segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PEDIR: NÃO SABEMOS O QUE PEDIMOS A DEUS, E MUITAS VEZES AS CONSEQUÊNCIAS SÃO DESASTROSAS

  Jefferson Magno Costa
   "Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis...” (Mt 20.22)

     Não há ser humano neste mundo que seja capaz de prever que resultado terá em sua vida a concretização daquilo que ele pede a Deus. Fundamentaremos essa verdade na Bíblia, para que as consequências de minha afirmação sejam de maior e mais seguro ensinamento. A petição existente no texto do Evangelho que acabamos de citar foi de uma mãe em benefício de seus dois filhos. Porém, hoje não nos ocuparemos com o pedido da mulher de Zebedeu, e sim com o pedido de outra mãe em benefício próprio, e dos pedidos de outros dois filhos, cada um visando seu próprio benefício.

O IMPORTUNO PEDIDO DE RAQUEL AO ESPOSO JACÓ
     A mais difícil, a mais importuna e impaciente petição que uma mulher fez neste mundo foi a de Raquel a seu marido Jacó: “Vendo, pois, Raquel que não dava filhos a Jacó, teve Raquel inveja de sua irmã e disse a Jacó: Dá-me filhos, senão morro” (Gn 30.1). Jacó respondeu que só Deus tem poder de dar filhos aos pais. Porém, mesmo sendo esta reposta tão forte e tão conclusiva, ainda assim Raquel não se conformou com ela. Insistia: “Dai-me filhos, ou morrerei”. Certamente Jacó chamava a atenção de Raquel para o fato de ela estar na primavera de seus anos, e que ainda lhe restavam muitos durante os quais podia ter naturalmente o que tanto desejava: filhos.
     Jacó também animava sua esposa com o exemplo de sua avó Sara, que depois de tão longa esterilidade, dera à luz Isaque, pai de Jacó e sogro de Raquel. Porém, a moça tornava-se mais impaciente. Jacó apelava para o elogio e a lisonja, que são poderosos quando a intenção é atingir a fraqueza e a presunção do sexo feminino. Ele dizia a Raquel que olhasse para si e se consolasse com a rosa, a qual, sendo a beleza dos prados e a rainha das flores, é flor que não dá fruto.
     Mas nem a lisonja, nem a razão, nem o exemplo, nem a esperança eram suficientes para moderar a ansiedade de Raquel. “Dai-me filhos, ou morrerei”. Esta era a petição, este o aperto, esta a insistência.
     Como Raquel foi atendida, e quais foram as consequências do seu pedido? Ela foi atendida conforme pedia: teve filhos, mas as consequências foram muito contrárias ao que ela esperava. O que Raquel pedia não era um filho, e sim filhos. E isto Deus lhe concedeu, porque tornou-a mãe de José e de Benjamim. Mas as consequências do seu pedido foram em tudo contrárias ao que ela pedia, porque dando à luz com total felicidade ao seu primogênito José, morreu de parto ao dar à luz o segundo filho, Benjamim.
     Reconsiderem os termos pelos quais Raquel pedia filhos: “Dá-me filhos, senão morro” (Gn 30.1). E enquanto pensava que morreria se não tivesse filhos, foi exatamente porque os teve  que morreu, durante o parto do segundo. Achava que pedia a vida, e pedia a morte. Achava que pedia sua alegria e a alegria para a sua casa, mas pedia a tristeza, o luto, a viuvez, a orfandade. Pedia o que havia de levá-la a trocar sua casa pela sepultura. Tão errados são os desejos e os pedidos humanos. Quando pedimos, mesmo com insistência, cheios de convicção de nossa necessidade, usando argumentos racionais diante de Deus, assim mesmo não sabemos o que pedimos.

SANSÃO E O FILHO PRÓDIGO CAÍRAM EM SITUAÇÃO DE DESASTRE E INFELICIDADE PORQUE NÃO SABIAM O QUE PEDIAM
     Conhecida é a história de Sansão, e conhecida é a história do filho Pródigo. Ambos são famosos pela vida de extravagâncias que tiveram. Deixando de considerar o princípio da narrativa da tragédia de cada um, consideremos o final, e vejamos o estado de extrema miséria no qual cada um caiu indo por caminhos tão diferentes.
     Vocês estão vendo aquele homem robusto e agigantado, com o semblante ferozmente triste, os cabelos cortados, os olhos fundos e sanguinolentos, preso em um cárcere e atado com duas correntes de bronze a uma moenda que ele gira como um animal? Pois aquele é Sansão.
     Vocês estão vendo um moço pálido e pensativo, vestido de farrapos e quase despido, apoiado em um cajado, e tomando conta de um asqueroso rebanho de porcos? Pois aquele é o filho Pródigo.
     Quem haverá que não se admire de tal reviravolta na vida de duas personalidades tão notáveis? Um tão valente, outro tão altivo! Pois é nessa situação que vieram parar as riquezas, os caprichos e a arrogância do filho Pródigo? Mas o pior é que não pararam só nisso, e sim desceram de mal a pior, pioraram dia após dia, por que o filho Pródigo, morrendo de fome enquanto tomava conta dos porcos, não tinha autorização para se alimentar nem mesmo com as bolotas que os porcos comiam.
     E Sansão, após ser derrotado, foi trazido à publico para ser zombado pelo povo. E o trataram com tanto escárnio e indecências, que Sansão preferiu tirar sua vida com as próprias mãos.
     Mas qual teria sido a causa desses acontecimentos, e de mudanças tão extremas? Aqui não lhes peço admiração, e sim pasmo. Essas mudanças de sorte na vida de Sansão e do filho Pródigo foram causadas por eles terem sido atendidos nos pedidos que cada um fez insistentemente.
     Sansão pediu a seus pais que lhe dessem por mulher uma filisteia: “Vi uma mulher em Timna, das filhas dos filisteus; agora, pois, tomai-ma por mulher” (Jz 14.2). Os pais lhe concederam o que ele pediu, e essa mulher foi a causa dos conflitos que Sansão teve com os filisteus, e dos enganos e traições de Dalila, da sua prisão, do seu cativeiro, da sua cegueira, das suas afrontas, e do seu fim lastimável.
     Da mesma maneira, o filho Pródigo pediu a seu pai que lhe desse, apesar de o pai ainda estar vivo, a parte da herança a que ele teria direito quando o pai morresse. O pai concedeu o que o filho pedia, e essa herança, consumida com esbanjamento e irresponsabilidade, foi a causa do seu empobrecimento, da sua miséria, da sua fome, da sua servidão, da sua desonra e das suas humilhações.
     Chamemos agora a Raquel, a Sansão e ao filho Pródigo, a essa mãe e a esses dois filhos, e perguntemos se eles, depois de tão pesadas e contrárias experiências, pediriam o que pediram? Raquel pediria filhos, se soubesse que tê-los lhe custaria a própria vida? Sansão pediria a filisteia, caso soubesse que ela seria a causa de sua derrota, da perda dos próprios olhos com os quais a vira, e de sua morte? O filho Pródigo pediria a herança antecipada se soubesse que com ela haveria de comprar a miséria, a servidão, a desonra? Claro que não.
     Pois se agora não haveriam de pedir nada do que pediram, mas antes o contrário, por que o pediram então? Vocês já sabem a resposta. Pediram-no, porque não sabiam o que pediam. Pediram, porque ninguém sabe o que pede.
     Tendo provado que o certo e infalível é ninguém saber o que pede, tirem para si as consequências quem acha até agora que foi mal atendido nos seus pedidos. Se você soubesse que o que pede resultaria em um grande bem, então teria razão de estar contente ao ver o seu pedido atendido, ou descontente de o ver negado. Porém, ignorando se o que pede resultará em bem ou em um mal, por que fica tão desconsolado? Se me desconsolo porque penso que o que estou pedindo e não recebi ia me resultar em bem, por que também não me consolo ao considerar que o que estou pedindo poderia resultar em um grande mal na minha vida? Principalmente levando-se em conta que, neste mundo, o mal é mais certo de acontecer do que o bem.

DEVEMOS NOS CONTENTAR TAMBÉM COM AS RESPOSTAS NEGATIVAS DE DEUS
     Oh, se soubéssemos o que pedimos! Oh, se soubéssemos o que nos resultará em bem ou o que nos resultará em mal, nós nos consideraríamos muito bem atendidos ao recebermos aquela que muitas vezes classificamos de uma má resposta! O que para nós é bom ou ruim, só Deus o sabe. Nós ignoramos. E esse conhecimento de Deus, e essa nossa ignorância são os dois polos sobre os quais se apoiam a temeridade de nossos pedidos, e a nossa resignação diante das respostas.
    Nós devemos fazer os nossos pedidos como aqueles que não sabem o que pedem, e receber as respostas como vindas da parte dAquele que sempre sabe o que dá, e o que é bom para nós. Pensamos que os homens são os que nos respondem, e por isso murmuramos e nos queixamos deles. Agimos assim porque nos esquecemos que acima de tudo, e no controle de todas as coisas está Deus, como Presidente supremo de todos os lugares onde nossas petições são feitas. É ele que nos dá ou nega o que pedimos, como o único que sabe o que resultará em bem ou que resultará em mal para nós.
     Salomão disse que as sortes não dependem da mão do homem que as tira, e sim da mão do Deus que as governa (Pv 16.33). Se a resposta do que você pediu não veio como você esperava; se você não conseguiu a aprovação naquele concurso, aquela nomeação, aquele novo cargo, aquele aumento, aquele prêmio, aceite isso como resposta vinda da parte de Deus, pois só ele sabe o que lhe convém. Os homens só fazem benefício quando dão; Deus não só faz benefício quando dá, mas também quando nega.

O QUE DEUS QUER NOS ENSINAR QUANDO RECEBEMOS DELE UM “NÃO” OU ALGO CONTRÁRIO AO QUE LHE PEDIMOS
     Disse Jesus certa vez: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Lc 11.9). E para maior confirmação dessa promessa, Jesus acrescentou: “Porque qualquer que pede recebe; e quem busca, acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á” (v. 10). Esse ensinamento não pode ser mais universal nem mais claro, porém, com todo o respeito por quem o proferiu, que foi ninguém menos que o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, peço-lhe permissão para apontar nele uma flagrante contradição, que torna-se muito clara quando consideramos o que acontece todos os dias ao nosso redor. E não há nesse auditório quem não possa testemunhar contra ele com sua própria experiência.
     Quantos senhores de ricas e grandes casas pediram a Deus um herdeiro e não o alcançaram? Quantos pobres, cheios de filhos, pediram para eles o sustento, e não tiveram com que lhes matar a fome? Quantos na enfermidade fizeram votos pela saúde e morreram sem ter alcançado a cura? Quantos, em meio à tempestade, bradando ao Céu, foram engolidos pelas ondas? Quantos no cativeiro, orando continuamente pela liberdade, acabaram morrendo nas prisões e calabouços? E para não irmos mais longe, consideremos o texto que citamos no início desse sermão, que contém o pedido da mãe dos filhos de Zebedeu, pedindo em favor dos seus filhos, e pedindo de joelhos (Mt 20.20). A resposta de Jesus foi um duplo “não”: “Não sabeis o que pedis" (v 22), e "Não me pertence dá-lo...” (v 23).
    Pois se é verdade certa e evangélica, provada e experimentada, que muitos pedem a Deus e não alcançam o que pedem, por que então Jesus diz “Pedi e recebereis”? E por que ele afirma absoluta e universalmente que todos os que pedem recebem? A dúvida não pode ser das mais difíceis, porém é daquelas que pertencem ao grupo das que se alicerçam no mal entendimento ou na errada interpretação do texto bíblico.
     Considerem atentamente o que dizem as palavras de Jesus, e o que não dizem: “Pedi, e dar-se-vos-á (...) porque qualquer que pede recebe” (Lc 11.9,10). Observem que Jesus não disse: “Pedi, e recebereis o que pedis”, e sim: “Pedi e recebereis”. Também não disse: “qualquer que pede, recebe o que pede”, e sim: “qualquer que pede recebe”. E o que é que recebe? O que Deus sabe que será o melhor para a pessoa. Se você pede o que lhe convém, receberá o que pede; mas se pedir o que não lhe convém, receberá um “não” como resposta ao que pediu. Deste modo, qualquer um que pede, recebe. Porque ou recebe o que pede, ou recebe o que não soube pedir, caso soubesse o que é melhor para ele. Quando um homem pede o que não lhe convém, se soubesse o que pedia, pediria que o negassem. Só Deus sabe o que nos convém, e é por isso que ele supre com sua onisciência nossa ignorância, e nos responde muitas vezes com um “não” (como fez aos filhos de Zebedeu), e nos nega o que pedimos.
     Se um filho (diz Cristo, em Lucas 11.11-13) pedir pão a seu pai, este dar-lhe-á uma pedra? Se lhe pedir peixe, dar-lhe-á uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Pois esta é a razão porque Cristo, que nos trata como filhos, nos diz muitas vezes “não”, e nos nega o que pedimos, porque pedimos pedra, porque pedimos serpentes, porque pedimos escorpiões.
     Achamos que estamos pedindo o necessário, e estamos pedindo o supérfluo e o inútil. Achamos que estamos pedindo o proveitoso, e estamos pedindo o nocivo: e isto é pedir pedras. Achamos que estamos pedindo o que vai nos sustentar, e estamos pedindo veneno. Achamos que estamos pedindo o que vamos comer, e estamos pedindo o que vai nos comer. Achamos que estamos pedindo o que nos ajudará a viver, e estamos pedindo o que nos matará: e isto é pedir serpentes e escorpiões. Quando somos tão néscios e tão meninos, que não distinguimos o escorpião do ovo, nem a serpente do peixe, nem o pão da pedra, Deus, que é pai, e excelente pai, por que não haveria de nos negar o que tão ignorante e tão perigosamente pedimos? Oh, felizes são aqueles a quem Deus assim responde, porque sabe que não sabem o que pedem.
     (Trechos do Sermão da Terceira Quarta Feira da Quaresma, pregado em Lisboa, na Capela Real, em 1669, pelo maior pregador da língua portuguesa, Antônio Vieira, aos 61 anos de idade. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21).
Jefferson Magno Costa

2 comentários:

  1. Paz do Senhor Jesus amado, fiquei grandemente honrada por tê-lo em meu humilde espaço, seja bem vindo, em nome de Jesus.
    Peço sua benção em levar e postar em meu blog, perdoi-me só pedir agora, sei o quanto deve ser ocupado, postarei com todo respeito e carinho, com devidos e honrosos creditos. Que Deus o abençoi e o prospere a mil por um, abraços, irmã Valquiria Calado.

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  2. Prezada irmã Valquíria, fique à vontade para postar qualquer artigo meu no seu blog. Para mim é uma honra poder ser útil à irmã. Fraternalmente em Cristo,

    Pr Jefferson Magno Costa

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