Jefferson Magno Costa
(Reportagem realizada em maio 1984 para o jornal MENSAGEIRO DA PAZ, e republicada neste blog como contribuição histórica sobre o Centenário das Assembleias de Deus no Brasil).
Quando Lucas, em Atos dos Apóstolos, resolveu narrar ao excelentíssimo Teófilo os grandiosos fatos que originaram o surgimento da Igreja Primitiva, ficou então revelada a causa máxima da expansão do Evangelho entre os judeus e no mundo: a atuação do Espírito Santo.
O poder em forma de línguas repartidas de fogo que pousaram sobre os discípulos no Dia de Pentecoste se alastrou por todos os quadrantes da Terra, desde aqueles áureos tempos aos dias atuais.
Há 100 anos, essa chama chegou ao Brasil, e nada ou ninguém tem conseguido deter seu avanço transformador e livre. Enchentes, seca, crise, desprezo, ódio, calúnia e agressões – nada tem conseguindo impedir o crescimento das Assembleias de Deus no Brasil, que caminham sob a força propulsora do Espírito Santo.
Em seu avanço que desconhece limites, o Espírito de Deus tem semeando milhares de igrejas pentecostais em cidades e vilas, no pantanal Mato-grossense, nos pampas gaúchos, no centro-oeste, nas prósperas capitais do sudeste, no sertão nordestino e na selva amazônica.
O que se vê hoje em todo o Brasil, foi assim descrito certa vez pela jornalista Sônia da Fonseca: “O povo fala de uma alegria inexplicável, nascida quando o Espírito Santo lhes tocou o coração para uma entrega total de vida a Cristo; enfermos tornam-se livres de suas doenças incuráveis, deixando médicos estupefatos ante seus diagnósticos sem sentido; novos obreiros nascem a cada momento de uma renúncia à vida secular, e rumam às missões desconhecidas para pregar o Evangelho a toda criatura; homens atravessam rios em canoas, enfrentam feras sem armas, sobrevivem ao veneno e à febres mortíferas, vencem o inimigo com o amor de Deus, pregam em todos os lugares, penetram nas tocas de assassinos e saem acompanhados de novos evangelistas, cujos revólveres e punhais foram trocados pela palavra de Deus.”
Este é o fiel retrato da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil, que cresce em desafio a todas as crises.
Com o propósito de conferir e registrar esse crescimento no Nordeste, o jornal MENSAGEIRO DA PAZ nos enviou como repórter a quatro das principais igrejas Assembleias de Deus naquela região: Recife, Abreu e Lima, Natal e Salvador. Os fatos ali registrados mostram que a crise brasileira, ou, particularmente, a seca nordestina, não tem impedido o avanço da Obra de Deus. Os problemas são inúmeros e seriíssimos, mas a chama pentecostal permanece acesa no coração do povo de Deus.
Observa-se no Nordeste um verdadeiro fenômeno da multiplicação de igrejas evangélicas. Os pastores já concluíram que não adianta construir templos pequenos. O certo é construir templos grandes, pois templos pequenos já não podem acolher o grande número de pessoas que vêm aos pés de Cristo, sedentas da salvação e do poder de Deus.
A Assembleia de Deus está socorrendo – apesar dos seus limitadíssimos recursos – milhares de pessoas carentes. Os irmãos nordestinos continuam fielmente a pregar quatro principais verdades bíblicas: Jesus Cristo salva, cura, batiza com o Espírito Santo, e breve voltará para levar sua Igreja para o Céu.
COMO RECIFE ENTROU PARA A HISTÓRIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS
Quando o casal de missionários suecos Joel Franz Adolf Carlson e Signe Carlson desembarcaram, em 1918, em Recife, a cidade embelezada há dois séculos por Maurício de Nassau, traziam em seus corações a tocha do Pentecoste, em suas bagagens a ferramenta que seria utilizada no desbravamento evangelístico daquela terra árida e inóspita – a Palavra de Deus-, e na alma a disposição necessária para permanecerem de joelhos diante do Senhor da Seara durante horas, ou dias, ou meses – até que Ele abrisse as comportas do Céu, e fizesse chover sua graça sobre os duros corações, onde dia após dia as sementes de vida eterna estavam sendo arduamente lançadas.
Há oito anos os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren haviam chegado a Belém do Pará. Com eles haviam chegado também os janeiros, as auroras, o grandioso amanhecer do Pentecoste no Brasil.
É curioso observarmos que, há quase dois milênios, em Belém da Judéia nascera Jesus; e agora, no início deste século, em Belém do Pará – melhor dizendo: Em Belém do Brasil -, a Assembleia de Deus brasileira estava nascendo, como fruto do trabalho daqueles missionários suecos.
Em 1917, o irmão Adriano Nobre batizou os primeiros novos convertidos pernambucanos nas águas do Rio Capibaribe. No ano seguinte, após o regresso de Adeiano Nobre a Belém, Joel e Signe Calson chegaram à capital de Pernambuco.
Uma frase bordada em um quadro pertencente à sala Joel Carlson (vi esse quadro no Lar Evangélico Estrela de Betel, em Abreu e Lima, PE) traduz, com beleza e profundidade, quão espinhoso e difícil foi o começo dos trabalhos iniciados por aquele casal: “Para nos mostrar as estrelas, precisou Deus fazer a noite”.
Segundo a filha de Joel e Signe Carlson, irmã Rute Carlson Portela (com quem conversei longamente, e que traduziu para mim a frase escrita em sueco), aquelas palavras haviam sido proferidas pelo missionário Joel Carlson, durante uma de suas visitas à Suécia.
Só ele sabia o profundo significado que aquelas palavras tiveram em sua vida. Lutando contra a barreira dos idiomas, a diversidade de meios, a cultura, os costumes, as distâncias, o desejo de desistir de tudo, mas pregando heroica e perseverantemente o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, aquele casal de missionários brilhou como estrelas no meio da escuridão produzida pela incredulidade, pela idolatria e pela ignorância.
Do pequeno “mocambo” comprado em 1918, a igreja passou, em 1922, para um salão alugado, que antes fora um depósito de sal, e ali, debaixo de perseguições, calúnias e ameaças, eles passaram a ser “o sal da terra”, evangelizando os pecadores e atacando as hostes de Satanás.
Incomodadas com o crescimento do trabalho desenvolvidos pelos missionários suecos, algumas denominações evangélicas moveram uma campanha difamatória contra a Assembleia de Deus, caluniando-a através de folhetos e outros impressos.
Mas essa perseguição só serviu para aumentar o número de membros da igreja. Pessoas que vinham assistir aos cultos movidas pela curiosidade, desejosas de comprovarem a veracidade das calúnias, viam que a realidade era outra, e, após ouvirem a pregação da Palavra de Deus e serem alcançadas pelo seu poder, aceitavam a Cristo como Salvador, conforme aconteceu com um saldado enviado pelo Delegado de Polícia para espionar e fazer um relatório da “reunião dos crentes”. O soldado ficou tão maravilhado com o que viu, que aceitou Jesus como Salvador.
Em 1928, quando a igreja já contava 1500 membros, foi inaugurado o templo do bairro da Encruzilhada, que passou a ser a sede da igreja. No ano seguinte, Nils Kastberg e esposa chegaram a Recife. Joel Carlson viajou então à Suécia, e foi substituído por Nils Katsberg, até 1931, data em que o missionáio Joel Carlson retornou á Recife, e reassumiu a liderança dos trabalhos. Em 1942, após batizar, sozinho, 187 novos convertidos, o irmão Joel contraiu febre tifo (transmitida por um dos batizandos) e, duas semanas após aquele batismo, o apóstolo do Evangelho no Estado de Pernambuco foi convocado aos domínios eternos dAquele que, “para nos mostrar as estrelas, precisou fazer a noite”.
Após o falecimento do irmão Joel Carlson, com os olhos voltados para o futuro, os corações e as mentes cheios da glória de Deus, a igreja Assembleia de Deus em Recife continuou caminhando a passos largos, sob a liderança do pastor José Bezerra da Silva. Ele esteve à frente daquela pujante de dinâmica igreja durante 17 anos. Iniciou os trabalhos de mocidade, sugeriu a criação de Escolas Bíblicas Dominicais, e deu todo o apoio à criação dos Círculos de Oração. O pastor José Bezerra desenvolveu um trabalho cujas marcas são hoje inapagáveis na história da Assembleia de Deus em Recife.
Em seguida vieram os pastores José Rosa, Manoel Messias, José amaro da Silva e José Leôncio da Silva – atual pastor presidente.
O pastor José Amaro da Silva foi um homem que após ter sido operário durante vinte anos, “jogou fora esse tempo de serviço para falar de Jesus de porta em porta”, segundo comentou, na época, seu ex-patrão. Graças a esta decisão em benefício à causa do Mestre, José Amaro tornou-se um dos maiores líderes das Assembleias de Deus no Estado de Pernambuco, apoiando amplamente os trabalhos dos Círculos de Oração, impulsionando o evangelismo e dinamizando a Escola Dominical. Ele costumava dizer sempre: “Os pais não devem enviar seus filhos à Escola Dominical, e sim vir com eles.”
Seus 21 anos de pastorado contribuíram para que a igreja Assembleia de Deus em Recife alcançasse grande progresso. Quando o Senhor o chamou às regiões celestiais, o atual (e majestoso) templo sede já se encontrava em adiantada fase de construção.
O pastor José Leôncio da Silva (um homem humilde, simples, de gestos largos e acolhedores; quem o conversa com pela primeira vez conclui imediatamente que está diante de um pastor que apascenta suas ovelhas com um coração de pai) lidera uma igreja que conta atualmente com 120 mil membros em todo o Estado de Pernambuco (executando-se o campo de Abreu e Lima, PE). É assessorado (em todo o Estado) por sete pastores, nove evangelistas, 84 presbíteros, 238 diáconos e 180 auxiliares, que pregam a Palavra de Deus em 162 congregações na Capital (aproximadamente 400 em todo o Estado).
A Assembleia de Deus em Recife é a igreja campeã na distribuição do MENSAGEIRO DA PAZ, adquirindo mensalmente 12.000 jornais, que são distribuídos em Recife e em todo o Estado de Pernambuco. “Nós incentivamos os irmãos a comprar, a ler e depois presentear o MENSAGEIRO DA PAZ a um pecador, pois isto é uma poderosa forma de evangelização. Além disso, nós enviamos exemplares do MENSAGEIRO DA PAZ às principais autoridades da cidade do Recife”, declarou o pastor José Leôncio.
Trezentos cultos de pregação e 400 cultos de oração e doutrina são realizados semanalmente. A igreja batiza em média 3000 novos convertidos por ano. Ano passado (1983), o Senhor batizou 3500 irmãos com o Espírito Santo.
O Departamento de Escola Dominical da Assembléia de Deus em Recife é caracterizado pelas mesmas gigantescas dimensões em que o trabalho ali se realiza. São 15.000 alunos matriculados, registrando-se cerca de 10.000 visitantes, um corpo docente composto de 2500 professores e 280 dirigentes.
O Departamento de louvor é composto de quatro bandas de música, 600 corais e 200 conjuntos musicais (em todo o Estado). A mocidade das 162 congregações da Capital realiza 215 diferentes trabalhos.
A Assistência Social tem dois ambulatórios para atender aos irmãos, dispõe de duas escolas que beneficiam milhares de alunos, um abrigo de velhos, e brevemente disporá de um orfanato.
(Continua na próxima postagem)
Jefferson Magno Costa
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