Jefferson Magno Costa
“Cantemos o hino 124 da Harpa Cristã.” De harpas em punho, a igreja entoa solenemente o hino Adoração, e, pouco a pouco, as vozes unidas adquirem tonalidades de céu, mar, cedros, grama verdejante. O culto está iniciado.
O sentimento de louvor e adoração se apossa suavemente do coração de todos: homens, jovens, velhos e meninos louvam o Redentor. Ventos, chuvas, raios e trovoadas; sol, lua e coros estelares são convocados para esta adoração. Um mesmo sentimento une a igreja através da mais arrebatadora e espiritual das artes: a música.
O que é a música? De que modo ela consegue traduzir os sentimentos e aspirações do ser humano, como ocorre nesse culto onde está sendo cantado o hino 124? Que lugar ela ocupa na cultura evangélica? Que formas tem assumido no decorrer de sua evolução entre nós?
Responder estas perguntas implica em fazer um exaustivo e cuidadoso estudo da origem, evolução e influência da música, tanto do ponto de vista geral, da humanidade, como do ponto de vista particular, nosso, dos evangélicos – tarefa que está muito acima dos nossos conhecimentos e recursos críticos.
Porém, na esperança de que este trabalho motive o surgimento de outros – criteriosos e científicos como devem ser os trabalhos sobre um tema tão importante – façamos, assim mesmo, algumas considerações sobre a música.
ESSÊNCIA E ORIGEM DA MÚSICA
A essência da música, ou o belo musical, reside na feliz harmonia dos sons consonantes e dissonantes, e na intensidade de penetração da emoção transmitida. (São considerados sons consonantes aqueles que produzem impressão agradável ao ouvido; inversamente, os sons dissonantes são aqueles que produzem sensação desagradável).
De acordo com o tom em que é executada – o tom maior é próprio de canções tristes e melancólicas – a música pode vibrar o nosso coração e a nossa alma, ou transportar-nos às regiões eternas e nos aproximar de Deus. Alguém chegou a dizer que a música é um pouco do Céu sobre a Terra. (Esse pensamento não vale para toda e qualquer música, é evidente).
Jacques Stehman, historiador francês, afirmou que a música foi a primeira linguagem do homem primitivo. Durante longos séculos permaneceu como oração, utilizada na invocação à divindade. Finalmente, misturando-se com o mundo profano, tornou-se também um divertimento.
Porém, não se sabe exatamente quando, nem como a música surgiu na Terra. Além dos anjos, que no Céu eternamente louvam o Senhor, é possível que os portentosos ruídos da Criação tenham sido os componentes da grande orquestra que pela primeira vez encheu de sons o Universo.
A música é de origem divina, e só Aquele que inspirou no homem todas as artes, sabe quando e como ela começou.
As várias formas que a música tem assumido, desde os cantos dos rituais primitivos, passando pelo canto dos combatentes da Antiguidade, pela música dos festejos dionisíacos, pelas oferendas musicais dos povos antigos, pelos ajuntamentos festivos de rapazes e donzelas nos campos, vales e bosques, durante comemorações folclóricas, estão muito distantes da unção e sublimidade dos hinos cantados pela Igreja Primitiva nos subterrâneos das catacumbas de Roma; estão imensamente afastadas da tonalidade do canto gregoriano da liturgia católica, ou dos corais criados por Martinho Lutero, ou do sentimento que une os irmãos, ao cantarem: “Adorai o Rei do Universo/ Terra e Céus, cantai o seu louvor/”, ou da diabólica música do Kiss.
O som e o ritmo, os elementos formais da música, são tão velhos como o homem. A harmonia e a melodia foram assimiladas posteriormente. Muitos historiadores supõem que o zumbido da corda do arco, o rumor do vento nas árvores e nos caniços, o cantar dos pássaros e os anseios espirituais do homem tenham sido os responsáveis pelo despertamento da sensibilidade humana para a música.
Poeticamente alguém escreveu, falando do surgimento das artes entre os homens: “Adão foi o início da escritura, assim como Eva foi o começo da poesia. O desenho nasceu muito mais tarde. Nasceu talvez do remorso de Caim. E a música, de onde nasceu? A música nasceu da saudade que Adão sentiu de Abel.”
Está provado que desde tempos imemoriais existe no homem um impulso natural para a música. Descobertas arqueológicas de baixos relevos egípcios mostram cantores e bailarinos a distraírem os faraós, em cantatas e desfiles rítmicos.
A pintura, a escultura e as decorações de vasos e estampas constituem uma documentação preciosa das atividades musicais do homem da idade da pedra, do bronze, e das civilizações egípcia, grega, hindu, chinesa, e outras.
Hoje, os museus do mundo inteiro expõem aos olhos dos estudiosos, liras sumerianas, sinos pré-babilônicos de argila e de metal, harpas, flautas e alguns instrumentos de percussão egípcios, trompas da idade do bronze, saltérios, alaúdes, chocalhos duplos, cornetas, e outros instrumentos não identificados.
Alguns historiadores afirmam que os egípcios possuíram harpas de espantosa riqueza. Sobre madeiras raras, usadas na fabricação desses instrumentos, brilhavam o ouro, a prata e as pedras preciosas.
Nas mãos dos gregos a música adquiriu uma dignidade e uma perfeição até então desconhecidas. Platão, um apaixonado por música, fez uma seleção das melodias de acordo com a influência que elas exerciam sobre o povo, indicando músicas para finalidades guerreiras, estimulantes e educativas.
A MÚSICA ENTRE OS JUDEUS
Por ter surgido no meio de um povo profundamente marcado pelo sofrimento e peregrinações, a música judaica – ora incandescente e lírica, ora serenamente triste – acendeu a chama de esperança ou marcou os momentos de aflição do povo judeu.
Nos tempos bíblicos, a música judaica foi ritualística, acompanhando o serviço sacrificial.
Mas esteve também muito ligada à profecia, como no caso de Elias: “Ora, pois, trazei-me um tangedor. E sucedeu que, tangendo o tangedor, veio sobre ele a mão do Senhor”, 2 Reis 3.15; e no caso de Saul: 1 Samuel 10.10,11.
A primeira referência a um músico na Bíblia encontra-se no livro de Gênesis, 4.21. Após o dilúvio, quem primeiro fez referência à música foi Labão, o sogro de Jacó: Gênesis 31.27. Os judeus comemoravam suas vitórias com cânticos de triunfo: Êx 15.1-21 e Jz 5.1-32. Davi, tangendo a harpa, fazia com que um espírito deixasse de atormentar Saul: 1 Sm 23.16.
Célebre era a festa da Retirada da Água em Sucot, quando uma enorme multidão, que se reunia no pátio das Mulheres do Templo de Jerusalém, cantavam canções de alegria e louvor, empunhando lanternas acesas e carregando jarras de água nos ombros, enquanto os levitas executavam músicas com a lira, a harpa, os címbalos, as trombetas e inúmeros outros instrumentos.
O historiador Natham Ausubel informa que “embora cerca da metade dos 150 hinos incluídos no Livro de Salmos fossem destinados (conforme indicam as inscrições sobrepostas e as instruções que neles se encontravam) a serem cantadas com acompanhamento instrumental pelos coros levitas no serviço do Templo no Monte Sion, e embora haja mesmo uma certa base para se crer que cada um deles deveria ser cantado segundo um modo musical específico, bem conhecido dos judeus daquela época, não existe qualquer indicação de quais seriam as melodias ou entonações”.
A música judaica iria inspirar toda a sublime criação musical do cristianismo. Na Igreja Cristã ela teria o seu conceito dilatado. O teólogo Ambrósio (séc. IV) assim a definiu:
“A música e a poesia são as duas asas com as quais a alma, movida pela esperança, pelo arrependimento e pelo amor, é transportada até Deus. A harmonia dos Céus e da Terra é um concerto do Universo, no qual os poderes celestes, as cortes dos eleitos, todo o coro da Criação e até as ondas dos mares tomam parte. As vozes dos homens, das mulheres e das crianças, que soam nos salmos e nos responsórios, parecem-se com o murmurar das águas”.
CRISTIANISMO E MÚSICA
Disse Jacques Stehman que “a ciência musical evoluiu através da execução da música ao longo dos séculos”. Os mais antigos cânticos cristãos são os Salmos, que proveem do culto hebraico. Os primeiros cristãos imitaram a salmodia dos judeus, acentuando o ritmo das palavras num recitativo.
É importante sabermos que os mais antigos trabalhos da música cristã pertencem à liturgia católica. O Kyrie (composto e utilizado pela Igreja desde as origens do Cristianismo), o Sanctus (séc. II), o Criste (séc. IV), o Te Deum (séc. VI) e o Glória (séc. XI), são as mais antigas criações musicais do Cristianismo. Os estudiosos reconhecem que o Te Deum é uma composição poética e musical de grande magnitude. É o hino principal de ação de graças da liturgia católica.
Segundo Friedrich Herzfel, musicólogo alemão, “o canto gregoriano (usado na liturgia católica) é a base da música civilizada de hoje. Para trás dele, embora se encontrem princípios científicos e formais de importância e uso constante, é outro mundo musical, sem ligação com o mundo presente. Todas as formas melódicas empregadas nas obras-primas da música clássica, romântica e moderna se encontram no canto gregoriano”.
Foi Gregório Magno (Gregório I), doutor da Igreja, nascido em Roma no ano de 540, o criador do canto que hoje é conhecido como gregoriano. Ele reuniu todos os cantos da Igreja Romana num volume denominado Antifonário Autêntico, que segundo escreveu Luiz de Freitas Branco, “continha todas as cerimônias rituais do ano eclesiástico, dispostas pela ordem do culto, e ficava preso ao altar-mor da Igreja de São Pedro em Roma, com uma cadeia de outro para indicar que serviria de modelo e norma para o canto de toda a cristandade”.
Os cantos gregorianos eram estritamente vocais, sendo vedada a utilização de quaisquer instrumentos, considerados pelos antigos padres como “utensílios de demônios”. Tinham caráter rigorosamente monódico, ou seja: todos os elementos do coro cantavam simultaneamente a mesma linha melódica, na mesma altura.
Conforme reconhecem os maiores musicólogos cristãos, eram adaptações bem próximas dos antigos modos de canto da Torah, ouvidos na sinagoga.
O canto gregoriano, purificado, decantado pelos religiosos daquela época, é o reflexo de uma vida espiritual muito elevada.
Coube a Martinho Lutero criar o gênero coral protestante. É necessário fazermos aqui um paralelo entre os corais compostos ou traduzidos por Lutero, e os hinos da Harpa Cristã e do Cantor Cristão.
Entre os hinos que cantamos, há alguns trazidos do folclore nórdico. Bom seria que se fizesse um estudo aprofundado sobre a gênese dos hinos evangélicos, que em sua maioria foram traduzidos do inglês ou do espanhol, e alguns deles traduzidos, inicialmente, de outras línguas para o inglês.
É importante considerar o fato de que Lutero mudou radicalmente a atitude de seus contemporâneos religiosos com relação à música, indo buscar inspiração nas melodias populares (ou foclóricas) alemãs.
Por compreender a importância da música no culto divino, e a necessidade da participação dos fiéis nos cânticos de louvor a Deus, ao empreender a Reforma, Lutero restabeleceu o uso do canto congregacional, que havia sido abandonado por volta do século VI ou VII.
Lutero escreveu 36 hinos, entre textos de inspiração própria, traduções e versificações de passagens bíblicas. O teólogo e pedagogo Comenius comentou que os cantos luteranos tinham atraído mais gente para a Reforma do que os próprios sermões e escritos teológicos de Lutero.
Criticado por se inspirar nas melodias populares alemãs, e não utilizar o latim ao escrever suas letras, Lutero respondeu que não via “qualquer razão para o diabo ficar com todas as melodias bonitas”. Os títulos de seus hinos muito se assemelham aos títulos de nossos hinos, e estão astronomicamente afastados dos cantos da liturgia católica.
Além do Castelo forte é o nosso Deus, ele escreveu Alegrai-vos cristãos; Senhor Deus nós te louvaremos, Da mais profunda dor eu clamo a Ti, Sê louvado Jesus Cristo, Cristo jazia nos laços da morte, Rogamos ao Espírito Santo, Conserva-nos, Senhor, junto da tua Palavra.
A música sacra influenciou todos os grandes mestres da música clássica. Johan Sebastião Bach, com seus Oratórios do Natal e da Páscoa, suas duas Paixões, e seus inúmeros Prelúdios sobre corais; Haendel, com o seu oratório O Messias (o Aleluia é um coro desse oratório) e outras obras; Schubert, com suas Missas, e também Haydn, e Liszt, e muitos outros, devem à música sacra grande parte da monumentalidade de suas obras.
Jefferson Magno Costa
O sentimento de louvor e adoração se apossa suavemente do coração de todos: homens, jovens, velhos e meninos louvam o Redentor. Ventos, chuvas, raios e trovoadas; sol, lua e coros estelares são convocados para esta adoração. Um mesmo sentimento une a igreja através da mais arrebatadora e espiritual das artes: a música.
O que é a música? De que modo ela consegue traduzir os sentimentos e aspirações do ser humano, como ocorre nesse culto onde está sendo cantado o hino 124? Que lugar ela ocupa na cultura evangélica? Que formas tem assumido no decorrer de sua evolução entre nós?
Responder estas perguntas implica em fazer um exaustivo e cuidadoso estudo da origem, evolução e influência da música, tanto do ponto de vista geral, da humanidade, como do ponto de vista particular, nosso, dos evangélicos – tarefa que está muito acima dos nossos conhecimentos e recursos críticos.
Porém, na esperança de que este trabalho motive o surgimento de outros – criteriosos e científicos como devem ser os trabalhos sobre um tema tão importante – façamos, assim mesmo, algumas considerações sobre a música.
ESSÊNCIA E ORIGEM DA MÚSICA
A essência da música, ou o belo musical, reside na feliz harmonia dos sons consonantes e dissonantes, e na intensidade de penetração da emoção transmitida. (São considerados sons consonantes aqueles que produzem impressão agradável ao ouvido; inversamente, os sons dissonantes são aqueles que produzem sensação desagradável).
De acordo com o tom em que é executada – o tom maior é próprio de canções tristes e melancólicas – a música pode vibrar o nosso coração e a nossa alma, ou transportar-nos às regiões eternas e nos aproximar de Deus. Alguém chegou a dizer que a música é um pouco do Céu sobre a Terra. (Esse pensamento não vale para toda e qualquer música, é evidente).
Jacques Stehman, historiador francês, afirmou que a música foi a primeira linguagem do homem primitivo. Durante longos séculos permaneceu como oração, utilizada na invocação à divindade. Finalmente, misturando-se com o mundo profano, tornou-se também um divertimento.
Porém, não se sabe exatamente quando, nem como a música surgiu na Terra. Além dos anjos, que no Céu eternamente louvam o Senhor, é possível que os portentosos ruídos da Criação tenham sido os componentes da grande orquestra que pela primeira vez encheu de sons o Universo.
A música é de origem divina, e só Aquele que inspirou no homem todas as artes, sabe quando e como ela começou.
As várias formas que a música tem assumido, desde os cantos dos rituais primitivos, passando pelo canto dos combatentes da Antiguidade, pela música dos festejos dionisíacos, pelas oferendas musicais dos povos antigos, pelos ajuntamentos festivos de rapazes e donzelas nos campos, vales e bosques, durante comemorações folclóricas, estão muito distantes da unção e sublimidade dos hinos cantados pela Igreja Primitiva nos subterrâneos das catacumbas de Roma; estão imensamente afastadas da tonalidade do canto gregoriano da liturgia católica, ou dos corais criados por Martinho Lutero, ou do sentimento que une os irmãos, ao cantarem: “Adorai o Rei do Universo/ Terra e Céus, cantai o seu louvor/”, ou da diabólica música do Kiss.
O som e o ritmo, os elementos formais da música, são tão velhos como o homem. A harmonia e a melodia foram assimiladas posteriormente. Muitos historiadores supõem que o zumbido da corda do arco, o rumor do vento nas árvores e nos caniços, o cantar dos pássaros e os anseios espirituais do homem tenham sido os responsáveis pelo despertamento da sensibilidade humana para a música.
Poeticamente alguém escreveu, falando do surgimento das artes entre os homens: “Adão foi o início da escritura, assim como Eva foi o começo da poesia. O desenho nasceu muito mais tarde. Nasceu talvez do remorso de Caim. E a música, de onde nasceu? A música nasceu da saudade que Adão sentiu de Abel.”
Está provado que desde tempos imemoriais existe no homem um impulso natural para a música. Descobertas arqueológicas de baixos relevos egípcios mostram cantores e bailarinos a distraírem os faraós, em cantatas e desfiles rítmicos.
A pintura, a escultura e as decorações de vasos e estampas constituem uma documentação preciosa das atividades musicais do homem da idade da pedra, do bronze, e das civilizações egípcia, grega, hindu, chinesa, e outras.
Hoje, os museus do mundo inteiro expõem aos olhos dos estudiosos, liras sumerianas, sinos pré-babilônicos de argila e de metal, harpas, flautas e alguns instrumentos de percussão egípcios, trompas da idade do bronze, saltérios, alaúdes, chocalhos duplos, cornetas, e outros instrumentos não identificados.
Alguns historiadores afirmam que os egípcios possuíram harpas de espantosa riqueza. Sobre madeiras raras, usadas na fabricação desses instrumentos, brilhavam o ouro, a prata e as pedras preciosas.
Nas mãos dos gregos a música adquiriu uma dignidade e uma perfeição até então desconhecidas. Platão, um apaixonado por música, fez uma seleção das melodias de acordo com a influência que elas exerciam sobre o povo, indicando músicas para finalidades guerreiras, estimulantes e educativas.
A MÚSICA ENTRE OS JUDEUS
Por ter surgido no meio de um povo profundamente marcado pelo sofrimento e peregrinações, a música judaica – ora incandescente e lírica, ora serenamente triste – acendeu a chama de esperança ou marcou os momentos de aflição do povo judeu.
Nos tempos bíblicos, a música judaica foi ritualística, acompanhando o serviço sacrificial.
Mas esteve também muito ligada à profecia, como no caso de Elias: “Ora, pois, trazei-me um tangedor. E sucedeu que, tangendo o tangedor, veio sobre ele a mão do Senhor”, 2 Reis 3.15; e no caso de Saul: 1 Samuel 10.10,11.
A primeira referência a um músico na Bíblia encontra-se no livro de Gênesis, 4.21. Após o dilúvio, quem primeiro fez referência à música foi Labão, o sogro de Jacó: Gênesis 31.27. Os judeus comemoravam suas vitórias com cânticos de triunfo: Êx 15.1-21 e Jz 5.1-32. Davi, tangendo a harpa, fazia com que um espírito deixasse de atormentar Saul: 1 Sm 23.16.
Célebre era a festa da Retirada da Água em Sucot, quando uma enorme multidão, que se reunia no pátio das Mulheres do Templo de Jerusalém, cantavam canções de alegria e louvor, empunhando lanternas acesas e carregando jarras de água nos ombros, enquanto os levitas executavam músicas com a lira, a harpa, os címbalos, as trombetas e inúmeros outros instrumentos.
O historiador Natham Ausubel informa que “embora cerca da metade dos 150 hinos incluídos no Livro de Salmos fossem destinados (conforme indicam as inscrições sobrepostas e as instruções que neles se encontravam) a serem cantadas com acompanhamento instrumental pelos coros levitas no serviço do Templo no Monte Sion, e embora haja mesmo uma certa base para se crer que cada um deles deveria ser cantado segundo um modo musical específico, bem conhecido dos judeus daquela época, não existe qualquer indicação de quais seriam as melodias ou entonações”.
A música judaica iria inspirar toda a sublime criação musical do cristianismo. Na Igreja Cristã ela teria o seu conceito dilatado. O teólogo Ambrósio (séc. IV) assim a definiu:
“A música e a poesia são as duas asas com as quais a alma, movida pela esperança, pelo arrependimento e pelo amor, é transportada até Deus. A harmonia dos Céus e da Terra é um concerto do Universo, no qual os poderes celestes, as cortes dos eleitos, todo o coro da Criação e até as ondas dos mares tomam parte. As vozes dos homens, das mulheres e das crianças, que soam nos salmos e nos responsórios, parecem-se com o murmurar das águas”.
CRISTIANISMO E MÚSICA
Disse Jacques Stehman que “a ciência musical evoluiu através da execução da música ao longo dos séculos”. Os mais antigos cânticos cristãos são os Salmos, que proveem do culto hebraico. Os primeiros cristãos imitaram a salmodia dos judeus, acentuando o ritmo das palavras num recitativo.
É importante sabermos que os mais antigos trabalhos da música cristã pertencem à liturgia católica. O Kyrie (composto e utilizado pela Igreja desde as origens do Cristianismo), o Sanctus (séc. II), o Criste (séc. IV), o Te Deum (séc. VI) e o Glória (séc. XI), são as mais antigas criações musicais do Cristianismo. Os estudiosos reconhecem que o Te Deum é uma composição poética e musical de grande magnitude. É o hino principal de ação de graças da liturgia católica.
Segundo Friedrich Herzfel, musicólogo alemão, “o canto gregoriano (usado na liturgia católica) é a base da música civilizada de hoje. Para trás dele, embora se encontrem princípios científicos e formais de importância e uso constante, é outro mundo musical, sem ligação com o mundo presente. Todas as formas melódicas empregadas nas obras-primas da música clássica, romântica e moderna se encontram no canto gregoriano”.
Foi Gregório Magno (Gregório I), doutor da Igreja, nascido em Roma no ano de 540, o criador do canto que hoje é conhecido como gregoriano. Ele reuniu todos os cantos da Igreja Romana num volume denominado Antifonário Autêntico, que segundo escreveu Luiz de Freitas Branco, “continha todas as cerimônias rituais do ano eclesiástico, dispostas pela ordem do culto, e ficava preso ao altar-mor da Igreja de São Pedro em Roma, com uma cadeia de outro para indicar que serviria de modelo e norma para o canto de toda a cristandade”.
Os cantos gregorianos eram estritamente vocais, sendo vedada a utilização de quaisquer instrumentos, considerados pelos antigos padres como “utensílios de demônios”. Tinham caráter rigorosamente monódico, ou seja: todos os elementos do coro cantavam simultaneamente a mesma linha melódica, na mesma altura.
Conforme reconhecem os maiores musicólogos cristãos, eram adaptações bem próximas dos antigos modos de canto da Torah, ouvidos na sinagoga.
O canto gregoriano, purificado, decantado pelos religiosos daquela época, é o reflexo de uma vida espiritual muito elevada.
Coube a Martinho Lutero criar o gênero coral protestante. É necessário fazermos aqui um paralelo entre os corais compostos ou traduzidos por Lutero, e os hinos da Harpa Cristã e do Cantor Cristão.
Entre os hinos que cantamos, há alguns trazidos do folclore nórdico. Bom seria que se fizesse um estudo aprofundado sobre a gênese dos hinos evangélicos, que em sua maioria foram traduzidos do inglês ou do espanhol, e alguns deles traduzidos, inicialmente, de outras línguas para o inglês.
É importante considerar o fato de que Lutero mudou radicalmente a atitude de seus contemporâneos religiosos com relação à música, indo buscar inspiração nas melodias populares (ou foclóricas) alemãs.
Por compreender a importância da música no culto divino, e a necessidade da participação dos fiéis nos cânticos de louvor a Deus, ao empreender a Reforma, Lutero restabeleceu o uso do canto congregacional, que havia sido abandonado por volta do século VI ou VII.
Lutero escreveu 36 hinos, entre textos de inspiração própria, traduções e versificações de passagens bíblicas. O teólogo e pedagogo Comenius comentou que os cantos luteranos tinham atraído mais gente para a Reforma do que os próprios sermões e escritos teológicos de Lutero.
Criticado por se inspirar nas melodias populares alemãs, e não utilizar o latim ao escrever suas letras, Lutero respondeu que não via “qualquer razão para o diabo ficar com todas as melodias bonitas”. Os títulos de seus hinos muito se assemelham aos títulos de nossos hinos, e estão astronomicamente afastados dos cantos da liturgia católica.
Além do Castelo forte é o nosso Deus, ele escreveu Alegrai-vos cristãos; Senhor Deus nós te louvaremos, Da mais profunda dor eu clamo a Ti, Sê louvado Jesus Cristo, Cristo jazia nos laços da morte, Rogamos ao Espírito Santo, Conserva-nos, Senhor, junto da tua Palavra.
A música sacra influenciou todos os grandes mestres da música clássica. Johan Sebastião Bach, com seus Oratórios do Natal e da Páscoa, suas duas Paixões, e seus inúmeros Prelúdios sobre corais; Haendel, com o seu oratório O Messias (o Aleluia é um coro desse oratório) e outras obras; Schubert, com suas Missas, e também Haydn, e Liszt, e muitos outros, devem à música sacra grande parte da monumentalidade de suas obras.
Jefferson Magno Costa
...Hoje em dia o louvor ocupa um grande espaço de tempo durante o culto. Vários grupos se apresentam, deixando para o final a pregação.
ResponderExcluirNosso tempo anda tão corrido, e quando chega o dia de nos reunirmos no templo, para ouvir Deus falar através de sua Palavra, enfrentamos uma maratona de louvores, jograis, coreografias, longos testemunhos, etc. E a Palavra de Deus fica por último. Um culto que deveria ter duas horas de duração, acaba tendo umas duas horas e meia a três horas, restando 20 a 30 minutos para a Palavra ser pregada (nessa hora o Pastor fica olhando para o relógio).
O vistante que ainda não recebeu Jesus no coração deve achar aquilo tudo enfadonho!
Mais palavra de Deus! Mais evangelismo nas ruas! menos coreografia e teatrinho dentro das igrejas!
Shalom adonai Primo..!!! Grande Abraço!
Shalom!
ResponderExcluirPrezado Jeferson, a Central Gospel, não publicará mais livros do Dr. Warren Wiersbe? Meu amigo traga mais pérolas deste homem! Há muita coisa boa que ele escreveu.
aguardo resposta, Pr Marcello
Prezado erudito pastor Marcello, Wiersbe estará reaparecendo em breve na Central Gospel. Aguarde.
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