PR. JEFFERSON MAGNO COSTA
O amor – essa emoção extremamente poderosa que nasce entre um homem e uma mulher e, na maioria dos casos, os conduz ao casamento – tem sido infinitamente analisado em todas as épocas, e representado de inúmeras maneiras, dentro do universo de assuntos que interessam o ser humano.
E todos os estudiosos do amor, todos aqueles que se têm debruçado sobre o tema com o propósito de representá-lo nas obras de arte ou escrever sobre ele, concordam neste único ponto: É difícil encontrarmos uma explicação que esclareça o porquê do seu aparecimento entre um homem e uma mulher. (Difícil, eu disse, mas não impossível).
O próprio Freud, esse médico judeu-austríaco, que através da psicanálise conseguiu descobrir tantos segredos da natureza humana, reconheceu: “Nós sabemos muito pouco sobre o amor.”
Portanto, não se sabe precisamente o que leva um homem a amar uma mulher, ou uma mulher a amar um homem, pois as circunstâncias e os motivos variam muito de pessoa para pessoa.
A existência dessa dificuldade significa, também, que para nós não será fácil encontrar uma resposta (ou várias respostas) para a pergunta que intitula esta matéria. Além do mais, sei que não poderei abordar o tema utilizando-me de recursos ultra-científicos. Deixarei que isto seja feito por estudiosos mais gabaritados que eu.
Quanto a mim, enveredarei por um caminho menos abstrato, e tentarei encontrar as respostas que estão bem próximas a nós, no terreno da experiência humana mais comum.
TIPOS DE AMOR
Os gregos foram os primeiros a analisar o amor e a definir suas formas. Aquele povo que gostava imensamente de conversar sobre os principais temas que dizem respeito ao homem e ao universo, classificou “o mais belo dos sentimentos humanos” em quatro tipos: Eros (amor instintivo), Storge (amor afetivo), Phileo (amor fraternal), e Ágapê (amor divino).
Esta metódica classificação só poderia ter-se originado graças à exatidão do idioma grego, e durante as reflexões desse povo acerca de um tema universalmente interessante. Já o grande filósofo grego Aristóteles havia dito: “Se quiserdes entender bem uma coisa, defini-a, e estudai os começos do seu desenvolvimento.”
Mas o que significam e como se manifestam no ser humano esses quatro tipos de amor?
EROS, O AMOR PAIXÃO
O primeiro deles (Eros) é popularmente conhecido como paixão. Há um ditado popular muito antigo, que ilustra de forma engraçada esse tipo de amor: “O homem é o fogo, a mulher é a estopa; o diabo passa e sopra!”
Foi com muita propriedade que H. Houssaye escreveu acerca do amor paixão: “As grandes paixões têm sua fonte numa atração puramente física, e na maioria das vezes precipitam-se na morte.” O alvo da paixão é sempre a satisfação sexual. Porém, ninguém deve condenar esse tipo de amor, pois o amor romântico autêntico, para ser completo, tem de ter uma grande parcela de amor paixão.
Por sua vez, o amor Eros (amor instintivo, amor paixão) não terá vida longa se não surgir associado ao amor romântico (Storge). Nos casos em que só existe o amor Eros, ninguém deve confiar nele, pois quem só sente amor erótico por alguém, está sujeito a deixar de amar esse alguém a partir do momento em que obtém a consumação do único alvo desse amor: a satisfação sexual.
Ao amor Eros estão também associadas as formas anômalas (doentias) de paixão. Todos os desvios morais como pedofilia, necrofilia, zoofilia, prostituição, e outros, são denominados na Bíblia de “paixões infames, carnais, pecaminosas, mundanas”, Rm 1.26; 7.5. Deus as condena enérgica e radicalmente.
STORGE, O AMOR ROMÂNTICO
Ao contrário do amor Eros, que surge de uma atração puramente física, o amor Storge, em sua forma romântica, brota nos corações a partir do sentimento de admiração. Nós só podemos amar verdadeiramente a pessoa a quem admiramos.
Ora, creio que acabo de encontrar uma resposta para o título deste ensaio: o amor surge a partir do sentimento de admiração. (É evidente que o tema não se encerra aqui, pois além da admiração, existem outros fatores capazes de despertar a emoção amorosa.)
PHILEO, O AMOR FRATERNAL, E ÁGAPE, O AMOR DIVINO
O terceiro tipo de amor (Phileo) é aquele que floresce entre irmãos e amigos. É também o amor patriótico e comunitário. E o quarto tipo (Ágapê) é o amor divino. É aquele sentimento insuperável do Criador pela criatura. Humanamente falando, não há nada no ser humano que justifique esse amor. Nós não o merecemos.
Porém Deus, do alto de sua magnitude, inclinou o seu coração até nós e nos amou, independente dos nossos pecados e imperfeições. “Mas Deus provou o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”, Rm 5.8.
Comentando o amor Ágapê, o escritor francês Denis de Rougemont, no seu livro O Amor e o Ocidente (tradução de Ana Hatherly. Moraes Editores. Rio de Janeiro. 1968. p. 60) diz que “seria uma situação desesperadora se não houvesse a Boa Nova; e essa “nova” é que Deus nos procura. E nos encontra logo que escutemos a sua voz e que respondamos e obedeçamos.
"Deus procurou-nos e encontrou-nos pelo amor de seu Filho descido até nós. A partir de agora, perdoado e santificado, quer dizer, reconciliado, o homem permanece homem, mas um homem que já não vive por si só. ‘Amarás o Senhor teu Deus e o teu próximo como a ti mesmo.’
Para Ágapê não há fusão nem exaltada dissolução do eu em Deus. O amor divino é a origem duma vida nova cujo ato criador se chama comunhão. Só Ágapê reconhece o próximo e o ama, já não como um pretexto de exaltação, mas tal qual ele é na realidade da sua aflição e da sua esperança.”
Mas tudo isso só ocorre quando o Espírito Santo faz morada em nós, Gl 5.22; 1Jo 3.14.
Cabe ressaltar ainda que são classificados de Storge os amores filial, maternal e paternal. É evidente que nessas formas de amor, Eros não toma parte. Porém, o mesmo não ocorre com o amor conjugal, onde sempre há uma considerável parcela de amor erótico. Porém, como observa Antônio Gilberto (A Família Cristã. CELUZ. Curitiba, 1985. 1ª. edição. p. 37):
“O amor instintivo (Eros) é um amor legítimo quando mantido dentro dos seus limites.”
Todavia, conhecer os quatro tipos de amor não significa saber como o amor romântico – Storge – (é tão-somente deste que nos ocuparemos nesta matéria) surge entre duas pessoas.
Devemos continuar tentando encontrar as causas que levam ao aparecimento do amor.
PARA O NASCIMENTO DO AMOR ENTRE DUAS PESSOAS, A BELEZA É FUNDAMENTAL?
O poeta brasileiro Vinícius de Morais disse em um de seus poemas: “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Eu, particularmente, não creio que Vinícius tenha razão. E o brilhante filósofo espanhol Ortega y Gasset, um dos maiores jornalistas culturais dos tempos modernos, também discordaria de Vinícius. Em seu excelente livro La Elección em Amor (Spasa-Calpe. Argentina. 1940. 2ª. edição. p. 84), ele afirma que “é um erro colocar na beleza a condição básica do amor”.
Porém, apesar de sabermos que a beleza nem sempre desperta o amor, sabemos que ela continua sendo o mais poderoso fator de atração e aproximação entre os seres humanos. Mas não devemos esquecer também que ela é muito relativa. É certo que existe o conceito de beleza universal – aquela que atrai os olhares e a admiração de todos.
Mas existe também a beleza relativa, particular. Nem sempre aquilo que é belo na opinião de alguns, é belo na opinião de todos.
Mas, afinal, o que é a beleza? Essa pergunta ficará aqui sem resposta, pois nossa pergunta nesta matéria é: Como surge o amor?
Há pessoas que se aproximam de outras atraídas por sua beleza física, mas em muitos casos terminam se decepcionando ao descobrir os defeitos que essa beleza esconde. Os mais frequentes desses pontos negativos estão na área do caráter.
A beleza sozinha não é capaz de, em todas as circunstâncias, despertar o amor entre duas pessoas. Ela terá que vir associada a outras qualidades. Pois de que vale a alguém ser belo (ou bela) mas espiritualmente vazio, e culturalmente fútil?
Admiramos a beleza, como qualquer ser humano a admira. Mas seu esplendor não nos ofusca ou ilude. O próprio Ortega y Gasset observou também que “a beleza que atrai raramente coincide com a beleza que enamora”. Confirmando essa afirmação, o ensaísta francês André Maurois escreveu: “Tal homem ou tal mulher acharão belo um ser que os outros julgam horroroso. O encanto espiritual, intelectual ou moral podem dar muita graça a uma mulher cujas feições não são regulares.” (Sentimentos e Costumes. Vechi Editor. Rio de Janeiro. 1937.p 31).
Como se vê, o assunto é muito mais complexo do que se pensa. Porém, já podemos concluir que o que enamora, o que leva uma pessoa a amar outra é sempre algum “encanto”. A descoberta desse encanto (que nem sempre pode ser notado por todos, haja vista as pessoas comentarem: “Eu não sei o que ele viu nela, ou o que ela viu nele.”) é o começo de tudo.
Mas não existe uma qualidade que enamore universalmente, pois nem todos se enamoram pelo mesmo motivo. O motivo ou os motivos que levam uma pessoa a amar outra não são os mesmos que levam uma terceira pessoa a amar uma quarta.
INTERFERÊNCIA DIVINA NO AMOR HUMANO
Deus sempre esteve interessado no modo como os seus filhos estão amando, e a quem estão amando. A Bíblia está cheia de exemplos que confirmam isto. Todos aqueles que, com fé, pedem que Deus os direcione para a pessoa certa, têm recebido resposta satisfatória.
A maioria dos casamentos desfeitos devem o seu fracasso ao fato de esse pedido não ter sido feito a Deus, nem pelo homem, nem pela mulher. (Não estou dizendo que essa seja a única causa de casamento fracassado).
Ontem e hoje, o Senhor tem proporcionado grandes encontros, tem feito com que “almas gêmeas” se enlacem sob o poder de sua orientação e interferência.
Na Bíblia, poucas histórias há tão bonitas quanto a do amor que uniu Jacó e Raquel. Deus tinha interesse que eles se amassem, pois como fruto daquele casamento nasceria José, cuja atuação mais tarde tornou possível a entrada de toda a família de Jacó no Egito, e graças a isso nenhum deles morreria de fome.
E foi da descendência de Jacó, que amou Raquel, e de quem nasceu José, e da descendência de Jacó, que amou Lia, e de quem nasceu Judá, que nasceu Jesus, o Salvador da humanidade.
O grande poeta português Luis de Camões (Obra Completa. Aguillar. Rio de Janeiro. 1963. p. 298) celebrou o amor de Jacó por Raquel em um dos mais belos sonetos da língua portuguesa:
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém, o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros setes anos,
Dizendo: – mais servira se não fora,
Para tão longo amor, tão curta a vida!
Existem muitos outros aspectos e pontos de vista sobre o amor. A discussão é interessantíssima e tem despertado a atenção de quase todos os grandes homens da história. Creio que deverei escrever novamente sobre esse assunto, pois deixei de lado muitos pontos importantes e esclarecedores, como:
“O amor na Bíblia”, “O discurso amoroso no livro de Cantares, “Existe amor à primeira vista?”, “O amor é cego?”, “O que torna um homem ou uma mulher interessantes?”, e muitos outros aspectos que se desdobram do tema principal. Deixo de fazer também, nesta oportunidade, a divulgação das mais importantes descobertas e conclusões de todos os grandes estudiosos do assunto.
"EU TE AMO”
Poucas frases possuem tanta beleza, tanta doçura e tanto poder de emocionar o ser humano como esta, composta unicamente de três palavras: “Eu te amo!”
Doces palavras que aqueles que se amam murmuram em voz baixa (outros berram essa declaração para o mundo inteiro ouvir), e estão sendo pronunciadas desde que o primeiro homem contemplou a primeira mulher e a amou, e foi amado por ela, e continuarão sendo pronunciadas até a consumação dos séculos! Muita razão teve Platão ao dizer que “aquele que não ama caminha no escuro”.
A vida só é completa quando estamos amando.
Como disse Rochepédre: “Amar é pedir a outrem a felicidade que nos falta”; e Leibinitz acrescentou: “é encontrar na felicidade de outrem a própria felicidade”; e Goethe reforçou: “é despertar a pessoa a quem amamos para toda a grandeza de que ela é capaz”; e o nosso grande poeta Mário Quintana concluiu: “Amar é mudar a alma de casa”.
“Adeus Camila”, dizia Perdican, no final da peça “Com o Amor não se Brinca”, escrita pelo genial poeta e dramaturgo francês Alfred de Musset. “Volta para a tua solidão. Mas quando te contarem essas histórias repugnantes que te envenenaram, lembra-te do que vou dizer-te: Quase todos os homens são mentirosos, traidores, hipócritas, petulantes; quase todas as mulheres são vaidosas, fúteis e pérfidas, mas há no mundo algo infinitamente belo e sublime – a união dessas duas criaturas tão imperfeitas.”
Tudo o que falta a uma mulher ela o adquire em sua união com o homem, e tudo o que falta a um homem ele o adquire em sua união com a mulher. É no amor que eles se completam. “Amai”, dizia o historiador francês John Michelet, um dos grandes conhecedores do coração humano, “e todas as forças da Terra estarão a vossos pés. É pelo amor que chegamos a Deus”.