PR. JEFFERSON MAGNO COSTA
Terrível palavra é um “Não!”. Em latim,
ela expressa de maneira mais clara o quanto é terrível: Non. Não tem direito
nem avesso. Por qualquer lado que a tomemos, sempre soa e diz o mesmo. Caso a
leiamos do princípio para o fim ou do fim para o princípio, sempre é non
(não).
Quando a vara de Moisés se transformou
naquela serpente tão feroz que ele fugiu dela para que ela não o picasse (Ex
4.3), o Senhor disse a Moisés que a pegasse pela cauda; ele a pegou, e
imediatamente a serpente perdeu a sua ferocidade, a sua peçonha, a sua figura
de serpente, e voltou a ser vara (v. 4).
O non (não) não é assim. Porque por
qualquer parte que você o considere, sempre é serpente, sempre morde, sempre
fere, sempre leva o veneno consigo. Mata a esperança, que é o último remédio
que a Natureza deixou para todos os males.
Não há muralha que suporte o impacto do seu efeito, nem artifícios que o abrandem, nem agrados posteriores que o adocem. Quando o "não" é proferido, não haverá mais palavras que o adocem. Por mais que tentemos colocar açúcar sobre
ele para disfarçá-lo, um “não” sempre amarga; por mais que o ornamentemos, o "não" sempre
soará aos ouvidos de quem o ouviu como algo feio; por mais que o douremos, o "não" sempre será de ferro. O "não" sempre soará desarmonioso, áspero e duro.
Uma antiga tradução hebraica de 1Rs 2.20,
que registra um pedido que Bate-Seba fez ao seu filho e rei Salomão em
nome de Adonias, e é habitualmente traduzida como: “...Só uma pequena petição te faço; não ma rejeites", nessa antiga tradução aparece como: “não envergonhes a minha face”. E por que no original hebraico se diz que é equivalente a “envergonhar a face” quando se nega o que se pede?
É porque dizer "não" a quem pede é como dar-lhe uma bofetada com a língua. Tão dura, tão
áspera, tão injuriosa é a palavra “não”. Para a necessidade, dura; para a
honra, afrontosa; para o mérito não reconhecido, uma injustiça.
O SENHOR PREFERIU PARAR DE
NEGOCIAR COM ABRAÃO A TER DE DIZER-LHE UM “NÃO”
E se um “não” é tão duro para quem o ouve,
não é menos duro para quem o diz. E se o "não" vier dos lábios de alguém que tem um coração generoso, ou ocupa uma posição de liderança sobre quem o ouviu, esse "não" torna-se muito mais duro.
Dos três anjos que apareceram a Abraão no
vale de Manre, os dois que representavam ministros partiram para executar o
castigo nas cidades, a começar por Sodoma, e o terceiro ou primeiro que
representava Deus, ou era o próprio Jesus, ficou na companhia de Abraão, e conversou com ele..
O fato de estar só com Deus ser o momento ideal para negociar com Ele, levou o patriarca a encorajar-se e a pedir a revogação
da sentença de destruição de Sodoma e Gomorra. Abraão argumentou assim com Deus (Gn 18.24-33):
“Se, porventura, houver cinquenta justos na cidade, destruí-los-ás também e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então, disse o SENHOR: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei todo o lugar por amor deles. E respondeu Abraão, dizendo: Eis que, agora, me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. Se, porventura, faltarem de cinquenta justos cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco. E continuou ainda a falar-lhe e disse: Se, porventura, acharem ali quarenta? E disse: Não o farei, por amor dos quarenta. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu ainda falar: se, porventura, se acharem ali trinta? E disse: Não o farei se achar ali trinta. E disse: Eis que, agora, me atrevi a falar ao Senhor: se, porventura, se acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei, por amor dos vinte. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor que ainda só mais esta vez falo: se, porventura, se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei, por amor dos dez. E foi-se o SENHOR, quando acabou de falar a Abraão; e Abraão tornou ao seu lugar”.
Admirável e espantosa despedida! O Senhor não aguardou que
Abraão insistisse mais ou rogasse por menos justos. A submissão e a santa
reverência com que Abraão insistia e passava de um pedido a outro foram admiráveis, e ilustram o quanto nós devemos perseverar nas nossas orações. A perseverança e insistência de Abraão fez com que negociação de Abraão com o nosso Senhor Jesus Cristo fez com que o Filho de Deus se detivesse um pouco mais na companhia de seu servo, para ouvi-lo.
Ora, se o Senhor tinha esperado Abraão apresentar seus argumentos e perguntas, não só com
paciência e até com um certo contentamento, desde a primeira instância (a primeira pergunta de Abrão com o número dos possíveis justos), até à sexta (também apresentando o possível número de justos),
por que o Senhor Jesus não esperou a sétima intercessão de Abraão, e se retirou tão súbita e inesperadamente? Para
não ser forçado a dizer um “não”.
A visita do Senhor ao seu amigo Abraão (Tiago 2.23) tinha como propósito avisá-lo que Sodoma e Gomorra seriam destruídas. Mas a destruição estava alicerçada em dois decretos: um condicional, outro absoluto. O
condicional era que se nas cidades houvesse até 10 justos, o castigo seria suspenso. O absoluto era que se existissem menos de 10, o castigo seria executado e as cidades destruídas pelo fogo.
E como o Senhor, que diante das seis
petições de Abraão, tão benevolamente tinha sempre dito sim, sabia que se Abraão
continuasse e insistisse com a sétima pergunta, Ele seria forçado a dizer "não", para não ter
que pronunciar essa duríssima palavra, desapareceu.
Naquelas cidades não havia mais que
quatro pessoas que poderiam ser consideradas justas, compostas de Ló, a esposa
e as duas filhas, sua família. Portanto, menos de dez pessoas.
E para que o Senhor não tivesse o dissabor
de pronunciar essa palavra tão dura a Abraão, seu amigo, nem o patriarca o desgosto de a ouvir, o Senhor desapareceu. Tudo para não ter de que
pronunciar diante do pai dos futuros israelitas, a palavra “Não!”.
PR. JEFFERSON MAGNO COSTA
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