DO FUTURO GRANDE REFORMADOR
Jefferson Magno Costa
Savonarola era humilde, obediente e sincero. O tempo que lhe sobrava, após as várias ocupações, empregava-o no estudo, na oração e na contemplação da sublimidade do amor de Deus. Ao acordar pela manhã, elevava o seu coração em súplicas, ofertando ao Senhor as primícias do dia, e pedindo-lhe que estivesse sempre com ele.
Os superiores do convento passaram a ver naquele rapaz um futuro grande homem da Igreja. Porém jamais imaginaram que ele entraria em luta com o próprio Papa no intuito de reformar a Igreja. Sua inteligência e sobretudo seu fervor religioso levaram esses homens a não medirem esforços para completar sua formação intelectual e religiosa.
O moço tinha sempre o coração cheio de fé, a alma livre das paixões humanas, e o pensamento continuamente ocupado com o amor de Deus. "Senhor, não reine em minha alma outro além de ti!" - pedia ele em suas orações. O lugar onde se prostrava horas a fio em oração ficava frequentemente molhado de suas lágrimas.
Seu admirável progresso nos estudos valeu-lhe a nomeação de professor de Filosofia, função que exerceu até a data de sua transferência para o convento de Ferrara.
Ao chegar ali, dentro dos silenciosos muros do mosteiro de sua cidade natal, entregou-se com mais assiduidade ao jejum, à oração e ao estudo da Palavra de Deus, pois desejava alcançar o que sempre fora a mais ardente aspiração de sua mocidade: tornar-se um inflamado pregador, um arauto do Céu a anunciar, face à impiedade do povo, que se não hovesse arrependimento, o dia do castigo do Senhor estava próximo.
Porém, suas primeiras tentativas de pregar em Ferrara resultaram em fracasso. Não acostumado a ouvir pregações que denunciassem e reprovassem abertamente os seus pecados, o povo de Ferrara não deu a menor atenção às palavras daquele moço que se propunha a ser "o chicote do Senhor". Jerônimo foi obrigado a dedicar-se inteiramente à instrução dos noviciados, repetindo para si mesmo as palavras de Jesus:
"Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa" (Mateus 13.57).
Todavia, os sete anos que passara no convento de Bolonha e as pregações que fizera ali haviam confirmado que Deus o usaria nos púlpitos das maiores catedrais da Itália, e seus ataques corajosos contra a corrupção do povo e da Igreja Romana preparariam em toda a Europa o caminho para a futura Reforma Protestante.
A MUDANÇA PARA FLORENÇA E SEU ÊXITO COMO PREGADOR
Insatisfeito com a pequena repercussão que suas pregações haviam obtido entre os ouvintes que frequentavam a igreja do convento de Ferrara, Savonarola desejou ardentemente mudar-se para a mais destacada cidade do Renascimento: Florença. Ali foi muito bem recebido pelos religiosos do Convento de São Marcos.
Naquela época, Florença cultuava a beleza da pintura, da escultura, da poesia e da oratória. Os oradores discursavam preocupados em tornar a frase pomposa, rica e elegantemente floreada.
Além do mais, para se triunfar no púlpito ou na tribuna, era necessário possuir boa estatura física, além de bela aparência, e fazer uso de atitudes elegantes. Savonarola era a antítese de tudo isto: alto, magro, nariz grande, lábios grossos, boca imensa, atitudes desgraciosas e enérgicas.
Porém, estas desvantagens físicas não impediram que ele se tornasse o maior pregador de sua época. O intenso brilho dos seus olhos azuis impressionava a todos os que o contemplavam. Parecia que ele estava sempre a querer olhar dentro das almas, ou a contemplar os longos rumos ocultos, os largos itinerários dos corações.
Savonarola começou a pregar em Florença seguindo um estilo diametralmente oposto ao dos oradores da época, despertando assim a curiosidade de muitos, inicialmente para a sua maneira de usar da palavra, depois para a significação do que dizia.
Rejeitando as burilações retóricas, numa linguagem espontânea e enérgica, pregava diante de uma assistência cada vez mais admirada do seu modo direto de ir ao assunto. Impressionava a todos o fervor de suas palavras.
Através das pregações, Savonarola foi conquistando a cidade de Florença. No tempo em que os rijos ventos do pecado sopravam sobre as vidas conturbadas e escuras dos florentinos, sua voz fez com que a Palavra de Deus brilhasse, cada vez mais clara e resplandescente, nos corações.
Oskar von Wertheimer observou que "suas pregações produziam um efeito indescritível, acontecendo frequentemente aos que as copiavam declararem, à margem dos manuscritos, haver-lhes o entusiasmo ou as lágrimas impedido de continuarem a escrever".
Jefferson magno Costa
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