terça-feira, 8 de junho de 2010

A IMPORTÂNCIA DOS DIÁRIOS, DAS AUTOBIOGRAFIAS E DAS MEMÓRIAS NA CONSTRUÇÃO DA NOSSA HISTÓRIA PESSOAL E COLETIVA

Jefferson Magno Costa

    Nossa vida é transitória, fugaz. Sensível a essa velocidade na qual os dias se esvaem, Pedro escreveu em sua 1ª. Carta: “Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor” (1Pe 1.24).
     A curta duração dos nossos dias levou também o salmista Davi a escrever: “Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de ti...” (Sl 39.5). Daí a importância de relatarmos em um diário o que nos acontece no nosso dia a dia.
     Escrever em um diário nossos pensamentos, nossos sentimentos e o que nos acontece dia após dia “é como se você estivesse escrevendo o livro da sua vida, sua autobiografia. Dentro de alguns anos, você verá o quanto será precioso poder rever-se nessas páginas, avaliar como pensava há dez ou vinte anos, reencontrar sentimentos, reflexões, o registro dos sentimentos que marcaram sua vida e a maneira como Deus agiu para ajudá-la a vencer os desafios”, comentou Elizete Malafaia na apresentação do Diário da Mulher Vitoriosa, lançado pela Editora Central Gospel.
     Alguns diários, mesmo tendo sido escritos por pessoas que não tinham a intenção de tornar suas páginas conhecidas por todos, ao serem encontrados após o falecimento de seus autores, foram publicados e tornaram-se famosos.


     O de conteúdo psicológico mais profundo é o Diário Íntimo, do escritor suíço Henri-Frédéric Amiel. É leitura das mais enriquecedoras no gênero. Livro esgotado. Só é possível encontrá-lo nas grandes bibliotecas ou nos sebos. Nele, entre milhares de reflexões e expressões de sentimentos, Amiel pergunta: “Será que o meu nome durará um dia a mais após minha morte, e significará algo para alguém?”
     O Diário de Dany , que registra ficticiamente a vida de um adolescente, foi escrito pelo educador e teólogo católico francês Michel Quoist, e tem feito sucesso no Brasil desde que foi publicado em 1960.

     Porém, o mais famoso de todos eles é o Diário de Anny Frank, uma adolescente judia que de junho de 1942 a agosto de 1944 viveu escondida com sua família (pai, mãe e irmã) e mais quatro amigos no Anexo Secreto, um compartimento oculto no último andar de um prédio de três andares, em Amsterdam, capital da Holanda, até serem descobertos pela polícia alemã e enviados para o campo de concentração de Auschwitz.
     Alguns dias depois um limpador encontrou, entre livros rasgados, revistas e jornais velhos espalhados pelo chão do anexo, o Diário de Anne Frank. Anne morreu de tifo em março de 1945, poucos meses antes de os soldados aliados chegarem ao campo de concentração para libertarem os prisioneiros.
     O Diário de Anne Frank foi publicado e traduzido para mais de 70 idiomas. Em suas páginas estão registradas as impressões de uma adolescente muito sensível e inteligentíssima, que mesmo diante das atrocidades praticadas pelos nazistas contra os judeus na Segunda Guerra Mundial, manteve firmes a esperança e o otimismo.
     Nós visitamos o Anexo Secreto em 1986, quando estivemos em Amsterdam como repórter enviado pela CPAD para fazer a cobertura jornalística da 2a. Conferência Internacional que Billy Graham realizou para evangelistas itinerantes. O prédio foi transformado no Museu Anne Frank.
     Enquanto a humanidade existir, todos poderão conhecer a beleza e a profundidade do coração daquela menina, graças ao diário que ela escreveu.
     É no exercício cotidiano da mão deslizando sobre o papel (entre ela e ele estará a caneta, escrevendo as palavras que brotarão do interior da nossa mente e do nosso coração) que acumularemos tesouros que enriquecerão nossos dias de maturidade e velhice.
     É cultivando o hábito de registrar, nas páginas do nosso diário, os fatos que observamos ou que nos ocorrem todos os dias, que iremos pouco a pouco dominando a nobre e utilíssima arte de guardar tudo o que for digno de ser guardado sobre a nossa vida.
     Além dos diários, há dois outros recursos que podem ser usados por aqueles que já viveram o suficiente para ter uma história a contar, e ainda não cultivam o hábito de registrar os acontecimentos de sua vida em diários: são as autobiografias e memórias. Ambas consistem em se fazer uma recapitulação geral de tudo o que ocorreu em nossos anos de vida.

     Para avaliarmos o quanto é importante recorrer aos diários e memórias como meio de documentar a nossa história, basta considerar que, se o missionário Gunnar Vingren não tivesse o hábito de registrar, nas páginas do seu diário, tudo o que de importante ocorria em sua vida aqui no Brasil (vide Ivar Vingren, O Diário do Pioneiro Gunnar Vingren – 2ª. edição CPAD, Rio de Janeiro 1982); e se Daniel Berg não tivesse recorrido à segunda melhor forma de reconstituição histórica, que são as autobiografias e memórias (vide Daniel Berg. Enviado por Deus: Memórias. 5ª. edição CPAD, Rio de Janeiro, 1982), nós hoje ignoraríamos os fatos mais importantes ocorridos no início da Assembleia de Deus no Brasil.
     Outro livro surgido na década de 80 no panorama cultural evangélico brasileiro foi escrito a partir de dados colhidos junto aos familiares e amigos de outro pioneiro da Assembleia de Deus no Brasil, o pastor J.P. Kolenda (vide Albert Brenda. Ouvi um Recado do Céu: Biografia de J.P. Kolenda. CPAD, Rio de Janeiro, 1984). Escrito em estilo narrativo leve e envolvente, o livro é um modelo de reconstituição de fatos históricos “arquivados” na memória daqueles que os viveram, a partir do relacionamento que tiveram com o pastor J.P. Kolenda.
     Uma das autobiografias mais conhecidas em todo o mundo foi escrita por Benjamin Franklin, “o primeiro norte-americano civilizado”, segundo definição do grande historiador Will Durant.

     Franklin fez parte, com Thomas Jefferson e Samuel Adams, do comitê encarregado de elaborar a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Utilizando-se de uma linguagem simples (Autobiografia de Benjamim Franklin. Edições de Ouro, Rio de Janeiro, 1967), Franklin começa o seu livro dirigindo-se ao filho:
     “Querido filho, sempre senti prazer em tomar conhecimento dos fatos relacionados com a vida dos meus antepassados”. Em seguida, ele descreve como conseguiu se projetar no cenário político e intelectual do seu país, apesar de ter nascido em um lar humilde, e de ter estudado por conta própria (nunca frequentou colégio ou faculdade).
     Um dos aspectos mais interessantes desse livro diz respeito à vida religiosa da família de Benjamim Franklin. Eles pertenciam à igreja protestante inglesa (Igreja Anglicana), que na época estava sendo perseguida em todo o país.
     Franklin conta que seus familiares “conseguiram adquirir uma Bíblia inglesa, e no intuito de ocultá-la e resguardá-la, conservam-na aberta e segura com fitas, por sob a tampa de um banco, com dobradiças. Quando o meu tataravô a lia aos demais membros da família, abria o assento do banco que apoiava sobre os joelhos, virando então as folhas por debaixo das fitas. Um de seus filhos permanecia à porta, para avisar se visse aproximar-se algum meirinho, oficial do Tribunal Espiritual. Caso fosse dado o alarme, o assento era colocado novamente no seu lugar, dobrado sobre os pés, e a Bíblia ficava oculta por baixo, como anteriormente.” (Op. Cit., pp 27-28).
     Não deixe de escrever o seu diário, a sua autobiografia ou as suas memórias. Não permita que seus sentimentos e suas experiências caiam no abismo do esquecimento. Comece hoje mesmo a escrevê-los.
     Atente para o aviso que os antigos oradores romanos faziam repetidamente: Verba volant, escripta manent, que em uma tradução livre significa: As palavras faladas voam e caem no esquecimento, mas as palavras escritas permanecem.


Jefferson Magno Costa
    

3 comentários:

  1. Caro Pastor Jefferson
    Sou Bibliotecária e, como tal, bastavam-me os livros tecnicamente tratados, processados, organizados em estantes, disponibilizados ao público leitor.
    Jamais pensei compactuar a co-autoria de seus autores, entretanto, caiu-me às mãos um texto que me levaria a rever meus conceitos. Era então a introdução de "Os Contos" de Giuseppe Tomasi de Lampedusa que mudaria completamente meu sentir bibliotecária, agora a pensar nos alinhavos dos primeiros textos, quando o autor grafava:
    "Ao encontrarmo-nos no declínio da vida , é preciso procurar reunir a maior parte das sensações que perpassaram esse nosso organismo. Poucos conseguirão construir assim uma obra prima (Rousseau, Stendhall, Proust), mas todos deveriam poder preservar, desse modo, algo que sem esse pequeno esforço perderia-se para sempre. Manter um diário ou escrever, em certa idade, as próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem valores sociais e pitorescos de primeira ordem”. (Tomasi di Lampedusa - Os Contos).
    A partir daquele momento nascia uma nova Inajá. Diários são de extrema importância sim e eu não me dava conta. Julgava que de tantos livros estava farto o mercado, quando a Palavra me diz que "não há limites para se escrever livros". Percebi, então, que também almejava minhas palavras "escritas e gravadas num livro, com pena de ferro e com chumbo, para sempre esculpidas na rocha!" tal qual Jó e que o "rolo da vida" registrasse meu nome.
    Assim, cá estou a dar meu comentário a este texto que me foi tão profícuo.
    Obrigada Senhor por este encontro. Obrigada pelo seu autor e que seus dias sejam coroados de glórias e bênçãos para Sua Obra.

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  2. Irmã Inajá, fico imensamente feliz em saber que meu texto reverberou tão proficuamente em um cérebro e um coração privilegiadamente enriquecidos por tantas e tão seletas leituras. Desejo à bibliotecária muitas e muitas outras leituras, e à escritora uma fértil e cada vez mais proveitosa atividade. E que a autora não fique no ineditismo. Publique seus livros e nos enriqueça

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  3. Visitei seu blog e gostei desse artigo. Foi útil ao meu trabalho da minha pós aqui na UFMT em Rondonópolis.Paz do Senhor. Abraços Pr. Raimundo Soares de Andrade ( prrsoares)

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