Jefferson Magno Costa
Há mais de mil e novecentos anos, dois homens estiveram frente a frente durante um julgamento. Um deles, cidadão romano, prepotente e conhecido por sua habitual brutalidade, tinha em suas mãos o governo da Judéia, subjugada há quase um século pelo poderio dos Césares, que de Roma dominavam quase todo o mundo conhecido.
O outro homem era um simples galileu, de semblante sereno e atitudes pacíficas, silencioso diante dos seus acusadores. E parecia não ser nada mais do que isto. Sim, parecia.
Porém, aquele homem não era outro senão o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo! Ele ali estava diante de Pilatos e dos descendentes de Abraão para dar testemunho da Verdade: “...Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, para dar testemunho da verdade...” ( João 18.37) foi o que disse ao governador da Judéia a mais alta personalidade que os homens já conseguiram levar a julgamento em toda a história do mundo: Jesus.
Aquela afirmação despertou a curiosidade de Pilatos. Há muitos anos andava ele desesperançado de encontrar a Verdade. Nem os deuses gregos nem os deuses romanos lhe ofereciam qualquer certeza.
Aliás, como mais tarde comentaria o orador francês Jaques- Benigne Bossuet, sob aqueles céus do paganismo tudo era deus, menos o próprio Deus. Um povo culto e rico como os egípcios, por exemplo, era tão cego e supersticioso em matéria de religião, que adorava até a cebola.
Em tom de zombaria, deles havia comentado o poeta romano Juvenal: “Povo feliz, cujos deuses – as cebolas – nascem em suas próprias hortas!”
Tampouco os contraditórios sistemas filosóficos tinham podido satisfazer a fome espiritual que corroia a alma do homem em cuja presença se encontrava Jesus. Já naquela época, Cícero, o maior orador romano, e um dos maiores em toda a história, após dedicar parte da sua vida ao estudo da filosofia, afirmara, com decepção e amargura: “Não há nenhum absurdo, por maior que seja, que não tenha sido justificado por algum filósofo.”
O próprio Aristóteles, o mais culto, científico e sistemático entre os filósofos gregos (só não conseguiu superar Platão em espiritualidade e poesia), confessou, no final da vida: “Vivi na dúvida, e morro na incerteza”.
Tanto Pilatos como os mais eminentes homens do seu tempo, e também todos os povos gentios daquela época, andavam às escuras, como cegos, apalpando as desgastadas muralhas erguidas de um lado e do outro do caminho que os conduzia ao abismo...
Filósofos, poetas, estadistas, oradores, militares, cidadãos comuns e escravos – todos viviam tristemente convencidos de que, após a morte tudo se acabava... ou, se havia alguma esperança, essa era muito incerta, e estava apoiada na insustentável doutrina reencarnacionista.
"QUE É A VERDADE?"
Por isso, ao ouvir a palavra “verdade” docemente pronunciada pelos lábios daquele galileu, Pilatos sentiu em sua alma o despertar das recordações do tempo em que andara à procura de um caminho seguro, verdadeiro. E dentro do seu coração corrompido e amargurado brotou novamente a esperança.
Mas isso foi só por alguns instantes, porque antes mesmo de formular a mais importante pergunta que ele fizera em toda a sua vida, e ouvir a grande resposta que Cristo lhe daria, seu coração endurecido estremeceu, ferido pela dúvida, e no mais profundo de sua alma soberba Pilatos rejeitou a verdade que inesperadamente lhe surgira na pessoa daquele homem misterioso e sublime que ali estava para ser julgado por ele.
– Que é a verdade? – perguntou distraidamente o orgulhoso governador, e em seguida, sem esperar a resposta de Jesus, dirigiu-se aos judeus para dizer-lhes que não havia achado no réu crime algum. Sim. Não encontrara Pilatos em Jesus qualquer motivo pelo qual pudesse condená-lo, e muito menos esperaria encontrar nele aquilo que tanto procurara em toda sua vida.
Não. Ele ali era juiz, aquele homem era réu. Nada mais havia a ser tratado ou esclarecido entre os dois, pensou.
E lavando as mãos, o fraco governador obedeceu covardemente aos rugidos e uivos dos judeus enfurecidos que pediam que ele soltasse Barrabás. Ele o fez, e condenou Jesus Cristo ao suplício da cruz.
Todavia, jamais o governador da Judéia poderia imaginar que um dia os papéis estarão trocados, e ele se dobrará diante daquele simples galileu, que retornará do Céu com poder e grande glória, constituído Juiz dos juízes e Senhor dos senhores sobre todos os povos pelo Deus Eterno!
Com um gesto de indiferença, Pilatos fechou para sempre a única porta por onde poderia ter sido resgatado da situação torpe e desesperançada em que se encontrava.
Porém, desde aquele dia eternamente memorável, Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, tem permanecido inabalável diante do mundo e de todos os Pilatos, repetindo sempre na voz dos seus inumeráveis seguidores: “Eu vim para dar testemunho da verdade.”
Jesus Cristo é a verdade, Sua Palavra é a Verdade, Ele veio revelar a verdadeira face do pai das luzes, “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17). E nós somos suas testemunhas:
"E sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1.8).
NECESSIDADE DE UMA DEFESA
Hoje, mais do que nunca, é necessário santificarmos a Cristo em nossos corações, e sobretudo estarmos “sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que nos pedir a razão da esperança que há em nós” (1 Pedro 3.15).
Diante dos corações sem fé e das mentes duvidosas; diante do ateísmo, do descrédito em que muitos querem lançar a Bíblia, do tempestuoso oceano de falsas doutrinas que ameaça afogar milhões de seres humanos, e da atitude de irreverência e rejeição à mensagem do nosso Salvador, faz-se necessária uma defesa do Cristianismo, uma sólida, clara e eficiente demonstração de que a nossa fé está fundamentada na verdade.
O VALOR DA PREGAÇÃO APOLOGÉTICA
Aliás, é necessário lembrarmos que em toda a pregação cristã existe um elemento de defesa. Quando Pedro ergueu sua voz diante da multidão que se havia formado atraída pelo rumor do Pentecostes (Atos 2.14-41), realizou uma das mais brilhantes defesas do Cristianismo em toda a sua história. As quase 3000 conversões resultantes mostraram o quanto as pregações apologéticas são eficientes.
Denomina-se apologética a ciência que estuda os meios de fazer uma defesa. Essa defesa é conhecida como apologia. Pregar o evangelho, ou seja, dar testemunho da verdade, não é outra coisa senão apresentar uma defesa da nossa fé. Mas essa defesa engloba ao mesmo tempo, um ataque contra o pecado e uma proposta de salvação ao pecador. E ele só poderá alcançar a salvação crendo em Jesus Cristo.
Portanto, devemos seguir o conselho do profeta Oséias: “conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” (Oséias 6.3), para que dia a dia possamos ser melhores testemunhas do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Jefferson Magno Costa
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