Jeffersons Magno Costa
Tive o privilégio de descobrir Machado de Assis na adolescência. Morei durante alguns anos em companhia de minha avó e minha tia, Maria da Glória Costa, que era professora de português e literatura na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. E olha só a felicíssima coincidência: a casa de minha avó ficava na rua Machado de Assis, no bairro do Alecrim, em Natal.
Minha tia era dona de uma grande biblioteca, e eu, com os meus 14 anos de idade, apropriei-me de todos aqueles livros, a ponto de ela vir muitas vezes perguntar a mim se nas estantes havia ou não determinado livro, determinado autor. Tornei-me um leitor assíduo, voraz, ininterrupto, lendo todos os dias livros e livros dos melhores autores nacionais e estrangeiros.
Aos 15 anos de idade li todo o Machado de Assis, cuja obra completa havia sido publicada pela Clássicos de Jackson, em capa dura verde, em 31 volumes. Embarquei também no universo de José de Alencar, de Monteiro Lobato, de Graciliano Ramos, de Eça de queiroz, de muitos e muitos poetas, de muitos grandes autores teológicos. Lia comentários, estudos bíblicos, tudo o que eu encontrasse nas estantes da biblioteca de minha tia.
Eu lia tanto que certa vez foi preciso minha avó chamar o meu pai, que morava em outro endereço, para vir me obrigar a sair de casa, pois eu estava no período de férias escolares, e há 10 dias que não via o "olho da rua", só lendo, lendo, lendo. Nem à igreja eu estava indo mais. Um sacrilégio. Meu pai deu-me dinheiro e obrigou-me a sair, a respirar outros ares, a assistir um filme, a procurar uma namorada. Saí, mas levei comigo um livro escondido dentro da camisa.
A casa de minha avó ficava em uma esquina, e era cercada por um grande jardim. Tinha muros altos. Na rua havia um poste encostado no muro pelo lado de fora, cuja luz iluminava generosamente o jardim à noite. Pois eu esperava que todos na casa adormecessem, abria silenciosamente a porta da cozinha, e ia sentar-me com um livro em um banco que eu improvisara encostado ao muro, muito bem iluminado pela luz do poste da rua, mas protegido e oculto no canto do jardim, e lia, lia, lia mudrugada a dentro.
Quando entrei no corpo de Fuzileiros Navais, chamei a atenção e fui alvo das brincadeiras dos colegas devido à quantidade de livros que eu guardava dentro do armário. Quando fiz, em 1981, uma viagem internacional de seis meses no navio Escola Custódio de Melo, fui chamado por um capitão-de-corveta, chefe do convés do navio, para explicar porque eu estava comprando tantos livros em cada país que chegávamos. "Vai pedir baixa da Marinha e abrir uma livraria?" perguntou o oficial. Encabulado, expliquei ao oficial que era só para me distrair na longa viagem com umas leiturazinhas.
Alguém podia pensar que o meu caso era psiquiátrico, digno de chamarem a carrocinha, de me amarrarem e me recolherem a um asilo de loucos. Mas não era loucura. Era paixão extrema, fascínio pelos livros, felicidade de poder entrar naquele universo infinito de outros países, outras culturas, outras épocas; de sonhos, romantismo e heroísmo que os livros me abriam. Uma doença incurável, que tem se agravado ao longo dos anos.
Já escrevi tudo isso? Perdão. Chega. Ainda bem que inventaram o ponto final.
Jefferson Magno Costa
Tive o privilégio de descobrir Machado de Assis na adolescência. Morei durante alguns anos em companhia de minha avó e minha tia, Maria da Glória Costa, que era professora de português e literatura na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. E olha só a felicíssima coincidência: a casa de minha avó ficava na rua Machado de Assis, no bairro do Alecrim, em Natal.
Minha tia era dona de uma grande biblioteca, e eu, com os meus 14 anos de idade, apropriei-me de todos aqueles livros, a ponto de ela vir muitas vezes perguntar a mim se nas estantes havia ou não determinado livro, determinado autor. Tornei-me um leitor assíduo, voraz, ininterrupto, lendo todos os dias livros e livros dos melhores autores nacionais e estrangeiros.
Aos 15 anos de idade li todo o Machado de Assis, cuja obra completa havia sido publicada pela Clássicos de Jackson, em capa dura verde, em 31 volumes. Embarquei também no universo de José de Alencar, de Monteiro Lobato, de Graciliano Ramos, de Eça de queiroz, de muitos e muitos poetas, de muitos grandes autores teológicos. Lia comentários, estudos bíblicos, tudo o que eu encontrasse nas estantes da biblioteca de minha tia.
Eu lia tanto que certa vez foi preciso minha avó chamar o meu pai, que morava em outro endereço, para vir me obrigar a sair de casa, pois eu estava no período de férias escolares, e há 10 dias que não via o "olho da rua", só lendo, lendo, lendo. Nem à igreja eu estava indo mais. Um sacrilégio. Meu pai deu-me dinheiro e obrigou-me a sair, a respirar outros ares, a assistir um filme, a procurar uma namorada. Saí, mas levei comigo um livro escondido dentro da camisa.
A casa de minha avó ficava em uma esquina, e era cercada por um grande jardim. Tinha muros altos. Na rua havia um poste encostado no muro pelo lado de fora, cuja luz iluminava generosamente o jardim à noite. Pois eu esperava que todos na casa adormecessem, abria silenciosamente a porta da cozinha, e ia sentar-me com um livro em um banco que eu improvisara encostado ao muro, muito bem iluminado pela luz do poste da rua, mas protegido e oculto no canto do jardim, e lia, lia, lia mudrugada a dentro.
Quando entrei no corpo de Fuzileiros Navais, chamei a atenção e fui alvo das brincadeiras dos colegas devido à quantidade de livros que eu guardava dentro do armário. Quando fiz, em 1981, uma viagem internacional de seis meses no navio Escola Custódio de Melo, fui chamado por um capitão-de-corveta, chefe do convés do navio, para explicar porque eu estava comprando tantos livros em cada país que chegávamos. "Vai pedir baixa da Marinha e abrir uma livraria?" perguntou o oficial. Encabulado, expliquei ao oficial que era só para me distrair na longa viagem com umas leiturazinhas.
Alguém podia pensar que o meu caso era psiquiátrico, digno de chamarem a carrocinha, de me amarrarem e me recolherem a um asilo de loucos. Mas não era loucura. Era paixão extrema, fascínio pelos livros, felicidade de poder entrar naquele universo infinito de outros países, outras culturas, outras épocas; de sonhos, romantismo e heroísmo que os livros me abriam. Uma doença incurável, que tem se agravado ao longo dos anos.
Já escrevi tudo isso? Perdão. Chega. Ainda bem que inventaram o ponto final.
Jefferson Magno Costa
Opto por reticência.
ResponderExcluirEstar doente, como você (nem tanto!) é a minha cura.
Abraços
Pois é, prezada Débora, se estar curado dessa doença significar substituir DEFINITIVAMENTE o convívio com os livros por quaisquer outras atividades, prefiro ser um paciente terminal... sem término.
ResponderExcluirPastor Jefferson este seu escrito é por demais inspirador, e o senhor é um exemplo no tocante ao hábito da leitura. Na verdade "QUEM LER SABE MAIS!". George Washington disse: “Uma nação é feita por homens e por livros". Quando na minha adolescência eu comecei a desenvolver o hábito da leitura e lia bastante. Certo familiar meu disse-me que eu ficaria louco de tanto ler (rsrsrs). Eu costumava dizer que gostaria de ter a oportunidade e condições para ficar em um quarto cercado por bons livros sem preocupação com o tempo, tal era o meu prazer na leitura. Mas na medida do possível fui adquirindo bons exemplares de bons escritores. Hoje tenho o que poderá ser o começo da realização do meu sonho quando adolescente. Desculpe o extenso comentário, acho que me empolguei (rsrsrs). Ler é crescer, mas, “quem pára de crescer hoje, pára de ensinar amanhã”, (Howard Hendricks).
ResponderExcluirPrezado pastor e amigo Levi Costa, o gigantesco escritor argentino e voraz leitor Jorge Luis Borges disse certa vez: "Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca"; e disse também em outra ocasião: "De todos os instrumentos do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida nenhuma, o livro". Precisamos estartar urgentemente entre os nossos amigos líderes evangélicos uma campanha nacional em prol da formação do hábito de leitura entre os membros de todas as igrejas evangélicas de nosso país. Poderíamos fazer uma parceria na deflagração dessa campanha. O irmão aceita? Caso aceite, tente esboçar algumas ideias de diretrizes para essa campanha, que eu juntarei com as minhas e procurarei o apoio de gente grande aqui pelo Rio de Janeiro e em São Paulo. Vamos mudar os níveis de leitura da nossa geração. Não me conformo em sair desse mundo vendo nossos irmãos em Cristo trocarem cada vez mais a leitura da Palavra de Deus e de bons livros por novelas, filmes, internet e outras ocupações frívolas, e não darem a mínima importância à leitura de bons livros. Caso o irmão conheça outras pessoas que possam somar forças conosco, convoque-as. Um abraço do amigo. Pr Jefferson
ResponderExcluirEis me aqui! desde já sinto-me convocado !
ResponderExcluirQual o maior legado de Deus aos homens?, Amamos o Livro. Não é novidade gostarmos, pois o servo Jó lá naquela época disse:"Quem me dera fossem minhas palavras escritas, que fossem gravadas num LIVRO, com pena de ferro e chumbo, para sempre fossem esculpidas na Rocha!, já imaginou seu amor pelas "LETRAS?". Como dito acima: E as Bibliotecas nas Igrejas ?, continuarão timidas ?
Belo texto, e exemplo de amor as letras, não tem outro caminho !!
Abração a todos !!!
Maravilha, Élvio! Bem-vindo ao nosso grupo de Incentivadores Nacionais Evangélicos da Leitura (INEL). Que tal a sigla, legal, não? Acabei de criá-la neste momento. Vamos reunir mais pessoas, vamos convocar um bom número de profissionais que trabalhem com o ensino, vamos envolver gente talentosa que serve a Cristo e trabalha com a cultura em geral. Vamos acreditar e fazer a diferença agora, hoje! O amanhã não nos pertence. Vamos conquistá-lo, caso Deus nos permita.
ResponderExcluirCaro pastor Jefferson
ResponderExcluirClaro que não me comparando ao irmão, mas meu gosto pela leitura deve-se a tenra idade também. Nascida numa família de leitores, livros os tinha muitos em nossa biblioteca. Tornei-me bibliotecária e pude participar de projetos ousados como o fora o da prefeitura municipal de Ribeirão Preto /SP, onde se criou 80 bibliotecas num período de 4 anos. Infelizmente, a vontade política não é constante e hoje esse número se faz reduzidíssimo, infelizmente. Entretanto, não desanimo e estou tentando formar uma biblioteca dentro de nossa igreja, mas também está difícil; o mesmo ocorre com a formação de grupos para leituras e leitores. Interessante é que se for para formar um coral, arregimentar cantores, tocadores e mais, muitos se apresentam, mas para ler e interpretar boas leituras, o tempo é escasso. Agora quero sim fazer parte do seu exército. Meu marido Elvio já se colocou como um dos tais. Aliás, somos leitores assíduos, tanto da Palavra, quanto de boas leituras, o que nos tem feito crescer em nosso convívio diário, com a graça de Deus, porque percebemos que a leitura passa a exercer papel preponderante na formação do cidadão, quando este se conscientiza, aprende a gostar e entender a extensão que a mesma influencia sua vida, a partir do que passa vislumbrar a possibilidade de criar, inventar, contar uma história, ser a própria história.
Eis-nos aqui.
A sigla criada é muito boa, muito legal (INEL)!, não sei como iniciar, mas como vc está envolvido diretamente na Editoração, sei que pode tomar frente!!!, divulgaremos e participaremos com muito empenho !
ResponderExcluirExcelente, prezada Inajá. Sua formação em biblioteconomia e sua experiência em projetos voltados ao estímulo da leitura, além do seu constante trabalho pessoal publicando artigos e dando dicas de bons livros, são muito preciosos para nós. Sugiro que você estenda o convite a outras pessoas, suas amigas, para se unirem ao nosso grupo, trazendo suas ideias, sua experiência, enfim, agregando valores ao nosso projeto. Cada um na sua cidade, podemos tocar fogo nessa seara da mediocridade e do desinteresse pelo livro, físico ou virtual. Podemos aumentar nacionalmente o nível de interesse pela leitura de excelentes livros. Podemos criar um blog ou um site só para publicarmos artigos de incentivo à leitura. Podemos publicar nossas fichas e anotações de leitura, podemos falar sobre as nossas descobertas de livros maravilhosos, podemos dar dicas sobre obras fantásticas que a maioria ainda não leu. Podemos realizar concursos literários, de prosa ou de poesia, podemos ajudar nossos amigos a escreverem seus próprios livros, podemos eleger livros para a leitura coletiva, cada um na sua cidade, e depois debatermos amplamente, por todos os ângulos possíveis, a leitura desses livros excepcionais. Podemos dar dicas de sebos, físicos ou virtuais, de grandes bibliotecas no Brasil e no Exterior, de sites ou links de grandes acervos bibliográficos eletrônicos. Vamos nos organizar, criar um pequeno estatuto com algumas normas, estabelecer um banco de ideias. Só não podemos é ficar como estamos, assistindo esse tsunami gigantesco arrastar para dentro dos lares, para o dia a dia das pessoas, todo esse lixo disfarçado de entretenimento, que tem afastado mais e mais as pessoas do livro, afogando-as na futilidade, na imoralidade e no mau gosto. Abaixo a inércia cultural e a mediocridade!
ResponderExcluirÓtimo, amigo Élvio! Vamos refletir um pouco mais, para nos organizarmos com solidez. Sigamos em frente.
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