domingo, 12 de maio de 2019

MÃE É PRESENTE TÃO ESPECIAL QUE DEUS SÓ NOS DÁ UMA

PR. JEFFERSON MAGNO COSTA

       Neste domingo especial no qual é comemorado o Dia das Mães (a minha foi -- foi não, é, pois está viva em Natal, com 80 anos de idade -- a mulher que, sozinha, criou a mim, ao meu irmão, pastor Eugênio, e  à minha irmã, a cantora lírica e hiper habilidosa Nadja, que é capaz de pintar sobre pano os desenhos mais lindos que o governo Bolsonaro já viu, e capaz de fazer caixas e arranjos com cartolina dignos de serem mostrados no programa da Ana Maria Braga). 
       A plataforma de trabalho de minha mãe, sobre a qual ela expunha suas mercadorias,  era uma banquinha de madeira que meu bisavô construiu para ela. Nas madrugadas no Nordeste as temperaturas beiram a zero grau. Minha mãe levantava-se às 3:00hs da madrugada, acordava minha irmã Nadja, ainda uma criança, e as duas se empacotavam com os ralos agasalhos de que dispunham e ficavam esperando o caminhão vir buscá-las e levar com elas o baú de confecções e a barraca desmontava. O baú estava cheio de roupas de meninas e mulheres que minha mãe mesma fabricava durante a semana, em uma máquina de costura simples, que não era elétrica nem muito menos industrial.
       Mesmo sendo eu o filho mais velho, não podia acompanhá-la porque estava em Natal, na casa de minha avó, mãe de meu pai, e de minha tia Glorinha, professora de nível superior de português e literatura. Foi sua imensa biblioteca especializada que abriu para mim o caminho do convívio com esse maravilhoso e mágico objeto chamado livro. Já o meu irmão, hoje pastor Eugênio, ficava em nossa modesta casa em João Câmara, município do RN, para tomar conta da casa e estudar.  
       Minha mãe ia na boleia do caminhão com outras mulheres e o motorista, mas minha irmã, por ser criança e não ter como reclamar, tinha de viajar na carroceria do caminhão, em cima de uma imensa carga de baús de confecções e outras mercadorias, barracas desmontadas, frutas, produtos de limpeza e carga viva -- galinhas, pequenos porcos, gaiolas com aves que cantavam sublimemente, quando o sol anunciava o nascer de um novo dia, ao fazer surgir lentamente a auréola de sua coroa dourada e vermelha, rompendo a escuridão da noite e dando passagem à manhã.
       Minha mãe e minha irmã enfrentavam o frio da madrugada de uma viagem que durava algumas horas, até uma cidade litorânea do Rio Grande do Norte. Há muitas dessas cidades por lá. Quando o Sol surgia ameaçador no céu nordestino, minha mãe se preparava para enfrentar sua intensidade de meio-dia, momento em que ele alcançava uma temperatura de enlouquecer, de cozinhar os miolos de qualquer um. 
         Durante muitos anos minha Mãe sofreu de uma dor de cabeça crônica, adquirida como resultado da emissão de raios que muitas vezes transforma o Nordeste em um mundo de vegetação seca, lavouras perdidas, pessoas e animais correndo desesperadamente em busca de um pouco de água, animais agonizando e morrendo nos currais e nas beiras das estradas, muitos nordestinos mudando-se para o Sudeste, transformando alguns vilarejos em cidades fantasmas. Isso os políticos fingem não ver.
     Publicarei a seguir dois poemas em homenagem à minha Mãe e a todas as mães do mundo. Foram escritos pelo meu amigo, com quem eu visitei muitas igrejas de São Paulo para recitarmos poemas deles, meus e de outros poetas. Ele já está morando nas Mansões Celestiais, em companhia do maior de todos os poetas do Universo, Jesus Cristo, e vez por outra pedindo que o salmista Davi recite um dos seus salmos ao som de sua harpa. E a multidão de salvos silencia para ouvir os três, o Senhor, o rei Davi e Gióia Júnior recitarem seus poemas.

ORAÇÃO DA MAÇANETA
GIÓIA JÚNIOR


Não há mais bela música
que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite,
da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta
e o gemer do trinco,
o bater da porta que novamente se fecha,
o tilintar inconfundível do molho de chaves
são um doce acalanto,
uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos,
posso afinal dormir e descansar.

Oh! a longa espera,
a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém sabe contar!

Oh! os presságios e os pesadelos,
o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua
e o longo apito do guarda
medindo a madrugada,
e os cães uivando na distância
e o grito lancinante da ambulância!

E o coração descompassado a pressentir
e a martelar
na arritmia do relógio do meu quarto
esquadrinhando a noite e seus mistérios

Nisso, na sala que se cala, estala
a gargalhada jovem
da maçaneta que canta
a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa
com todos os ruídos secundários.
-Oh! os címbalos do trinco
e os clarins da porta que se escancara
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e o festival dos passos que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra
e o tilintar de copos
e a mansa canção da chuva no telhado
podem sequer se comparar
ao som da maçaneta que sorri
quando meu filho volta.

Que ele retorne sempre são e salvo,
marinheiro depois da tempestade
a sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante
a festiva canção do seu retorno
que soa para mim
como suave cantiga de ninar.

Só assim, só assim meu coração se aquieta,
posso afinal dormir e descansar.


MULHER NA FRENTE DO FOGÃO
GIÓIA JÚNIOR

Uma constante chama de gás
aquece a panela que chia na cozinha
enquanto um cheiro forte de tempero
enche a casa -
ela está na frente do fogão,
trincheira de mais de vinte anos
de pé, a espera.

Na frente do fogão, enquanto os filhos crescem
e vão sendo modelados pela vida e pelo tempo.
Chegam e a beijam na testa,
e ela na frente do fogão,
chegam e dizem um "olá" distante,
e ela na frente do fogão,
chegam e não dizem nada
e ela na frente do fogão,
porque a chama abraça o fundo da panela
para que a janta fique pronta,
para que eles matem a fome
e cresçam mais e se afastem dela, cada vez mais.
 
Ali na frente do fogão
o seu rosto outrora liso e jovem
foi sendo curtido
em sal e fogo,
em fumaça e tempo, em sofrimento e espera,
em susto e ingratidão.
E ela, paciente e quieta, em frente do fogão.
Chega o marido,
que o tempo também se incumbiu de transformar
em cansaço e desesperança,
e traz para a cozinha
os problemas da rua,
a insegurança no serviço,
o orçamento estourado,
a fila, a espera, o desconforto, a condução:
e ela na frente do fogão!
 
Não mais o beijo quente do retorno,
o olhar em festa,
os planos em comum
- um acre silêncio tempera a janta -
uma dura troca de olhares
que já não se perguntam,
porque não há resposta a dar
é o boa noite de sempre. 

Nas ruas, os amigos no bar bebendo 
e expressando a nervosa insatisfação,
em casa, o vazio que os filhos deixam
quando saem a medir a noite com os amigos -
e os coloridos sonhos de novela
e a companhia da televisão.

Eu Te peço por ela, Senhor,
nesta hora em que as sombras
iniciam uma escalada de mais uma noite -
pela sua alegria,
pela sua ilusão-
guarda a mulher na frente do fogão.

Nesta hora marcada
pelo cheiro forte do tempero,
pela chama quase parada do fogão de gás -
enquanto eles não chegam dos caminhos da noite,
dos perigos do trânsito
e do ódio dos homens -
que ela tenha calma,
que ela tenha paz.

Sobre a sua cabeça envelhecida,
estende a TUA poderosa mão.
E que ela possa ter a alegria da vida
na hora do preparo da comida
na frente do fogão.



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