Jefferson Magno Costa
É impossível avaliarmos hoje até onde as roupas têm influenciado o comportamento do ser humano. Basta saber que nossas virtudes, defeitos, emoções e convicções, assim como nossa profissão, posição social, nacionalidade ou religião podem ser facilmente identificados pela maneira como nos vestimos.
Se as vestimentas têm tanta influência na vida do ser humano, será de extrema importância sabermos quais são os motivos que têm levado homens e mulheres a andarem vestidos, pois sabemos que, antes de desobedecerem a Deus, e comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o primeiro homem e a primeira mulher andavam no jardim do Éden completamente despidos, e não tinham vergonha dessa nudez (Gn 2.25).
Será que o sentimento de vergonha que se apossou de Adão e Eva logo após eles se conscientizarem de que estavam nus, é o único fator que tem determinado a necessidade de o ser humano usar roupas? Ou nos vestimos também por outros motivos? Sim. Outras razões têm levado a humanidade a cobrir sua nudez. Todos os antropólogos e sociólogos que já escreveram sobre esse assunto afirmam que as roupas servem a três finalidades principais: pudor (vergonha), proteção e ornamentação.
“ENTÃO FORAM ABERTOS OS OLHOS DE AMBOS”
Nenhum ser civilizado sentir-se-á à vontade estando despido diante de outros seres humanos. Este sentimento de desconforto moral causado pela nudez só não existe nas crianças de pouquíssima idade, nos selvagens, em alguns grupos que se habituaram à prática do nudismo, e na experiente intimidade dos casais. Porém, em geral essa vergonha sempre existiu desde o Éden (Gn 3.7), e tem-se manifestado tanto nas pequenas como nas grandes civilizações.
Entre todos os povos da antiguidade, nenhum outro contribuiu tanto para a formação da consciência moral da humanidade como o judeu. No colapso da civilização greco-romana, os judeus mantiveram-se fiéis aos preceitos morais da lei.
Quando o cristianismo alvoreceu sobre o mundo, a civilização romana se encontrava na mais infamante situação de toda a sua história. O que o historiador Cornélio Tácito (nascido em Roma, no ano 54 d. C.) conta no seu livro Annais, e as revelações que Suetônio (outro historiador romano, nascido em 120 d.C.) faz nas Vidas dos Doze Césares nos dão condições de entender porque os romanos odiavam tanto os cristãos. Um lírio sem mácula nascido no grande pântano da degradação moral do mundo dominado pelos Césares, assim era a Igreja Primitiva em meio a uma civilização moralmente bárbara e depravada.
O mundo começou a aprender com o cristianismo que a atenção exagerada que se costuma dar ao corpo, fazendo dele um verdadeiro objeto de culto, é prejudicial à salvação da alma. A indecência no vestir e a extravagância dos trajes foram desaprovadas pela Igreja: “... que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso”, 1 Tm 2.9.
Mas a luta entre a simplicidade no vestir e as ostentações do luxo sempre existiu. Muitos, por uma simples questão de vaidade, ou com a intenção de afrontar a modéstia dos que se vestem de maneira recatada, ou ainda por não darem o mínimo valor aos preceitos bíblicos, passaram para a história como campeões do desperdício e da ostentação. O Duque de Buckingham, da Inglaterra, tinha 1625 trajes, e a Imperatriz Isabel, da Rússia, chegou a possuir 8700 vestidos.
A ROUPA COMO PROTEÇÃO
O frio e o calor tiveram grande importância na origem das vestes humanas. As pessoas que viviam em regiões frias sentiam necessidade de se proteger contra uma temperatura desconfortavelmente baixa, e passaram a usar roupas de pele de animais.
Da mesma forma, aquelas que moravam em regiões quentes, apesar de usarem pouca roupa, sentiram necessidade de se proteger melhor contra a incidência dos raios solares sobre a pele, pois muitas vezes, após um dia de trabalho com o corpo diretamente exposto ao sol, sentiam-se extremamente fatigadas. Por quê?
A ciência explica: as energias que adquirimos através dos alimentos são gastas durante nosso esforço físico, mental e através da pele. Esse desgaste aumenta sensivelmente se o nosso corpo estiver desprotegido, exposto ao sol ou ao frio. O mais eficiente modo de diminuirmos a perda de calor é nos vestindo convenientemente.
A necessidade de procurarmos proteção no uso de roupas fez com que elas adquirissem grande importância em nossas reações psicológicas. A roupa passou a ser, em alguns casos, uma garantia contra o perigo e a falta de amor. Estudiosos do comportamento humano observaram que, em noites frias, quando saímos de nossa casa aquecida e entramos em uma rua deserta, nossa tendência é procurarmos nos acomodar melhor dentro do nosso agasalho, não só como defesa contra o frio, mas como se inconscientemente buscássemos segurança nas roupas.
Se considerarmos que a nossa tendência é simbolizar o amor e a segurança pelo calor, e a falta de amor e a insegurança pelo frio, tornar-se-á fácil entendermos porque certas pessoas, ao pressentirem o perigo, procuram, inconscientemente, sentir-se seguras em suas vestes.
A couraça e a armadura representaram, em tempos passados, a forma mais desenvolvida na exteriorização desse sentimento, e só perderam sua utilidade com a invenção das armas de fogo. Dizem ainda alguns psicólogos (fazendo a analogia dos sentimentos humanos e a temperatura) que a causa de algumas pessoas serem mais sensíveis ao frio do que outras é a carência de amor em suas vidas.
A ROUPA COMO ORNAMENTAÇÃO
A tendência de o ser humano fazer uso da roupa como meio de ornamentar seu corpo é posterior à outra tendência observada nos povos primitivos: o uso do próprio corpo como forma de ornamentação. Tatuagem, pintura, mutilação e deformação estão entre as antigas práticas dos povos bárbaros.
As partes do corpo sujeitas à deformação são os lábios, as orelhas, o nariz, a cabeça, os pés e a cintura. As chinesas têm hoje os pés pequenos graças à firme pressão que aplicam no calcanhar das meninas. Deformação mais perigosa ainda foi praticada no século passado, quando esteve em moda a “cintura de vespa”. A cintura delgada das mulheres era produzida por cintos ou laços apertados – prática que trouxe seriíssimas complicações de saúde, por modificar a conformação anatômica do corpo e deslocar os órgãos internos de suas posições naturais.
Os mais recentes estudos do comportamento humano revelam que a humanidade tem procurado se afastar dos artifícios grosseiros, e tem procurado aceitar o corpo humano como ele é, sem recorrer à práticas que o deformam ou prejudicam. Mas isto não impediu que no século XIX as mulheres fizessem uso de crina de cavalo como enchimento de suas saias – as famosas crinolinas. As crinas, que eram avolumadas ao redor das pernas, foram depois substituídas pelas armações de arame, que aumentaram mais ainda o formato ‘balão’ dos vestidos e saias.
Para uma geração que supervalorizou as poses vaidosas – mesmo que isso implicasse em uma situação ridícula – semelhante moda foi considerada muito digna. A crinolina passou a ser vista como o símbolo da dominação feminina. Contam que muitos homens tiveram sérias dificuldades em achar lugar para ficar de pé em uma sala ocupada por várias mulheres assim vestidas!
Alguém da época observou ironicamente que um cavalheiro, para conduzir uma dama escada abaixo, se quisesse seguir rigorosamente as regras de etiqueta – que lhe ensinava a se posicionar sempre ao lado da mulher, nunca à frente ou atrás – teria que ceder os degraus da escada só para ela, e descer pelo corrimão!
Na época em que essas exorbitantes saias eram olhadas como símbolos de dignidade, as mulheres passaram a usar também caldas, ou seja: o prolongamento da parte de trás dos vestidos e saias. A mais longa calda de que se tem notícia foi usada pela rainha Catarina II, da Rússia, na cerimônia de sua coroação. Tinha 70 metros de comprimento, e foram necessários 50 empregados para carregá-la.
Mas não têm sido só as mulheres as únicas a procurarem nas roupas valores éticos, sociais ou de outra natureza. Os homens também associam às vestimentas profundos significados psicológicos. Por exemplo: os paletós com enchimento nos ombros e os uniformes militares com dragonas, botões de metal e medalhas estão associados à força muscular, ao poder e à autoridade. Tais vestimentas satisfazem ao orgulho e à masculinidade dos homens.
Portanto, o exibicionismo também faz parte da natureza masculina. E mesmo que um homem não seja em si mesmo um exibicionista, sempre haverá nele uma certa tendência de projetar o exibicionismo nas esposa e nos filhos. Esta afirmação tem seu fundamento no fato de que dificilmente um homem não se sentirá orgulhoso ao aparecer em uma reunião social ao lado de uma mulher bela e bem vestida, coisa que não ocorre se ela estiver mal vestida.
AS ROUPAS REVELAM NOSSO CARÁTER
Muitos psicólogos afirmam que, além dos outros meios de que a psicologia lança mão para estudar o ser humano, é possível conhecermos melhor as pessoas considerando as roupas que elas vestem, Assim, a humanidade está classificada em tipos (um tipo muitas vezes é a combinação de dois ou três outros tipos diferentes), segundo a atitude de cada pessoa em relação às roupas.
O tipo rebelde é considerado o mais primitivo de todos eles. As pessoas que fazem parte desse grupo sentem-se constrangidas e aprisionadas dentro das roupas. Preferem que elas sejam leves e finas, e muitas dessas pessoas prefeririam não usar nenhuma. Desejam ficar em constante contato com o ar e o sol. A maioria dessas pessoas veste-se descuidadamente, e são poucas as que se importam com o asseio corporal.
Como já ficou comprovado em vários estudos da psicologia moderna, as roupas também representam o agradável refúgio e a proteção que as mães dispensam aos seus filhos. Ora, o tipo rebelde é geralmente representado por adolescentes inconformados, hippies e as pessoas que estão sempre em posição contrária às normas da sociedade. Elas acham que já são bastante “adultas” para poderem viver longe da influência materna e de sua proteção agasalhadora.
O segundo tipo é conhecido como o não emocional. Os não emocionais não escolhem suas roupas; usam-nas, e não procuram encontrar nelas nada além de sua simples utilidade. Geralmente são asseados, mas não se preocupam muito com a aparência ou ornamentação. Vestem-se o mais rápido e eficientemente possível, pois – segundo costumam dizer – “há assuntos muito mais importantes a tratar do que simples roupas”.
Quem pertence ao terceiro grupo – tipo sublimado – tem um excessivo interesse pelas roupas, gasta muita energia e tempo para se vestir, e pouco se importa se tiver de pagar quantias vultosas por elas, pois o que lhe interessa é que suas roupas satisfaçam sua vaidade. Essas pessoas passam a vida inteira sempre lutando parta se vestir melhor que as outras.
O psicólogo J. C. Flugel disse que tal rivalidade é muito comum entre as mulheres: “Uma mulher pode ferir seriamente a outra, até o ponto de transformá-la em sua permanente inimiga, por estar melhor vestida ou mais na moda, em alguma ocasião especial. Enquanto a individualidade for permitida, as mulheres lutarão entre si para usar trajes mais recentes e mais caros.”
É em semelhantes atitudes de rivalidad ultravaidosa e em modas que propagam a imoralidade que estão os dois maiores erros na maneira de se vestir. Porém, nada impede que o verdadeiro cristão se vista honesta e decentemente. Homens e mulheres podem (e devem) servir a Cristo em todos os aspectos de sua vida, inclusive na maneira de escolherem e usarem suas roupas.
Os jovens devem levar em conta que a Palavra de Deus sempre orienta que escolhamos o melhor para nós. E o melhor para o crente é tudo aquilo que não o torna semelhante ao mundo, pois o mundo jaz no maligno. Somos servos de Deus, e ele nos colocou como mordomos do nosso tempo, dos nossos bens materiais e do nosso corpo. E nosso corpo é templo do Espírito Santo. Portanto, devemos honrá-lo com decência e pureza.
Jefferson Magno Costa
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