Jefferson Magno Costa
O FILHO DE DEUS ENTRE OS HOMENS
Marcos Barbosa MG (1915- )
Das tuas mãos tombaram como orvalho
nossas almas que os corpos iluminam,
e um encontro de amor somente humano
logo se abriu em dimensões divinas.
Pois não quiseste apenas vislumbrada
de longe a tua glória imarcessível,
mas derramaste em nós os teus segredos,
as ânforas sem fim dos teus mistérios.
Não bastaram, porém, aos teus anseios,
palavras proferidas por profetas
de lábio impuro e língua vacilante.
Baixou do Céu teu Verbo onipotente,
e começou, então, num seio virgem,
a comovida história de um Deus homem!
A CAMINHO DE BELÉM
Renato Travassos MG (1897-1960)
A noite se tornara mais agreste,
Quando Maria se sentiu cansada:
Quem lhe daria, santo Deus, pousada
E, contra o frio, confortante veste?
Soprava mais intenso o vento leste,
E mais difícil se fazia a estrada:
Para salvá-los na infeliz jornada,
Só mesmo alguma inspiração celeste.
Teve-a, afinal, José naquele instante:
Um pouso, à espera havia, não distante.
Embora fosse imunda estrebaria...
Uns passos mais, e eles penetram nela,
Que, então, ficou mais iluminada,
E ali, pouco depois, Jesus nascia!
SEGUNDA DOR
Alphonsus de Guimaraens MG (1870-1921)
Eram pastores rudes e pastoras
Que o sol do Oriente em beijos enrubesce,
E transforma em visões encantadoras
Na suavidade da alma que amanhece:
Eram bandos de velhos, e de louras
Crianças gentis, as mãos postas em prece,
Frontes humildes, almas sonhadoras,
Por onde a bênção do Senhor floresce:
Era a sublime adoração do povo,
À luz daquele celestial Presepe,
Diante do leito de um menino novo:
Diante do leito em que Ele adormecia,
Hoje de flores, amanhã de crepe,
Berço de Deus, Santo Sepulcro um dia.
NATAL
Luiz Edmundo RJ (1878-1961)
Cale-se o mundo, há um luar de místicos palores;
O vento lembra uma harpa a tocar em surdina.
Brilha pela extensão do céu da Palestina,
Num prenúncio feliz, a estrela dos pastores.
A vida acorda e vem do cálice das flores
À alma do homem que sente um fulgor que o fascina.
A ovelha bale, o boi muge, o pastor se inclina,
Há um bálsamo por tudo a amenizar as dores.
Jesus nasceu: a fé e os corações ampara.
Desce às almas buscando os íntimos refolhos,
Como os raios do sol numa lagoa clara.
Maria, porque vê Jesus, pequeno e langue,
Põe um riso feliz na doçura dos olhos,
Que hão de chorar, depois, lágrimas de sangue.
NATAL E CALVÁRIO
Flávio de Paula BA (1900-1967)
Belém. Nasceu Jesus. Estranha claridade
Circunda a noite em meio, a abóbada infinita.
Era a bênção do céu, era a visão bendita
Da aliança de Deus, por sobre a humanidade.
Era a paz, era o amor, era a fraternidade,
A mensagem - de luz por estrelas escrita...
Esperança - a sorrir para a criatura aflita,
Fanal - feito perdão, na treva da maldade...
Em verdade, porém, humanizado lírio
Entreabriu-se, aromal, para o horto do martírio,
Em chagas transmudando as pétalas de luz...
Lírio, um dia, a pender sob o ódio tumultuário,
No holocausto do amor, perfumando o Calvário,
Abrindo-nos o Céu, aos braços de uma cruz!...
NO PRESÉPIO
Gustavo Teixeira SP (1881-1937)
Em Belém de Judá, na meia escuridade
Da noite que vai alta, em pobre manjedoura,
Exposta sobre palha à gélida umidade,
lirialmente sorri uma criança loura.
É o Menino Jesus. Estranha claridade
Toda a gruta ilumina e os seus cabelos doura.
Maria o beija, e José, com humildade,
Para adorá-lo, curva a fronte cismadora.
Jerusalém exulta! É nascido o Messias!
Rondas de anjos, tangendo as liras nas alturas,
Fazem na terra ouvir celestes melodias!
Eleva-se de tudo um hino de vitória
Ao que veio trazer ás suas criaturas
A Escada de Jacó que leva à Eterna Glória!
O MESSIAS
Jônathas Braga PE(1908-1978)
Da raiz de Jessé subiu a vara
Que havia de dar sombra ao mundo inteiro,
E desfraldar o lábaro altaneiro
Da verdade que o mundo rejeitara.
Em igualdade numa vida rara,
O lobo andará junto do cordeiro
E, em fraternal convívio verdadeiro,
A ursa e a vaca estarão na mesma seara.
Pois o renovo que subiu da terra
Todo o poder nas suas mãos encerra
E há de mudar as coisas de uma vez.
Porque ele há de ser grande entre os maiores,
Sendo o Senhor de todos os senhores,
E entre os reis do universo, o Rei dos reis.
NASCIMENTO
Heli Menegale MG(1903-1969)
Os humildes zagais sobre a montanha
Dormem. Na calma noite constelada,
A lua de alva luz a terra banha.
Nem um rumor, nem um cicio, nada.
O armento que de dia os acompanha,
Manso, repousa à espera da alvorada.
Mas, a uma luz, a uma harmonia estranha,
Ergue-se a pobre gente alvoroçada.
São anjos, são arcanjos clarinando,
São serafins e querubins cantando,
Cercados de divina claridade,
Horda que aos pegureiros anuncia
Ter, na simpleza de uma estrebaria,
Nascido o Redentor da Humanidade!
JESUS
Anderson Braga Horta MG(1934- )
Noite clara em Belém. Canta em surdina
o luar no firmamento constelado.
Natal – noite de luz, noite divina.
Cristo – um lírio na treva do pecado.
Brilha agora, no céu da Palestina,
meigo, intenso clarão abençoado:
do espaço, a estrela aos simples ilumina
o berço do Senhor recém-chegado.
Os reis magos e os cândidos pastores
dão-lhe incenso, ouro e mirra, hinos e flores...
e o Menino, alegrando-se, sorria...
José fitava o céu, todo ventura.
E as estrelas, chorando de ternura,
cintilavam nos olhos de Maria.
AO NASCIMENTO DE CRISTO
Manuel Botelho de Oliveira BA(1636 – 1711)
Nasce o Verbo em Belém, pobre, humilhado,
Sendo supremo rei de toda a Terra,
E no corpo pequeno e breve encerra
Do seu divino ser, o imenso estado.
Naquela idade se prepara armado
Contra o inferno imortal que almas encerra;
E ao soberbo Lusbel movendo guerra
Por humildade o vê mais alentado.
Os demônios cruéis todos se espantam;
Chora e treme de frio o Verbo eterno;
Os anjos com voz doce nos encantam.
De sorte que o menino e Deus superno
Chora, porém de gosto os anjos cantam;
Treme, porém de medo treme o inferno.
NATAL
Olavo Bilac RJ(1865 – 1918)
No ermo agreste, da noite e do presepe, um hino
De esperança pressaga enchia o céu, com o vento...
As árvores: “Serás o sol e o orvalho!” E o armento:
“Terás a glória!” E o luar: “Vencerás o destino!”
E o pão: “Darás o pão da terra e o pão divino!”
E a água: “Trarás alívio ao mártir e ao sedento!”
E a palha: “Dobrarás a cerviz do opulento!”
E o teto: “Elevarás do opróbrio o pequenino!”
E os reis: “Rei, no teu reino, entrarás entre Palmas!”
E os pastores: “Pastor, chamarás os eleitos!”
E a estrela: “Brilharás, como Deus, sobre as almas!”
Muda e humilde, porém, Maria, como escrava,
Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos:
Sendo pobre, temia; e, sendo mãe, chorava.
JESUS ENTRE AS CRIANÇAS
Antônio Tomás (1868–1941)
Amo-Te, ó Cristo, ao ver as Madalenas
humildes, curvas aos teus pés, chorosas;
louvo-te ao ver as vagas procelosas
te obedecerem, calmas e serenas.
Eu admiro-te, pasmo, quando ordenas
às legiões satânicas, raivosas;
das turbas que a ti correm pressurosas,
eu te bendigo, consolando as penas.
Venero-te fazendo tantas curas,
e arrebatando a presa às sepulturas
com simples gesto destas mãos divinas.
Enfim te adoro ao ver-te agasalhando,
Sobre os joelhos, o formoso bando
destas cabeças louras, pequeninas!
Jefferson Magno Costa
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