.
Também não devemos nos abalar diante do fato de, com relação aos milagres, nem todos os quatro evangelistas terem narrado todos, e sim uns contaram uns, e outros contaram outros. Porque se todos tivessem contado todos, não haveria porque terem sido quatro os evangelistas, ou se todos tivessem contado coisas diferentes e novas entre si, não teríamos hoje como provar a concordância entre eles.
Por um lado, todos contaram muitas coisas em comum; e por outro, cada um apresenta detalhes peculiares a cada um, e o resultado disto é que, na narração de nenhum deles, nada há que pareça supérfluo ou acrescentado aleatoriamente, mas tudo contribui para nos dar um contraste seguro da Verdade que os quatro narraram.
(Trecho das Noventa Homilias sobre o Evangelho de Mateus, pregadas na Igreja de Antioquia, entre os anos 390 a 398, por João Crisóstomo, o maior pregador da língua grega após o apóstolo Paulo. Tópico 3 da 1ª Homilia. Traduzido e adaptado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa
O motivo de outros, entre os apóstolos, não terem escrito mais evangelhos, é que nada faziam por ambição de honra, mas unicamente com o objetivo da utilidade. Ora, mas será que não teria sido suficiente um único evangelista para contar tudo? Sim, certamente que teria sido. Mas o fato de terem sido quatro os que escreveram os evangelhos, e o fato de não os terem escrito na mesma data, nem no mesmo lugar, nem depois de se reunirem para entrar em acordo e, assim mesmo, os quatro terem falado como se fossem uma única boca, é a prova máxima da verdade.
Porém, alguém pode replicar que o que aconteceu foi exatamente o contrário; ou seja: os evangelhos apresentam discordância em alguns detalhes. Pois eis aí outro aspecto ultraimportante em favor de sua veracidade. Porque se concordassem exatamente em tudo – no lugar, no tempo e nas mesmas expressões – os inimigos da Verdade se levantariam unanimemente para acusar os evangelistas de terem se reunido antes de escrever seus evangelhos, e entrado em acordo no que tange a todos os detalhes dos fatos, pois uma total concordância é humanamente impossível.
Porém, esse desacordo, que não passa de um aparente desacordo nos detalhes, isenta os evangelistas de toda suspeita, e é a mais brilhante defesa do caráter deles. Porque, se eles contaram alguma coisa de maneira diferente com relação às circunstâncias de lugar e de tempo, nada disso prejudica a essência da Verdade.
O que eu gostaria que vocês tivessem certeza é que, nos pontos principais do que diz respeito aos deveres da nossa vida cristã e ao objetivo da nossa fé, não há nos evangelhos a mínima discrepância. Que pontos principais são esses? Que Deus fez-se homem, que realizou milagres, que foi crucificado, que foi sepultado, que ressuscitou, que subiu ao Céu, que há de julgar a humanidade, que nos deixou seus mandamentos de salvação, que não estabeleceu uma lei contrária à antiga, que é Filho, que é Unigênito, que o é por natureza, que é da mesma substância do Pai, e outras verdades semelhantes. Acerca de tudo isto, o que se constata é que há nos quatro evangelhos perfeita harmonia.
Também não devemos nos abalar diante do fato de, com relação aos milagres, nem todos os quatro evangelistas terem narrado todos, e sim uns contaram uns, e outros contaram outros. Porque se todos tivessem contado todos, não haveria porque terem sido quatro os evangelistas, ou se todos tivessem contado coisas diferentes e novas entre si, não teríamos hoje como provar a concordância entre eles.
Por um lado, todos contaram muitas coisas em comum; e por outro, cada um apresenta detalhes peculiares a cada um, e o resultado disto é que, na narração de nenhum deles, nada há que pareça supérfluo ou acrescentado aleatoriamente, mas tudo contribui para nos dar um contraste seguro da Verdade que os quatro narraram.
(Trecho das Noventa Homilias sobre o Evangelho de Mateus, pregadas na Igreja de Antioquia, entre os anos 390 a 398, por João Crisóstomo, o maior pregador da língua grega após o apóstolo Paulo. Tópico 3 da 1ª Homilia. Traduzido e adaptado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa
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