Jefferson Magno Costa
Em João 15.14, ao criticar os escribas e fariseus, Jesus comentou que a atitude deles era semelhante a de um cego guiando outro cego. O guiado era cego, e o guia também era cego.
Então, qual desses dois cegos era mais cego: o que guiava ou o guiado? Muito mais cego era o guia. Porque o cego que se deixava guiar reconhecia que era cego, enquanto o que se tornara guia do outro estava tão longe de reconhecer sua cegueira, que achava que podia emprestar seus olhos cegos ao cego que ele guiava.
O primeiro era cego uma só vez; o segundo, duas vezes. Uma vez porque o era, e outra vez porque não o reconhecia.
O cego que reconhece sua cegueira não é totalmente cego, porque pelo menos vê (ou reconhece) o que lhe falta: a visão. O ponto mais extremo da cegueira é padecê-la e não a reconhecer. Tal era o estado daquele cego que guiava o outro cego. Ele perdera o sentido da cegueira.
Quando a natureza tira de uma pessoa o sentido da visão, dá a ela o sentido (ou a consciência) da cegueira, para que o cego reconheça que é cego e busque a ajuda dos olhos alheios.
Porém, os escribas e fariseus estavam tão completamente cegos, que não só tinham perdido o sentido da visão, mas também o sentido da cegueira: o da visão, porque não viam, e o da cegueira, porque não a viam em si mesmos.
(A. V. adapç. do trec. do serm. da Quin. Quart-fei. da Quar. Lisb. 1669)
Jefferson Magno Costa