A TENDÊNCIA DO POVO BRASILEIRO PARA O FANATISMO RELIGIOSO
Na madrugada do dia 21 de novembro de 1896, quase três mil homens armados de espingardas de caça, facões, foices, ferrões de vaqueiro e varas, caminhavam cantando ladainhas e rezando, rumo a um vilarejo no interior da Bahia, denominado Uauá. Marchavam com o propósito de enfrentar uma tropa do exército, composta de mais de 100 soldados.
À frente da multidão de fanáticos caminhavam vários cangaceiros, ladeados por homens conduzindo imagens de santos, palmas ressequidas retiradas dos altares de igrejinhas, a “bandeira do divino” e uma grande cruz de madeira. Eram os “beatos” de Antônio Conselheiro, um líder religioso que se dizia católico romano, e a quem os fanáticos veneravam como santo. Vinham do arraial de Canudos, o segundo maior reduto de fanáticos na história do Brasil, depois de Juazeiro do Norte, no Ceará (onde viveu o padre Cícero).
A luta travada naquela madrugada foi a primeira de quatro batalhas, que resultaram na morte de mais de 5.000 fanáticos, soldados e oficiais. Foi a Guerra de Canudos – a maior tragédia já produzida pelo fanatismo religioso no Brasil, que o escritor Euclides da Cunha, enviado na época pelo jornal O Estado de São Paulo para fazer a cobertura jornalística do conflito, imortalizaria no livro Os Sertões.
Por que as multidões se fanatizam? De onde vem essa força, esse poder, essa influência capaz de levar homens, mulheres e crianças a seguirem líderes religiosos que os dominam e exploram? O que leva as pessoas a se agruparem ao redor de homens tão humanos, tão carentes, tão limitados e falhos como as pessoas que os seguem, obedecem, crêem em suas promessas, tornam-se hipnotizadas pelo poder de sua oratória, e, em alguns casos, até se ajoelham para adorá-los como um deus?
Um dos estudiosos desse fenômeno, o sociólogo Pedro Vergara, salientou que “tanto no passado como em nossos dias, o fanatismo religioso oferece numerosos exemplos de delírios individuais e coletivos, em que os atos de ‘purificação’ ou de sacrifícios provocam massacres brutais. Tais paroxismos se caracterizam pela crueldade sanguinária, e pela ausência total de certos sentimentos que, noutras circunstâncias, teriam servido, só por si, de freio inibitório”.
Os dicionários definem o fanatismo como uma ilusão, um erro, um excessivo zelo religioso ou paixão levada ao exagero, uma espécie de delírio que leva o fanático a praticar atos criminosos em nome da religião. Além de ser um fenômeno social, o fanatismo é uma das mais graves manifestações da psicologia das massas.
Nos últimos trinta anos, sociólogos, psicólogos e historiadores das religiões têm-se debruçado com muita frequência sobre o tema, pois as populações de determinadas regiões do mundo estão se mostrando cada vez mais propensas ao fanatismo.
OS FANÁTICOS DO PADRE CÍCERO E OS FANÁTICOS DO “PASTOR” E JIM JONES
As hostes fanatizadas que se manifestam atualmente em alguns países do Oriente Médio e ameaçam a paz no mundo pouco diferem dos milhares de nordestinos que se reuniram ao redor do padre Cícero Romão Batista, na cidade do Juazeiro, no Ceará, no início do século passado, e combateram as tropas do Governador Franco Rabelo, usando rifles, mas também atirando sobre os soldados pedaços de chifres, contas de rosário, pregos retirados do interior de igrejas, pedaços de cera benta e ossos de defuntos, como objetos infalíveis para afugentar a tropa dos “soldados do cão”, que os atacavam.
O problema do fanatismo religioso torna-se mais difícil ainda de ser cientificamente explicado, quando nos deparamos com a trágica decisão dos 913 adeptos da seita “Templo do Povo”, que em 1978 cometeram suicídio coletivo nas Guinas, ingerindo cianureto em obediência à determinação de seu líder religioso, Jim Jones, o “pastor do diabo”. Haverá uma explicação para essa que é hoje considerada uma das maiores tragédias com motivação religiosa da história? Afinal, o que é o fanatismo religioso?
A OPINIÃO DE FREUD SOBRE O FANATISMO, E A “TRAGÉDIA DA PEDRA BONITA” EM PERNAMBUCO
Analisando a psicologia das massas fanatizadas, Freud escreveu: “Quaisquer que sejam os indivíduos que a compõem, e por diversos ou semelhantes que possam ser seus gêneros de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato exclusivo de se acharem transformados numa multidão, torna-os possuídos por uma espécie de alma coletiva. Esta alma os faz sentir, pensar e agir de uma maneira inteiramente diferente de como se sentiria, pensaria e agiria cada um deles isoladamente. Exigem ilusões às quais não podem renunciar. Dão sempre preferência ao irreal, e o real age sobre elas com a mesma força do real. Como acontece no sonho e na hipnose, a prova da realidade sucumbe perante a energia dos desejos carregados de fantasias.”
Uma das maiores confirmações de que Freud tinha razão ao afirmar que as multidões fanatizadas preferem o irreal ao real ocorreu em 1838, em um lugarejo conhecido como Vila Bela, no Estado de Pernambuco. Ali, o fanatismo tocou as raias do horror e do delírio sanguinários, resultando no que ficou conhecida como “a tragédia da Pedra Bonita”.
Meses antes, o agricultor João Ferreira da Silva havia percorrido o sertão de Pernambuco dizendo ser ele o rei D. Sebastião, de Portugal, que finalmente voltara para tornar ricos e imortais a todos os que se unissem à sua pregação. (D. Sebastião foi o rei português que, em 1580, morreu lutando contra os espanhóis, na batalha de Alcácer-Quibir. Porém, os portugueses permaneceram acreditando que D. Sebastião não havia morrido, e que um dia iria voltar para não só libertá-los dos espanhóis, mas para torná-los ricos e poderosos sobre todas as nações do mundo. Surgiu então o Sebastianismo, que os colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil, juntamente com inúmeras outras crendices.)
Após reunir um grande número de nordestinos ingênuos, fanáticos e crédulos em suas promessas, João Ferreira disse que estava desgostoso e triste com todos. Quiseram saber por que. Ele lhes disse que os considerava incrédulos, fracos e falsos, pois apesar de ele ter lhes falado que muita riqueza os aguardava “no seu reino”, ainda permanecia preso a um encantamento.
– Mas esse encantamento será quebrado se vocês me ajudarem a lavar com sangue as duas torres da catedral do meu reino, que se erguem próximas daqui. (Na floresta que ficava próxima ao local onde eles estavam reunidos havia dois enormes rochedos.) Após o meu encanto haver sido quebrado – continuou João Ferreira, no auge do seu delírio assassino – os “fiéis” que se tiverem sacrificado por mim, se forem pretos ressuscitarão brancos; se forem velhos ressuscitarão moços, e todos serão poderosos e imortais.
Imediatamente a multidão caminhou para o local onde se erguiam os dois rochedos, resolvida a provar sua lealdade ao “rei D. Sebastião”. As cenas que se registraram foram mais cruéis do que o suicídio coletivo dos adeptos da seita de Jim Jones.
Homens e mulheres agarram seus filhos que estavam com eles. Outros foram buscá-los em casa, para que seus pescoços fossem cortados com facões afiados, ou suas cabeças esmagadas ao se chocarem com os rochedos, lavando assim as “torres da catedral” com sangue. No auge do ritual assassino, um fanático agarrou seus dois netos, subiu com eles ao cume de um dos rochedos e pulou de lá, despedaçando-se em baixo sobre o chão de pedras, ele e as duas crianças. Quando a polícia foi chamada e conseguiu parar o delírio dos fanáticos suicidas e assassinos, os dois rochedos estavam lavados pelo sangue de 30 crianças, 12 homens, 11 mulheres e 14 cães.
O FANATISMO RELIGIOSO É INSPIRADO POR SATANÁS
Estamos convictos de que há uma participação direta de Satanás em todas as manifestações de fanatismo, pois as eclosões fanáticas sempre são acompanhadas de alienação, práticas imorais, assassinatos e suicídios – atitudes diametralmente opostas à lição de vida e à mensagem de salvação e paz que os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo pregam ao mundo.
Em contrapartida, seitas como a do Reverendo Moon, os decadentes “Meninos de Deus”, e outros propagadores do fanatismo religioso, têm dado ao mundo exemplos de chantagens, imoralidade e práticas que levam seus adeptos à alienação e loucura. Porém, a estarrecedora decisão de matar entes queridos e oferecer-se para morrer, atendendo o apelo de um fanático em delírio de paixão assassina, tem levado quase todos os estudiosos do comportamento humano a admitirem que há a influência de uma força sobrenatural nessa decisão.
Eric Hoffer, estudando o fanatismo, diz que “morrer e matar parecem fáceis quando são parte de um ritual, cerimonial ou desempenho dramático. Portanto, é necessário uma espécie de ilusionismo, de força sobrenatural para que o indivíduo enfrente a morte com destemor. Por esse motivo, uma das primeiras providências daquele que conduz uma multidão de fanáticos é mascarar a amarga realidade de morrer ou matar, provocando em seus seguidores a ilusão de que estão participando de um espetáculo glorioso, solene, sobrenatural”.
A “VOCAÇÃO” BRASILEIRA PARA O FANATISMO
Já está mais do que provado que o brasileiro é potencialmente um indivíduo religioso. Billy Graham, o maior pregador do século 20, afirmou certa vez que “o Brasil é uma das maiores potências religiosas mundiais”. Porém, e infelizmente, essa tendência à religiosidade tanto tem sido um fator positivo como um fator negativo. Pois é no Brasil que se encontra o maior movimento pentecostal do mundo, liderado pelas Assembléias de Deus; mas é também no Brasil que as forças malignas que se manifestam em outros cultos atuam com um potencial maior do que em qualquer outro país.
As três raças que participaram da nossa formação – a branca, a negra e a indígena – trouxeram diversos elementos de crendices e superstição, para com eles formarem essa “tendência religiosa do brasileiro”. Quando os portugueses chegaram aqui para povoar o Brasil, estavam vivendo uma fase aguda de fanatismo em Portugal. Viam línguas de fogo misteriosas, combates entre cavaleiros no céu, e caixões de defuntos no pátio das igrejas. A Igreja Romana havia incutido no coração ingênuo do povo português (e ainda hoje milhões de adeptos do catolicismo seguem um conjunto de crenças muito parecidas às seguidas pelos portugueses daquela época) a crença no poder das lascas de madeira arrancadas da cruz de Cristo, dos retalhos do manto de Jesus, das cabeças de João Batista, veneradas em várias igrejas e conventos (o historiador Ludovico Lalane chegou à conclusão de existem nada menos do que 10 cabeças de João Batista espalhadas em igrejas e outras instituições católicas do mundo), das mechas de cabelo da Virgem, e até de um dedo do Espírito Santo!
O negro, por sua vez, trouxe da África seus rituais, mandingas e feitiçarias, estabelecendo no Brasil um culto aberto ao demônio. Porém, o branco e o negro já encontraram aqui o índio cheio de temor diante dos fenômenos da natureza, vendo almas em tudo, até nas folhas das árvores e nas formigas. O catolicismo português, o fetichismo africano e o animismo do índio fundiram-se na alma do povo brasileiro, criando dentro dele uma religiosidade que, na maioria das vezes, descamba para o fanatismo.
QUEBRANDO AS CORRENTES DO FANATISMO
Neste país que se diz religioso, mas que ainda tem uma grande parcela de sua população que desconhece a Verdade, que é Jesus Cristo (“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”; “Se pois o Filho de Deus vos libertar, verdadeiramente sereis livres”, João 8.32,36), é necessário que nós, evangélicos, anunciemos a Palavra de Deus de maneira clara, honesta e corajosamente, não omitindo nem um til ou um jota do que nela está escrito, nem usando de subterfúgios para ocultar a verdade do conhecimento de muitos, conforme fez a Igreja Romana ao longo dos séculos, que no início da colonização brasileira lia durante as missas a Palavra de Deus em um idioma desconhecido do povo, o latim.
Neste país, cujo Congresso Nacional aprovou o projeto número 220 A/1979, da Câmara Federal, reconhecendo a imagem de uma santa encontrada por pescadores no fundo de um rio (“Nossa Senhora Aparecida”) como a Padroeira do Brasil, e diante da qual milhões de brasileiros se curvam, rezam e fazem suas promessas, é necessário que nós, os evangélicos, leiamos em todos os lugares públicos e privados deste país, o mandamento de Deus que se encontra em Sua Palavra, no livro de Êxodo, capítulo 20, versículos 3, 4 e 5: “Não terás outros deuses [ou deusas] diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás nem lhes darás culto, porque eu sou o Senhor teu Deus...”
(Em Santa Brígida, município baiano junto à divisa com Alagoas, milhares de fanáticos veneraram, nas décadas de 70 e 80, e muitos veneram ainda hoje, o retrato de Pedro Batista da Silva, um andarilho “iluminado” que chegou ao município em 1945, rodeado de fiéis esfarrapados e famintos, e ali morreu em 1967. Os adoradores do “Padrinho Batista” passaram a rezar e a fazer promessas diante de sua cadeira, que consideravam milagrosa).
Neste país, onde ao som de atabaques, e utilizando-se de sangue de bodes e de galinhas, acendendo-se velas pretas e utilizando-se de outros símbolos esotéricos, milhares de brasileiros rendem culto ao demônio, chegando ao extremo de espetar o corpo desses inocentes com agulhas, ou sacrificar essas crianças em rituais macabros e malignos, é necessário que nós, os evangélicos, anunciemos a todos o que está escrito na Palavra de Deus, em Apocalipse 21.8: “Mas quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicários, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.”
O fanatismo religioso sempre encontrará solo fértil entre aqueles que desconhecem a Palavra de Deus. Todas as vezes que o homem substituir o conhecimento da Bíblia pelo seu próprio conhecimento; todas as vezes que ele procurar ofuscar a pessoa de Jesus, e tentar promover sua própria pessoa; quando ele não mais pregar acerca do amor e da salvação que há em Cristo Jesus, e não gozar dessa salvação nem praticar esse amor; quando ele não mais respeitar a paz e a liberdade humanas, o fanatismo dominará suas idéias e convicções, e se alastrará por entre o povo incauto e ingênuo.
Portanto, é necessário que nós, os evangélicos, tenhamos sempre pronta uma resposta para a pergunta que Pedro fez a Jesus Cristo, pois essa mesma pergunta está sendo feita hoje por todos aqueles que andam sedentos da verdade: “Senhor, para quem iremos?” Para Antônio Conselheiro, ou “Padim Ciço”, ou Hitler, ou Jim Jones, ou Aiatolá Khomeine, ou José Wellington, ou Bento XVI, ou Padrinho Batista? A resposta foi dada pelo próprio Pedro, ao reconhecer Jesus como Salvador e Senhor, o único detentor da Verdade: “Tu tens as palavras de vida eterna; e nós temos crido e conhecido que és o Santo de Deus”, João 6.68,69.
Somos contrários ao fanatismo religioso, e reafirmamos aqui a nossa fé em Jesus Cristo, que está no Céu e reina em nossa vida. O verdadeiro Jesus, o nosso Jesus, não foi transformado em imagens nem está sendo venerado sobre altares. Nós não o conduzimos em crucifixos pendurados no pescoço, nem penduramos quadro com sua imagem na parede. Nosso Jesus habita dentro de nós. Ele mora em nosso coração.
Jefferson Magno Costa
sábado, 29 de maio de 2010
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