Jefferson Magno Costa
(Entrevista realizada em 1984 para a revista Círculo de Oração, na época um dos periódicos da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Tornamos a publicá-la como material útil às comemorações do Centenário das Assembleias de Deus no Brasil).
No dia 29 de maio de 1984, Maria de Lourdes Costa, minha avó paterna, completou 85 anos de idade. Ela nasceu em Caicó, interior do Estado do Rio Grande do Norte, e aceitou Jesus como Salvador em Natal, no dia 7 de setembro de 1944, quando os bondes ainda cruzavam a cidade, e o aeroporto fora transformado num ponto estratégico que decidiu a vitória dos Exércitos Aliados contra as tropas de Adolfo Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela época as irmãs de oração se organizavam em grupos e saíam pelas ruas de Natal para evangelizar, visitar e orar pelos enfermos. Em 1952 a irmã Maria de Lourdes Costa, que fazia parte de um desses grupos de visitas, foi batizada com o Espírito Santo e ingressou nos trabalhos do Círculo de Oração, e permanece nessas atividades até hoje. Ela é membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Natal, que tem como presidente o pastor João Batista da Silva. A irmã Maria de Lourdes Costa é a dirigente mais idosa de todos os trabalhos de Círculo de Oração das Assembleias de Deus no Brasil.
JMC – Irmã Maria, durante esses seus 32 anos de atividades nos trabalhos do Círculo de Oração, o que o Senhor Jesus tem realizado?
MLC – O Senhor tem operado maravilhas, tem curado câncer, tuberculose, leucemia, dor de cabeça crônica, tem curado inúmeras irmãs e irmãos que haviam sido desenganados pelos médicos, tem batizado com o Espírito Santo, tem aberto portas de trabalho. Ele tem estado conosco todos os dias. Há irmãs que pedem oração num dia, e no trabalho seguinte vêm agradecer. Jesus tem feito maravilhas como resposta às nossas orações até à distância. Uma irmã, que mora em São Paulo, mandou pedir-nos que orássemos para que o Senhor fizesse seu esposo voltar para casa, pois ele a havia abandonado, e também deixara Jesus. Então nós oramos, e em seguida a irmã nos escreveu, contando que o Senhor chamara o seu esposo para os seus caminhos, e o fizera voltar para o lar. Muitos evangélicos, pertencentes a outras denominações, ao ouvirem dizer que o Senhor está operando entre nós, têm vindo para a Assembleia de Deus à procura de bênçãos, e as recebem sempre, porque o nosso Deus é um Deus maravilhoso e de poder.
JMC – E quanto à irmã, as bênçãos têm sido muitas em sua vida?
MLC – Muitas bênçãos tenho recebido do meu Senhor. Tive que trabalhar muito para criar 12 filhos, pois enviuvei logo após a minha conversão, e vi-me diante da responsabilidade de alimentá-los e educá-los. Hoje, graças a Deus, tenho advogado, médicos e professores na família. O Senhor tem estado comigo durante todos esses anos. Para criar meus filhos eu abri um fabrico de cuscuz de farinha de milho. Certa vez os apertos financeiros levaram-me a fazer um empréstimo. Porém, um parente meu necessitou urgentemente daquela importância, e eu tive que socorrê-lo, ficando assim impossibilitada de saldar minhas dívidas. E isto muito me angustiou. Fui, então, à igreja e coloquei o meu pedido de oração junto ao púlpito, mas não assinei. Disse só que estava passando por uma luta, e escrevi no final: “Uma serva do Senhor”, e depois sentei-me em um dos últimos bancos. Quando o irmão levantou-se para orar pelos pedidos de oração, leu o meu pedido, e disse: “Irmãos, este pedido de oração pode ser de uma irmã viúva, uma irmã que o marido deixou, uma irmã que está passando necessidades. Vamos fazer uma oração especial por este pedido.” Eu voltei para casa crendo que o Senhor ia abrir as janelas do céu. Um dos meus filhos deu-me 50 mil réis (moeda daquela época) para ajudar-me, mas aquela quantia ainda não era suficiente para que eu pudesse pagar a dívida. Mas eu continuei esperando no Senhor, e fazendo cuscuz, que era vendido em tabuleiros (recipiente de forma quadrada; bandeja grande, de madeira) pelos empregados. Então o Senhor fez com que minha freguesia aumentasse a ponto de eu ter que triplicar a quantidade de massa de milho no fabrico de cuscuz, assim como aconteceu com o azeite de viúva, no tempo do profeta Eliseu (2 Reis 4.1-7). E o dinheiro foi aparecendo em grande quantidade. Quando chegou o dia de efetuar o pagamento, pedi às minhas filhas que o contassem. Só sobrou os 50 mil réis que meu filho me havia dado. O Senhor nos havia providenciado a quantia exata para pagar a dívida no banco! No dia seguinte, minha freguesia voltou ao normal, como prova de que o Senhor havia aberto as janelas do Céu para me socorrer especificamente naquele aperto.
JMC – Segundo sua experiência, como se deve fazer para que os trabalhos de Círculo de Oração beneficiem a todos os que neles tomam parte?
MLC – Nos trabalhos do Círculo de Oração, devemos orar com fé diante do Senhor, devemos pedir oração com liberdade e contar as bênçãos com liberdade. Só recebe a bênção aquele que tem fé. Além do mais, a dirigente do Círculo de Oração deve ter também liberdade para beneficiar as irmãs necessitadas. Não concordo com aquelas que se esforçam para anotar sempre no talão de ofertas recebidas e que serão enviadas à igreja sede, uma quantia cada vez maior, destinada a outras finalidades, enquanto as irmãs carentes – muitas delas ficam o dia todo na igreja, orando conosco – passam fome em suas casas. Já visitei irmãs de resguardo que só tinham farinha com café para comer. Eu não posso ver isto. Eu tiro do dinheiro da oferta e socorro essas irmãs. Certa vez, mandei todo o dinheiro da oferta para um irmão que estava em casa operado, e às quatro horas da tarde ainda não havia se alimentado, nem ele nem sua família, pois não tinham dinheiro. Eu disse para as irmãs que trabalham comigo: “Vocês são minhas testemunhas de que o dinheiro da oferta está sendo mandado para este irmão”. E graças a Deus, naquele dia aquele irmão pôde comprar o necessário para se alimentar durante um mês.
JMC – Então a senhora defende que o trabalho do Círculo de Oração deve também voltar-se para a assistência social?
MLC – Sim, e eu já disse várias vezes ao meu pastor que só sei trabalhar com apoio e liberdade para ajudar os necessitados. Não foi assim que Jesus nos ensinou? Com a ajuda do Círculo de Oração, eu tenho ajudado muitas irmãs viúvas a construírem suas casas. Quando eu podia sair de casa com mais frequência (agora a idade quase só me dá condições de sair para os trabalhos da igreja), eu pedia a uma irmã, a um irmão de boa condição financeira, alguma ajuda para socorrer as viúvas e os necessitados da igreja. Consegui doações para construir casa para uma irmã cega, que morava com a nora, mas a nora dava-lhe muitos empurrões. No Natal do ano passado, senti muita tristeza porque estava doente e não podia sair nem tinha dinheiro para comprar tecido para os vestidinhos das irmãs necessitadas. Mas eu orei neste sentido, e o Senhor tocou o coração de alguns irmãos e irmãs, que vieram me trazer 37 cortes de tecido, e assim as irmãzinhas puderam vestir roupa nova no Natal. Chegamos, às vezes, até a comprar a prestação para dar um par de sapatos a um irmão necessitado.
JMC – Esta é a maneira que a irmã usa para demonstrar seu amor por Jesus Cristo?
MLC – Sim, pois o verdadeiro amor exige demonstração. Nós, que trabalhamos no Círculo de Oração e fazemos parte da comissão de visitas, fazemos o trabalho espiritual, mas e o trabalho material? Quando eu saía para visitar algum irmão ou irmã doentes, não sabia ir com as mãos vazias. Eu não teria condições de chegar na casa de uma irmã, ler a Palavra, orar, consolá-la, ir até a cozinha e ver que naquela casa não havia nada para se comer, e depois voltar sem ter deixado alguma ajuda. Não. Eu só sei trabalhar ajudando também materialmente minhas irmãs e irmãos na fé.
JMC – No seu convívio com o povo de Deus, o que mais tem lhe chamado a atenção?
MLC – A fé ilimitada que os irmãos e irmãs têm na pessoa de Jesus. Ouvi um irmão contar certa vez que resolveu esperar que o Senhor, assim como havia providenciado alimento para Elias, providenciasse o almoço para ele e sua esposa, pois não tinham dinheiro e nem tinham o que comer. O irmão disse para a esposa: “Minha velha, hoje é o dia do nosso aniversário de casamento. São 55 anos de bênçãos. Pois quem vai enviar o nosso almoço é o Senhor Jesus”. A esposa respondeu: “Ah! você está com essa fé toda? Pois eu não tenho tanta fé assim.” “Minha velha, respondeu ele, procure a toalha mais nova e estenda-a sobre a mesa; coloque os melhores talheres, porque hoje o Senhor providenciará um banquete para nós”. Ela obedeceu. O irmão foi para a sala ler a Bíblia. Algumas horas depois, quando aquela irmã já estava impaciente, passou um carro e parou à frente da casa ao lado. Em seguida a vizinha chamou a irmã para dizer que, por não se haver lembrado que seu pai estava aniversariando naquele dia, preparara o almoço, mas o carro que chegara ali há poucos instantes viera buscá-la, e por ela estar com a geladeira desligada por problemas elétricos, o almoço iria estragar-se caso a irmã não o aceitasse. E assim aquele casal foi presenteado com um verdadeiro banquete, providenciado por Deus.
JMC – Entre tantas demonstrações do zelo e do cuidado de Deus para com a irmã, a senhora poderia contar-nos alguma experiência em especial?
MLC - O nosso Deus tem um grande zelo por nós. Certa vez eu estava regressando para casa conduzindo uma bolsa, contendo documentos e o dinheiro para pagar uma dívida que não podia passar do dia seguinte, e comprar alimento para os meus filhos. Eu conduzia também uma sacola com algumas costuras. Vinha muito cansada e resolvi descansar um pouco, sentando-me em um dos bancos de uma praça. Eram 11 horas da manhã, as ruas estavam movimentadas. Após descansar o suficiente para refazer minhas forças, levantei-me, peguei a sacola com as costuras e fui para o ponto de ônibus. Quando, já no interior do ônibus, prepararei- me para pagar a passagem, percebi que a bolsa contendo o dinheiro não estava comigo. Então pedi ao motorista para descer do ônibus e voltei ao local onde estivera sentada antes. Quem me via de longe, podia até pensar que eu estava louca, porque ia andando e falando: “Jesus, guarda minha bolsa, tem misericórdia de mim. Como é que eu vou fazer dar de comer aos meus filhos, sem o dinheiro para pagar aquela dívida, e sem meus documentos, Senhor?” Quando cheguei próximo ao banco da praça, não vi nenhuma bolsa. Havia muita gente passando, e outras pessoas estavam sentadas ali. Então sentei-me no banco e comecei a orar e a chorar. Então fui abaixando a cabeça lentamente para chorar mais ainda. Foi então que vi junto ao pé do banco um papel grande, que certamente viera rolando, soprado pelo vento, e parara ali, abraçando o pé do banco. Quase sem nenhuma esperança, levantei aquele papel. Minha bolsa estava debaixo dele! O Senhor a havia guardado com tudo dentro! Fiquei tão feliz que, ao voltar para casa, peguei o ônibus errado.
JMC – Conte-nos sobre um sonho que a irmã teve, quando viu o Grande Coral que está formado no Céu.
MLC – Sonhei com um Grande Coral no Céu. A multidão de seus componentes era tão grande que não dava para ver onde terminava as laterais, e até onde as fileiras de coristas se estendiam para trás. Nesse coral vi quando a irmã Amélia Pires, esposa do Pastor Eugênio Pires (ambos já dormem no Senhor) veio ao meu encontro e disse: “Irmã Maria, sua voz está fazendo falta nesta Grande Coral. Estamos à sua espera.”
Quando o Senhor achar que já está na hora de eu partir para fazer parte desse Grande Coral composto pelos salvos e remidos pelo sangue de Jesus, partirei alegremente.
JMC– Que palavra a irmã deixa para as demais irmãs e servas de Deus?
MLC – Que todas se esforcem para continuar a servir fielmente ao Senhor. O testemunho que as mulheres evangélicas dão em casa é muito importante, pois a vizinhança está sempre a nos observar. Há casos em que o esposo chega em casa cansado, faminto, e a esposa, ao invés de recebê-lo bem, trata-o com indiferença ou com cara feia, reclamando sua demora, perguntando onde ele estava, e isto não se faz. A mulher sábia edifica a sua casa, mas a louca a destrói. Isso eu digo sempre no Círculo de Oração. É necessário muito cuidado para não ser incompreendida pelo marido, quando se tratar de nos afastarmos de tudo para nos consagramos a Deus, principalmente se o marido for descrente. Nós devemos servir ao Senhor com sabedoria, nunca esquecermos de suas promessas, e jamais cessarmos nossas súplicas. Só assim poderemos alcançar as bênçãos nesta vida, e a coroa de glória que está reservada para nós no Céu.
(Obs. Dois após esta entrevista, a irmã Maria de Lourdes Costa partiu para fazer parte do Grande Coral do Céu).
Jefferson Magno Costa
(Entrevista realizada em 1984 para a revista Círculo de Oração, na época um dos periódicos da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Tornamos a publicá-la como material útil às comemorações do Centenário das Assembleias de Deus no Brasil).
No dia 29 de maio de 1984, Maria de Lourdes Costa, minha avó paterna, completou 85 anos de idade. Ela nasceu em Caicó, interior do Estado do Rio Grande do Norte, e aceitou Jesus como Salvador em Natal, no dia 7 de setembro de 1944, quando os bondes ainda cruzavam a cidade, e o aeroporto fora transformado num ponto estratégico que decidiu a vitória dos Exércitos Aliados contra as tropas de Adolfo Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela época as irmãs de oração se organizavam em grupos e saíam pelas ruas de Natal para evangelizar, visitar e orar pelos enfermos. Em 1952 a irmã Maria de Lourdes Costa, que fazia parte de um desses grupos de visitas, foi batizada com o Espírito Santo e ingressou nos trabalhos do Círculo de Oração, e permanece nessas atividades até hoje. Ela é membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Natal, que tem como presidente o pastor João Batista da Silva. A irmã Maria de Lourdes Costa é a dirigente mais idosa de todos os trabalhos de Círculo de Oração das Assembleias de Deus no Brasil.
JMC – Irmã Maria, durante esses seus 32 anos de atividades nos trabalhos do Círculo de Oração, o que o Senhor Jesus tem realizado?
MLC – O Senhor tem operado maravilhas, tem curado câncer, tuberculose, leucemia, dor de cabeça crônica, tem curado inúmeras irmãs e irmãos que haviam sido desenganados pelos médicos, tem batizado com o Espírito Santo, tem aberto portas de trabalho. Ele tem estado conosco todos os dias. Há irmãs que pedem oração num dia, e no trabalho seguinte vêm agradecer. Jesus tem feito maravilhas como resposta às nossas orações até à distância. Uma irmã, que mora em São Paulo, mandou pedir-nos que orássemos para que o Senhor fizesse seu esposo voltar para casa, pois ele a havia abandonado, e também deixara Jesus. Então nós oramos, e em seguida a irmã nos escreveu, contando que o Senhor chamara o seu esposo para os seus caminhos, e o fizera voltar para o lar. Muitos evangélicos, pertencentes a outras denominações, ao ouvirem dizer que o Senhor está operando entre nós, têm vindo para a Assembleia de Deus à procura de bênçãos, e as recebem sempre, porque o nosso Deus é um Deus maravilhoso e de poder.
JMC – E quanto à irmã, as bênçãos têm sido muitas em sua vida?
MLC – Muitas bênçãos tenho recebido do meu Senhor. Tive que trabalhar muito para criar 12 filhos, pois enviuvei logo após a minha conversão, e vi-me diante da responsabilidade de alimentá-los e educá-los. Hoje, graças a Deus, tenho advogado, médicos e professores na família. O Senhor tem estado comigo durante todos esses anos. Para criar meus filhos eu abri um fabrico de cuscuz de farinha de milho. Certa vez os apertos financeiros levaram-me a fazer um empréstimo. Porém, um parente meu necessitou urgentemente daquela importância, e eu tive que socorrê-lo, ficando assim impossibilitada de saldar minhas dívidas. E isto muito me angustiou. Fui, então, à igreja e coloquei o meu pedido de oração junto ao púlpito, mas não assinei. Disse só que estava passando por uma luta, e escrevi no final: “Uma serva do Senhor”, e depois sentei-me em um dos últimos bancos. Quando o irmão levantou-se para orar pelos pedidos de oração, leu o meu pedido, e disse: “Irmãos, este pedido de oração pode ser de uma irmã viúva, uma irmã que o marido deixou, uma irmã que está passando necessidades. Vamos fazer uma oração especial por este pedido.” Eu voltei para casa crendo que o Senhor ia abrir as janelas do céu. Um dos meus filhos deu-me 50 mil réis (moeda daquela época) para ajudar-me, mas aquela quantia ainda não era suficiente para que eu pudesse pagar a dívida. Mas eu continuei esperando no Senhor, e fazendo cuscuz, que era vendido em tabuleiros (recipiente de forma quadrada; bandeja grande, de madeira) pelos empregados. Então o Senhor fez com que minha freguesia aumentasse a ponto de eu ter que triplicar a quantidade de massa de milho no fabrico de cuscuz, assim como aconteceu com o azeite de viúva, no tempo do profeta Eliseu (2 Reis 4.1-7). E o dinheiro foi aparecendo em grande quantidade. Quando chegou o dia de efetuar o pagamento, pedi às minhas filhas que o contassem. Só sobrou os 50 mil réis que meu filho me havia dado. O Senhor nos havia providenciado a quantia exata para pagar a dívida no banco! No dia seguinte, minha freguesia voltou ao normal, como prova de que o Senhor havia aberto as janelas do Céu para me socorrer especificamente naquele aperto.
JMC – Segundo sua experiência, como se deve fazer para que os trabalhos de Círculo de Oração beneficiem a todos os que neles tomam parte?
MLC – Nos trabalhos do Círculo de Oração, devemos orar com fé diante do Senhor, devemos pedir oração com liberdade e contar as bênçãos com liberdade. Só recebe a bênção aquele que tem fé. Além do mais, a dirigente do Círculo de Oração deve ter também liberdade para beneficiar as irmãs necessitadas. Não concordo com aquelas que se esforçam para anotar sempre no talão de ofertas recebidas e que serão enviadas à igreja sede, uma quantia cada vez maior, destinada a outras finalidades, enquanto as irmãs carentes – muitas delas ficam o dia todo na igreja, orando conosco – passam fome em suas casas. Já visitei irmãs de resguardo que só tinham farinha com café para comer. Eu não posso ver isto. Eu tiro do dinheiro da oferta e socorro essas irmãs. Certa vez, mandei todo o dinheiro da oferta para um irmão que estava em casa operado, e às quatro horas da tarde ainda não havia se alimentado, nem ele nem sua família, pois não tinham dinheiro. Eu disse para as irmãs que trabalham comigo: “Vocês são minhas testemunhas de que o dinheiro da oferta está sendo mandado para este irmão”. E graças a Deus, naquele dia aquele irmão pôde comprar o necessário para se alimentar durante um mês.
JMC – Então a senhora defende que o trabalho do Círculo de Oração deve também voltar-se para a assistência social?
MLC – Sim, e eu já disse várias vezes ao meu pastor que só sei trabalhar com apoio e liberdade para ajudar os necessitados. Não foi assim que Jesus nos ensinou? Com a ajuda do Círculo de Oração, eu tenho ajudado muitas irmãs viúvas a construírem suas casas. Quando eu podia sair de casa com mais frequência (agora a idade quase só me dá condições de sair para os trabalhos da igreja), eu pedia a uma irmã, a um irmão de boa condição financeira, alguma ajuda para socorrer as viúvas e os necessitados da igreja. Consegui doações para construir casa para uma irmã cega, que morava com a nora, mas a nora dava-lhe muitos empurrões. No Natal do ano passado, senti muita tristeza porque estava doente e não podia sair nem tinha dinheiro para comprar tecido para os vestidinhos das irmãs necessitadas. Mas eu orei neste sentido, e o Senhor tocou o coração de alguns irmãos e irmãs, que vieram me trazer 37 cortes de tecido, e assim as irmãzinhas puderam vestir roupa nova no Natal. Chegamos, às vezes, até a comprar a prestação para dar um par de sapatos a um irmão necessitado.
JMC – Esta é a maneira que a irmã usa para demonstrar seu amor por Jesus Cristo?
MLC – Sim, pois o verdadeiro amor exige demonstração. Nós, que trabalhamos no Círculo de Oração e fazemos parte da comissão de visitas, fazemos o trabalho espiritual, mas e o trabalho material? Quando eu saía para visitar algum irmão ou irmã doentes, não sabia ir com as mãos vazias. Eu não teria condições de chegar na casa de uma irmã, ler a Palavra, orar, consolá-la, ir até a cozinha e ver que naquela casa não havia nada para se comer, e depois voltar sem ter deixado alguma ajuda. Não. Eu só sei trabalhar ajudando também materialmente minhas irmãs e irmãos na fé.
JMC – No seu convívio com o povo de Deus, o que mais tem lhe chamado a atenção?
MLC – A fé ilimitada que os irmãos e irmãs têm na pessoa de Jesus. Ouvi um irmão contar certa vez que resolveu esperar que o Senhor, assim como havia providenciado alimento para Elias, providenciasse o almoço para ele e sua esposa, pois não tinham dinheiro e nem tinham o que comer. O irmão disse para a esposa: “Minha velha, hoje é o dia do nosso aniversário de casamento. São 55 anos de bênçãos. Pois quem vai enviar o nosso almoço é o Senhor Jesus”. A esposa respondeu: “Ah! você está com essa fé toda? Pois eu não tenho tanta fé assim.” “Minha velha, respondeu ele, procure a toalha mais nova e estenda-a sobre a mesa; coloque os melhores talheres, porque hoje o Senhor providenciará um banquete para nós”. Ela obedeceu. O irmão foi para a sala ler a Bíblia. Algumas horas depois, quando aquela irmã já estava impaciente, passou um carro e parou à frente da casa ao lado. Em seguida a vizinha chamou a irmã para dizer que, por não se haver lembrado que seu pai estava aniversariando naquele dia, preparara o almoço, mas o carro que chegara ali há poucos instantes viera buscá-la, e por ela estar com a geladeira desligada por problemas elétricos, o almoço iria estragar-se caso a irmã não o aceitasse. E assim aquele casal foi presenteado com um verdadeiro banquete, providenciado por Deus.
JMC – Entre tantas demonstrações do zelo e do cuidado de Deus para com a irmã, a senhora poderia contar-nos alguma experiência em especial?
MLC - O nosso Deus tem um grande zelo por nós. Certa vez eu estava regressando para casa conduzindo uma bolsa, contendo documentos e o dinheiro para pagar uma dívida que não podia passar do dia seguinte, e comprar alimento para os meus filhos. Eu conduzia também uma sacola com algumas costuras. Vinha muito cansada e resolvi descansar um pouco, sentando-me em um dos bancos de uma praça. Eram 11 horas da manhã, as ruas estavam movimentadas. Após descansar o suficiente para refazer minhas forças, levantei-me, peguei a sacola com as costuras e fui para o ponto de ônibus. Quando, já no interior do ônibus, prepararei- me para pagar a passagem, percebi que a bolsa contendo o dinheiro não estava comigo. Então pedi ao motorista para descer do ônibus e voltei ao local onde estivera sentada antes. Quem me via de longe, podia até pensar que eu estava louca, porque ia andando e falando: “Jesus, guarda minha bolsa, tem misericórdia de mim. Como é que eu vou fazer dar de comer aos meus filhos, sem o dinheiro para pagar aquela dívida, e sem meus documentos, Senhor?” Quando cheguei próximo ao banco da praça, não vi nenhuma bolsa. Havia muita gente passando, e outras pessoas estavam sentadas ali. Então sentei-me no banco e comecei a orar e a chorar. Então fui abaixando a cabeça lentamente para chorar mais ainda. Foi então que vi junto ao pé do banco um papel grande, que certamente viera rolando, soprado pelo vento, e parara ali, abraçando o pé do banco. Quase sem nenhuma esperança, levantei aquele papel. Minha bolsa estava debaixo dele! O Senhor a havia guardado com tudo dentro! Fiquei tão feliz que, ao voltar para casa, peguei o ônibus errado.
JMC – Conte-nos sobre um sonho que a irmã teve, quando viu o Grande Coral que está formado no Céu.
MLC – Sonhei com um Grande Coral no Céu. A multidão de seus componentes era tão grande que não dava para ver onde terminava as laterais, e até onde as fileiras de coristas se estendiam para trás. Nesse coral vi quando a irmã Amélia Pires, esposa do Pastor Eugênio Pires (ambos já dormem no Senhor) veio ao meu encontro e disse: “Irmã Maria, sua voz está fazendo falta nesta Grande Coral. Estamos à sua espera.”
Quando o Senhor achar que já está na hora de eu partir para fazer parte desse Grande Coral composto pelos salvos e remidos pelo sangue de Jesus, partirei alegremente.
JMC– Que palavra a irmã deixa para as demais irmãs e servas de Deus?
MLC – Que todas se esforcem para continuar a servir fielmente ao Senhor. O testemunho que as mulheres evangélicas dão em casa é muito importante, pois a vizinhança está sempre a nos observar. Há casos em que o esposo chega em casa cansado, faminto, e a esposa, ao invés de recebê-lo bem, trata-o com indiferença ou com cara feia, reclamando sua demora, perguntando onde ele estava, e isto não se faz. A mulher sábia edifica a sua casa, mas a louca a destrói. Isso eu digo sempre no Círculo de Oração. É necessário muito cuidado para não ser incompreendida pelo marido, quando se tratar de nos afastarmos de tudo para nos consagramos a Deus, principalmente se o marido for descrente. Nós devemos servir ao Senhor com sabedoria, nunca esquecermos de suas promessas, e jamais cessarmos nossas súplicas. Só assim poderemos alcançar as bênçãos nesta vida, e a coroa de glória que está reservada para nós no Céu.
(Obs. Dois após esta entrevista, a irmã Maria de Lourdes Costa partiu para fazer parte do Grande Coral do Céu).
Jefferson Magno Costa
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