terça-feira, 15 de março de 2011

DISCURSO NA ACADEMIA EVANGÉLICA DE LETRAS DO BRASIL, PROFERIDO POR JEFFERSON MAGNO COSTA, NA OCASIÃO EM QUE FOI RECEBIDO COMO MEMBRO DESSA INSTITUIÇÃO

Jefferson Magno Costa
     (Cerimônia realizada em 8 de abril de 1997, no templo da Assembleia de Deus em São Cristóvão, Rio de Janeiro, ocasião em que o então líder dessa igreja, pastor Túlio Barros Ferreira, também foi recebido como novo membro da AELB).

     Excelentíssimo senhor Presidente da Academia Evangélica de Letras do Brasil, pastor Amaury de Souza Jardim; digníssimo senhor Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Dr. Paulo Conde; ilustríssimos acadêmicos, honradíssimos convidados:
     Bom seria que o salmista Davi estivesse agora neste púlpito. Eu mui gentilmente pediria a ele que agradecesse em meu nome a honrosa decisão tomada pelos excelentíssimos acadêmicos aqui presentes. Decisão que abriu para mim as portas desta insigne assembleia de intelectuais evangélicos e servos de Deus.
     Bom seria que o salmista Davi estivesse no meu lugar, repito, pois dos seus lábios e não dos meus iríamos ouvir, com doçura, propriedade e insuperável eloquência, o elogio do poeta Mário Barreto França, fundador e patronímico da cadeira número 12, cadeira que hoje passo a ocupar nesta egrégia academia.
     Pois nesta noite em que poetas de Deus estão sendo relembrados, creio que não haveria ninguém mais sábio e mais vestido de autoridade que o salmista Davi para nos falar sobre poetas e poesia. Não me refiro ao Davi na sua condição de rei, já amadurecido pelas tribulações e muitas batalhas, mas àquele ágil, paciente e corajoso pastorzinho, que junto ao rebanho e na solidão do campo compunha poemas de louvor a Deus.
     Àquele sublime adolescente, de belo semblante e prudentes palavras, que tangendo sua harpa aliviava as perturbações de espírito de um rei. Àquele iluminado das alturas, que tocado pelo próprio sopro de Deus, compôs os mais belos poemas religiosos conhecidos, os Salmos.
     Mas o salmista e sua harpa há muito foram convocados para as regiões biblicamente ocupadas pela majestade de Cristo. Contentemo-nos, portanto, com as limitações, a brevidade do discurso e o tanger da harpa terrestre deste que vos fala.
     O domínio de qualquer arte é trabalho para uma vida inteira. A poesia é uma arte, arte que Mário Barreto França, que já foi o mais declamado poeta evangélico brasileiro, levou quase 60 anos para dominar. E ninguém poderá dizer que essa sua luta foi vã, conforme modestamente lamentou certa vez, sobre o seu próprio esforço poético, o maior poeta brasileiro de todos os tempos, Carlos Drummond de Andrade:

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.

     Graças a uma inspirada, constante e estudiosa dedicação à poesia, Mario Barreto França produziu poemas que enriqueceram o patrimônio cultural do povo evangélico do nosso país. Seus poemas edificaram milhares de pessoas, e levaram centenas de almas a um encontro que lhes definiu a vida eterna com Jesus.
     “A poesia é a música da alma”, disse outro poeta certa vez. E a poesia de Mário Barreto França, por brotar da fonte de inspiração que desce do trono de Deus, é poesia profundamente comprometida com a Verdade Evangélica e com a sinceridade do seu coração. E nada será verdadeiramente belo se não tiver esse compromisso com a Verdade.
     O escritor francês André Cheniér observou que “a arte cerebral faz apenas versos; só o coração sincero faz a verdadeira poesia.” Essa sinceridade sempre existiu no coração de Mário Barreto França. Ele não foi desses poetas que escrevem poemas herméticos, ininteligíveis para se fingirem de profundos.
     Mário Barreto França produziu uma poesia cheia de significados, mas que em momento algum deixou de ser clara. Creio que um dos segredos do grande sucesso desse poeta entre os leitores evangélicos foi jamais ter colocado em um poema mais do que aquilo que o leitor comum seria capaz de entender.
     Lendo a obra de poetas como Mário Barreto França, temos a grata surpresa de encontrar expressões que dormiam dentro de nós, mas que não tínhamos tido a capacidade de exprimi-las, até que poetas como ele as exprimisse. Mário Barreto França foi um homem que envelheceu escrevendo poesias, mas que devido ao especial privilégio de ser poeta, manteve ao mesmo tempo a espontaneidade da infância e a sabedoria da idade madura.
     Querem um exemplo? Vejam essa pequenina jóia lírica que Mário Barreto França intitulou de As Mais Belas:


Qual a mulher mais bonita

Que há no mundo, meus senhores?

Será uma senhorita

Cheia de prendas e primores?



Será a loira ou a morena?

A de olhos azuis ou pretos?

Será a grande ou a pequena?

Ou a de modos discretos?



Das distintas e elegantes,

Das de faces cor de rosa,

Das de sorrisos brilhantes,

Qual será a mais formosa?



Sem medo de errar eu digo:

Cheias de amor mais profundo,

As mais belas, meu amigo,

São as mães de todo mundo!

     Querem ouvir outro exemplo poético, colhido entre as centenas de poemas que ele nos deixou, exemplo de profundidade, de beleza e de comprometimento com as lições eternas do Evangelho? Leiamos o soneto Sobre as Ondas:

Era noite. O alto mar se enfurecia.

Para o barco veloz que à morte avança,

Não restava uma simples esperança

De incólume rever a luz do dia...



Entre as brumas, porém, da noite fria

Aparece uma sombra, calma e mansa...

Era um fantasma? – Não! – era a bonança

Que em Jesus, como bênção, se anuncia.



Inda hoje o mar do mundo se encapela:

E, no barco da vida, já sem vela,

Não nos resta sequer uma ilusão...



Mas – Senhor! – sobre as ondas revoltas,

Volta a trazer às almas torturadas

O consolo da tua salvação!



     Se algum poeta ou poetisa presente nesta solenidade e em início de carreira nos perguntasse onde será que Mário Barreto França bebia sua poesia tão inspirada, batizada no Jordão, exaltada no monte Tabor, e triunfante no Calvário, o que responderíamos? Em um livro. Mário Barreto França se inspirava dia após dia em um livro que era visto constantemente em suas mãos.
     E que livro era esse? Seria um dos poemas do poeta grego Homero, a Ilíada ou a Odisseia? Seria o maior poema épico da literatura latina, a Eneida de Virgílio? Ou seria um dos três maiores poemas da literatura italiana, A Divina Comédia, de Dante Alighiere, o Orlando Furioso, de Ariosto, ou a Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso? Ou, quem sabe, seria o Fausto, do poeta alemão Goethe? Mas é bem provável que fosse o maior poema épico da literatura portuguesa, Os Lusíadas, de Luis de Camões.
     Afinal, que livro seria esse? O livro que estava sempre aberto nas mãos de Mário Barreto França é o livro de autoria do maior Poeta de todos os tempos.
     É o livro que descreve o início do Universo, quando ele estava sendo criado pelo poder e a autoridade do Verbo de Deus. É o livro que registra o nascimento do Sol, e fala da primeira noite em que a Lua banhou a Terra com sua luz prateada. É um livro que descreve o momento em que Deus semeou o céu de estrelas, e encheu os mares de peixes, e inundou o ar de pássaros, e povoou a terra de animais.
     Um livro que registra o dia em que o primeiro coração humano pulsou sobre este vasto planeta, e guarda em suas páginas o momento sublime em que o primeiro homem contemplou a primeira mulher, e não mais se sentiu só. Um livro que registra a desobediência e a queda dos nossos primeiros pais, e a promessa do nascimento d'Aquele que esmagaria a cabeça da Serpente.
     Um livro que acompanha os passos errantes do primeiro homem e da primeira mulher para fora do jardim do Éden, quando eles, deixando para trás árvores frutíferas, animais dóceis, fontes aprazíveis e campos e vales revestidos da glória e presença do Senhor, desceram rio-abaixo, pobres e seminus, para construir, de barro,de pedra, de solidão, de madeira, de desespero, de ferro e de granito, as suas cidades.
     Esse livro tem como centro a história do resgate desse homem decaído, resgate realizado por Aquele que detém as chaves da morte e do inferno, e é o Senhor da vida e o único que pode promover o encontro da criatura com o Criador: Jesus Cristo.
     Esse livro é a Bíblia. Seu autor é o Deus a quem servimos. Ele é o maior livro da história da humanidade, um livro inigualável. Leiamo-lo diariamente. Bebamos nele as águas suaves, puras e cristalinas da inspiração que desceu do céu e se encontra em suas páginas, e se tivermos sido divinamente agraciados com o dom da poesia, poderemos nos tornar grandes poetas de Deus, como foram Mário Barreto França e muitos outros. 
     Mas se não possuirmos esse dom, resta-nos o consolo de saber que um dia iremos ao encontro do Autor desse Livro dos livros, e ao encontro de todos os poetas que, como Mário Barreto França e o salmista Davi, aguardam nas regiões celestiais o grande dia da Ressurreição final. 
     Tenho dito.
     Rio de Janeiro, 8 de abril de 1997.
     Jefferson Magno Costa    

7 comentários:

  1. Shalom!

    Amado Pr Jefferson, ontem estive na AELB. Senti sua falta. Rev. Hernandes tomou posse e foi o orador oficial.

    Rendo-me ao seu lindo texto. A concatenação das idéias está perfeita. O amigo combinou poesia e sincronia. As palavras fluem com leveza. O texto é de um hábil escritor. Posto isso, sinto-me como um "leãozinho" no meio de uma cova cheia de "Daniéis".

    Um abraço do amigo, que acima de tudo lhe respeita, e lhe admira. Pois eu posso lhe admirar, sem lhe respeitar.

    Nele, que inspira os mais lindos textos e poesias,

    Seu conservo, Pr Marcello Oliveira

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  2. Pastor
    Tenho convicção de que a cadeira 12 está muito bem representada. Muito bom avivar memórias. Belíssimo discurso. Parabéns

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  3. Irmã Inajá, a AELB não está completa. Nunca estará. Está sempre aberta a novos e talentosos acadêmicos. Nunca se esqueça disto.

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  4. Prezado acadêmico Marcelo, obrigado pelas palavras de reconhecimento. Daniel só houve um, e você está mais pra ele do que pra leão. E por falar em leão adormecido, existem muitas instituições por aí cheias deles... Adormecidos, alguns até desdentados, e quase todos com seus antigos e retumbantes rugidos transformados em finos miados de gatinhos.

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  5. Graça e Paz;
    Prendado pastor Jefferson, parabéns!
    Blogs do nível do senhor,do Pr Esdras,Dr hermenêutica...São uma riqueza tanto para a alma como para o VOCABULÁRIO!!!

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  6. Amado irmão Marcelo Pires, senti muito a falta de seus relevantes comentários ao material postado neste blog. Muito obrigado pelo reconhecimento de algum mérito que o irmão identificou no nosso discurso, QUE FOI ESCRITO TÃO-SOMENTE PARA A GLÓRIA DE DEUS, e muito mais obrigado ainda pelo fato de o irmão nos ter colocado ao lado de dois dos maiores eruditos da blogosfera evangélica brasileira da atualidade. Um abraço, e até o próximo contato, neste blog ou em alguma igreja onde nos encontrarmos para ministrar a Palavra de Deus.

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  7. Pastor jefferson Magno Costa,parabéns! Aqui quem comenta este lindo Escrito é somente mais de seus admiradores,é como a "gangorra" quando você sobe, eu continuo descendo; a sua capacidade também é de um destro escritor, um homem que pensa, um homem que existe, sabedoria vinda do próprio autor, Deus. Rendendo sempre à esta sabedoria, você é como a "gangorra" Quando a sabedoria sobe, você continua descendo. Parabéns! seu cunhado, Santos

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